Em um dia tedioso e igual a todos os anteriores, Rolli saia do refeitório depois do almoço, ele já se sentia mais forte e mais saudável de quando tinha chegado ao Orfanato.
Ele estava pensando nisso quando se deparou com Alice parada no corredor diante do humanoide que Rolli tinha devolvido a vassoura no outro dia.
- Quais são as últimas notícias?
- A chuva ácida começou e todos estão isolados dentro de casa, há uma grande possibilidade que outra tentativa de agricultura fracasse. - respondeu ele com voz metálica.
- O que está fazendo?
Alice olhou de relance para Rolli não demonstrando nenhuma surpresa ao vê-lo.
- É a primeira vez que vejo um deles responder algo assim, nunca nos contam nada - Alice fitou profundamente a máquina - Está se sentindo diferente?
- O que é sentir?
Alice revirou os olhos.
- Você me deixou doida que nem você! - ela acusou Rolli.
- É só você voltar para o modo vegetativo e esperar os dezoito anos quando vão nos jogar para fora e vamos morrer na rua.
Os olhos do robô brilharam um pouco mais e ele olhou de uma criança para outra.
- Morrer? Não podemos deixar, o protocolo diz proteger e cuidar de todos que vivem aqui.
Alice e Rolli se entreolharam por um instante.
- Mas é o que acontece, não tem mais empregos, só é rico quem nasce rico e só eles sobrevivem no mundo lá fora. - Alice explicou.
- Isso vai contra o protocolo.
- Não existe protocolo lá fora, amigo, só não matam crianças porque não pega bem..
O robô repentinamente deixou sua vassoura encostada na parede, parecendo perplexo.
- Foram as pessoas de fora que fizeram o protocolo, porque fariam isso se vai deixá-los sem auxílio quando saírem daqui?
As crianças ficaram paralisadas e instintivamente andaram para perto uma da outra até seus ombros se encostarem.
- Ele fez uma pergunta... - Alice cochichou - uma pergunta que precisa de um pensamento...
- Não devia ter falado com ele... - Rolli cochichou de volta.
Enquanto isso o robô ficou estático, encarando os dois.
- A culpa é sua Rolli!
- Pergunta não esclarecida. - o robô disse fazendo os dois pularem de susto - Retornando para o modo tarefa.
O robô voltou a pegar a vassoura e começou a varrer o chão.
As crianças ficaram um tempo paradas temendo que mais alguma coisa estranha ocorresse.
Por fim Rolli quebrou o silêncio.
- Devíamos marcar ele, para sabermos que devemos ficar espertos quando ele estiver perto.
- Marcar com o que ? - eles cochichavam.
- Vi uma garotinha na ala dos bebês que desenhou um sorriso no rosto de um deles com uma canetinha.
- Não temos canetinha Rolli.
Ambos ficaram pensativos, observando o robô limpando o chão.
- Podemos risca-lo. - sugeriu Alice.
- Eles são blindados para não serem atravessados por balas, acha que dá para riscar um metal desse?
Alice deu de ombros, tirou um pequeno prego do bolso e se aproximou hesitante do humanoide, ele nem se importou quando ela começou a esfregar a ponta do prego no braço dele, quando ela se afastou tinha formado um X com vários riscos sobrepostos.
- Acho que ninguém liga se a lataria está bonita na guerra. - ela comentou.
Eles começaram a se afastar, caminhando calmamente.
- Porque você tem um prego?
- Sei lá, nunca se sabe... Não confio em ninguém aqui e você me deixou mais paranóica.
- Mas você viu, tem alguma coisa estranha acontecendo.
- Mesmo que estiver, o que importa? Ninguém liga para esse lugar, simplesmente nos largaram aqui.
- Só não quero ser morto por um robô.
- Acha que eles podem falhar de novo? Como na guerra?
- Espero que não.
Eles ficaram em silêncio e acabaram indo cada um para sua próxima aula, mas Rolli já não conseguia se concentrar tanto assim, apenas ficava encarando o olhos dos robôs que eram professores, tentando ver o que se passava dentro deles.
Como de costume desde os últimos dias sempre passava pelo vidro da ala dos mais doentes, ele e Safira passava o tempo que podiam conversando e ela também acabou desconfiada quando Rolli lhe contou sobre os robôs.
"O que podemos fazer? Estamos presos aqui"
Rolli sabia que Safira estava ainda mais presa do que ele.
"Só... ficarmos atentos, acho que já é alguma coisa"
"Já vi que algumas crianças aqui, sumiram, mas disseram que elas melhoraram o suficiente para sair"
Rolli se sentiu muito incomodado com aquela notícia.
"Para onde são levados?"
"Ala leste".
"Consegue investigar?"
"Portas automáticas, abrem apenas para eles".
"Estranho, nunca vi ninguém novo que veio dessa ala".
"Está me deixando com medo".
Rolli mediu suas palavras, talvez fosse realmente louco e estava assustando os outros sem motivo nenhum, afinal deveria haver um sistema rígido de segurando dentro de todas as máquinas, principalmente se elas estavam cuidando de crianças.
"Esqueça isso, é só coisa da minha cabeça".
"Tenho que ir, nos vemos amanhã?"
"Com certeza"
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Coração de ferro
Ciencia FicciónRolli é um menino de apenas doze anos que nasceu em uma época posterior a quinta guerra mundial, sem familia ou qualquer ser humano adulto por perto, Rolli é obrigado a amadurecer muito cedo, após ser transferido do seu antigo orfanato, ele começa s...