Capítulo 2 A vassoura

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Era manhã e Rolli estava no banheiro compartilhado, mas àquela hora não havia mais ninguém além dele no cômodo, ele acabou de escovar os dentes e começou a jogar água fria no rosto para afastar qualquer resquício de sono, em seguida fechou a torneira e se olhou no espelho.

Os cabelos castanhos encaracolados teimavam em ficar bagunçados, mas não havia ninguém para impressionar, os olhos castanhos pareciam afundados no rosto, manchas escuras estavam em volta, mas Rolli sabia que não era por falta de dormir, se perguntou se o robô poderia mentir sobre o seu nível de contaminação e desnutrição.

Passou algum tempo ali, mas acabou afastando quaisquer pensamentos relacionados a sua aparência e saiu do banheiro.

Tomou um rápido café da manhã que já era uma refeição programada pelo sistema, na sua bandeja tinha sido acrescentado um copinho com algumas pílulas, Rolli obediente, comeu tudo que lhe servido e saiu para o corredor.

Sua pulseira acendeu o visor e mostrou uma lista com várias aulas, algumas eram identificadas como opcionais, na qual poderia escolher fazer.Rolli decidiu em pensar nas opcionais mais tarde e identificou qual seria a primeira obrigatória, agradeceu ao notar que seria dentro de meia hora, assim não ficaria muito tempo sem ter nada para fazer. O garoto estava prestes a virar um corredor quando ouviu vozes e parou na esquina e espiou o que acontecia.

Um robô que limpava o chão tinha sido encurralado por três garotos, eram pelo menos dois a três anos mais velhos que Rolli, a vassoura do humanoide estava no chão e ele estava paralisado contra a parede.

- Quantas pessoas já matou? - um dos garotos perguntou.

Rolli sabia que o robô não podia usar força contra as crianças, então ele ficaria ali até que fosse liberado.

- Não há nada em meu sistema que possa esclarecer essa pergunta.

- Aposto que já matou centenas de pessoas e outros robôs ? Como você, matou quantos?

- Soube que alguns robôs deram defeito na guerra e matou qualquer um que estivesse na frente, aliado ou não. - emendou outro garoto.- Não há nenhum registro sobre guerra.

- O programa que bloqueia os dados da guerra deve ser muito bom, não se pergunta porque tem uma área na sua cabeça que não pode acessar.

- Não compreendo seu questionamento.

- Deve ser por que ele matou muita gente e agora limpa o chão, grande soldado de guerra.O garoto deu leves tapas na cabeça do robô e ele não se moveu nenhum milímetro.

- Todas as tarefas são importantes, o orfanato deve estar impecavel para seus residentes.

- Você não se importa com a gente, está só seguindo uma droga de protocolo, seu assassino.

Um dos garotos deu um empurrão no robô e Rolli sentiu que o robô se deixou ser empurrado, pois bateu contra a parede com um baque surdo.

Quando os meninos se afastaram, Rolli se aproximou e pegou a vassoura, devolvendo ao robô, a máquina se recompôs e pegou a vassoura de Rolli.

Por uns minutos eles ficaram se encarando, Rolli encarou os visores escuros e arredondados, uma fraca luz era emitida de dentro, o humanoide era tão alta que ele tinha que olhar totalmente para cima, Rolli pensou em perguntar por que ele tinha deixado que o tratassem daquela forma, mas teve certeza de que receberia uma resposta mecânica.

- Obrigado. - disse o robô repentinamente.

Rolli piscou algumas vezes, se indagou se significava alguma coisa, mas não, pensou, era coisa de sua cabeça, mas mesmo assim respondeu:

- De nada.

Rolli seguiu o caminho que sua pulseira indicava para a próxima aula, o caminho era longo e notou que passava perto da ala de crianças mais doentes, definitivamente não era algo que queria ver, mas não tinha escolha.Um longo corredor divisava com a ala sul, Rolli caminhou rápido, mas havia um grande vidro no caminho, como uma janela que mostrava o outro lado, essa visão o fez andar muito devagar.

Do outro lado do vídro estava uma sala de descanso, uma menina o olhou e se aproximou, ela pareceu querer falar algo, mas não passava som então ela desistiu e fechou a boca.

Ela estava realmente esquelética, com pele branca quase cinza e fez com que Rolli se sentisse culpado por alguma vez reclamar do cabelo bagunçado, pois ela não tinha um fio sequer.

Os olhos verdes pareceram atravessa-lo, ela tocou o vidro forçando um tímido sorriso, mas ele não parou de andar, foi para sua aula e passou o dia todo pensando nela.

Coração de ferroOnde histórias criam vida. Descubra agora