Prólogo

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LONDRES, 1991

Dumbledore havia feito questão de ir até aquele orfanato. Poderia estar tomando a decisão mais perigosa naquele momento, e sabia que muitos não fariam. Ainda assim, não achava justo tirar o que era de direito daquela garota, assim como também achava injusto jogar a responsabilidade nas costas de qualquer outro professor.

O cômodo era quase igual ao que estava quando viu Tom Riddle pela primeira vez. Não havia ironia maior do que ela estar ali, também. Temia o que mais essa ironia poderia significar.

Ela, porém, parecia bem diferente do pai. Seus olhos castanhos, pequenos, estavam atentos em sua direção, com um medo que a garota não parecia se esforçar para esconder. Havia tão pouco do pai nela que surpreendeu o diretor de Hogwarts: seus cabelos eram claros, lisos, e sua postura era muito mais defensiva.

— Como vai, Katrina? — perguntou, estendendo a mão.

A garota hesitou, mas o cumprimentou. A curiosidade e o medo se misturavam em seu olhar.

— Quer que eu traga aqui? — ela questionou em um fio de voz. Dumbledore franziu o cenho, confuso, e então Katrina apontou para a cadeira no canto do quarto. — Quer que eu traga pra você, senhor?

Dumbledore sorriu, surpreso com a gentileza.

— Não precisa, mas agradeço.

Antes que ele próprio fosse puxar a cadeira, Katrina sorriu de volta, tímida. O diretor se sentia um pouco mais seguro quando voltou e se sentou de frente a ela.

— Sou o Professor Dumbledore.

— Prazer... — Katrina respondeu, parecendo não saber o que dizer. — Katrina Peverell... Mas acho que já sabe.

— Já, de fato. Sou Diretor em Hogwarts, e vim lhe oferecer uma vaga para estudar lá, se quiser.

Katrina franziu o cenho.

— Uma escola?

— Isso.

— O senhor chamou mais alguém?

— Não, não chamei...

Katrina suspirou ao ouvir a resposta, e então abraçou os próprios joelhos, abaixando a cabeça. Demorou alguns segundos para que dissesse mais alguma coisa.

— Eles dizem que eu sou louca... — começou. — É isso? Você vai me levar pra um hospício?! — e então, para a surpresa de Dumbledore, desatou a falar. — Eu não sou! Eu sou igual a todos os outros! Juro que sou! Me deixe ficar!

— Se acalme, menina...

Katrina o olhou, parecendo preocupada com a possibilidade de ir para um hospício. Enquanto isso, Dumbledore não poderia deixar de notar que, em meio a semelhanças entre pai e filha, as diferenças se destacavam ainda mais.

— Hogwarts é uma escola para alunos com talentos... Especiais. Uma escola de magia.

A garota arregalou os olhos, e suas mãos soltaram seus joelhos, surpresa com o que estava ouvindo.

— Magia? — repetiu. — Tipo...

Parou de falar, parecendo preocupada, mas Dumbledore balançou a mão para que ela continuasse.

— Tipo quebrar coisas? — perguntou. — Uma vez, Eloise me ameaçou com uma pedra... E ela quebrou antes de encostar em mim.

Dumbledore ergueu as sobrancelhas, mas um ligeiro sorriso apareceu em seu rosto.

— Exatamente como isso. — respondeu. — O que mais já conseguiu fazer?

Também estava perguntando para saber com o que iria lidar durante os próximos sete anos. Sem saber disso, Katrina deu de ombros.

— Às vezes movo objetos... Consegui fazer uma poça de água não me molhar quando pisei em cima... — contou. — Ah, e uma vez a gente foi no zoológico por causa da escola e eu falei com uma cobra... Ela é legal, mas me disse pra morder quem me enchesse o saco...

Katrina deu uma risadinha, como se a ideia fosse absurda, e embora preocupado, Dumbledore a acompanhou.

— É normal falar com cobras, não é? — perguntou. — Isso me levaria pra um hospício se não for...

— Não é muito comum, mas alguns bruxos conseguem. — Dumbledore revelou, e então respirou fundo. — O que me lembra... Que preciso lhe contar alguns detalhes.

— Sobre a escola?

— Sobre sua família.

Katrina arregalou os olhos. Até então, não sabia detalhe algum sobre sua família. Pensou que eles estavam mortos... Era melhor pensar que a deixaram ali propositalmente.

Naquele dia, descobriu que estava certa, em partes. Sua mãe estava morta, seu pai... Não sabia o que pensar a respeito enquanto escutava a história de Lorde Voldemort.

— Ele... Tentou matar um bebê? — perguntou, incrédula. Dumbledore assentiu.

Katrina já havia visto muitos bebês no orfanato, e achou cada um deles fofo. Não poderia acreditar que seu pai...

— Mas ele sobreviveu, como já lhe contei.

Assentiu. Era bom que estivesse vivo...

— Como ele está?

— Bem, Harry está bem. — contou. — Tem a sua idade, e irá iniciar os estudos em Hogwarts esse ano.

Katrina arregalou os olhos. Iria conhecer o garoto... O garoto que seu pai tentou matar quando ele tinha apenas um ano...

— Ele sabe? — perguntou. — Sobre... Sobre mim?

Dumbledore suspirou mais uma vez.

— Imagino que não... Mas as outras pessoas sim. Logo Harry saberá, também.

A garota abaixou os olhos, encarando o cobertor nos pés da cama. Não queria que soubessem. Não sabia nem mesmo se queria continuar sabendo.

Mas também não queria viver sem conhecer Hogwarts.

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