Uma Lição de Amor

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"O que são homens comparados a rochas e montanhas?"
Relembro essa frase do meu livro preferido enquanto observo a paisagem ao longo do caminho até meu novo local de trabalho.
Os livros me acompanham desde a infância. Apesar de termos uma vida simples, minha mãe sempre fez questão de que eu estudasse muito. Quando comecei a frequentar a escola e aprendi a ler e escrever, ensinei minha mãe em casa. Ela precisou  começar a trabalhar muito cedo para ajudar os pais e não teve oportunidade de ir à escola, por isso, fez todo o esforço possível para que a mim o ensino nunca faltasse.
Na casa onde ela trabalhava como faxineira, as vezes a patroa mandava colocar livros e revistas no lixo, minha mãe os levava para casa, colocava uma capa com papel colorido ou embalagem plástica, colava as folhas soltas e nós duas líamos conforme íamos aprendendo e evoluindo. Criamos nossa própria biblioteca e tínhamos muito orgulho dela.
Orgulho e Preconceito é entre eles o meu livro preferido, pois além da história ser romântica e atemporal, foi o primeiro livro novo que minha mãe comprou para mim. Ela juntou dinheiro durante meses e me deu ele de presente de aniversário. Elizabeth Bennet se tornou minha amiga e confidente. Eu admiro muito sua personalidade, tão avançada para a época. Uma mocinha cheia de vida e opiniões que até hoje serve de exemplo para todas as mulheres.

Um final de semana foi todo o tempo que eu tive para organizar a mudança. As coisas materiais, palpáveis, estão todas encaixotadas dentro do baú desse caminhão.
Mas aquilo que eu trago na mente e no coração, está uma bagunça completa, nada pode ser guardado ou calado e eu estou uma pilha de nervos por isso.

Até três dias atrás minha vida era tranquila e planejada. Já fazem dois anos que moro sozinha, em uma casinha de duas peças, nos fundos do pátio de uma senhora muito boa, nós duas aprendemos a cuidar e ajudar uma a outra e criamos uma amizade bonita.
Sou professora, desde criança sempre almejei essa profissão, minha mãe é minha maior inspiração para vivenciar esse ofício tão lindo com os meus pequenos na escola particular onde trabalho.
Na sexta-feira de manhã, fui chamada até a sala da diretora Eda, que também é uma amiga minha muito querida. Pensando em se tratar de algum novo projeto pedagógico que desenvolveríamos, levei um choque ao descobrir o real motivo da conversa.

E: Seher, você sabe que eu gosto muito de você, como pessoa e como profissional. Somos amigas, mas tem coisas que estão fora da minha alçada. Como diretora eu não tomo certas decisões sozinha, tenho que responder a alguém acima de mim, e nesse caso, ao dono da escola.

S: Eda, você está me assustando. Não dê mais voltas! Vá direto ao ponto! Eu serei demitida, é isso? Estou desempregada e você não pode fazer nada a respeito não é mesmo?

E: Não Seher... Pelo contrário, se você continuar como funcionária da escola, seu salário dobrará...

S: Mas então... Eu não entendo... Porque meu salário vai dobrar? Eda, isso não está me cheirando bem!

E: Como eu dizia... A escola pertence a família Kirimli. Quem comanda os negócios é Yaman Kirimli. Ontem ele me ligou pessoalmente para perguntar quem era a melhor professora do nosso quadro de funcionários, e sem pestanejar eu respondi que é você.

S: Muito obrigada, fico feliz e lisonjeada mas continuo sem compreender... Então o aumento de salário é um bônus por ser uma boa profissional? É isso?

E: É e não é... Após minha resposta, ele me informou, melhor, ele ordenou que você seja remanejada para outro lugar...

S: Não! Não Eda, por favor... Eu sou feliz aqui. As crianças e as colegas são minha família! Não me mande para outra escola por favor...

E: Eu tentei... Argumentei com ele, mas o senhor Yaman não é um homem fácil de dialogar... Ele foi firme e irredutível. Você pode aceitar, ir para esse novo lugar, ganhar mais, ou... Ser demitida.