três.

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A casa estava destruída.

Os móveis estavam jogados por toda a sala, a garota observava toda a cena em uma distância considerável, suas orbes tentavam identificar o que havia acontecido com o local para estar naquele insano estrago.

E as confirmações da mesma foram feitas após ver o pai da mesma jogado no sofá, latas de cervejas estavam jogadas ao redor dele, ele teve um surto.

- Boo. - chamou o cachorro, mas foi tarde demais, o mesmo já estava em cima do homem cheirando os resquícios de álcool que ele havia bebido.

Aos poucos o homem foi despertado, e sua nítida irritação fez com que Boo se assustasse e corresse em direção da desconhecida, em busca de proteção.

- Você destruiu a casa. - a voz da garota soou com desdém, tomando a atenção do homem para si. - A nossa casa. - Deu ênfase na segunda palavra dita.

Lentamente tomando consciência, o homem se sentou sobre o sofá, pequenos flashbacks surgiam na mente embriagada dele, acompanhado de uma pequena parcela de culpa e vergonha.

- Você está fedendo a maconha.

- E como você reconhece a porra do cheiro? - encarou a desconhecida com irritação.

- Como acha? - se olharam.

O homem suspirou pesadamente, jogando o corpo para trás chocando-se com o sofá.

- Sua mãe foi embora, não pode me julgar.

- E por algum acaso você a ama? - o questionamento que a garota fez, despertou uma feição de fúria do mesmo.

- é obvio que eu a amo, que porra de pergunta foi está? - aumentou o tom de voz.

- Então porque traía ela? - um silêncio ensurdecedor espalhou-se por toda a sala. - Quem ama não faz isso, não é? Por isso ela te deixou.

- Escuta, os dois erraram, certo?

- Isso não justifica.

- Você é a porra de uma pirralha, o que sabe?

- Eu fui a porra de uma pirralha que nasceu por conta da irresponsabilidade de dois imbecis. - a garota desferiu a frase aumentando o tom de voz. - Ou você se esqueceu que ainda é o meu pai?

- Laços sanguíneos não significam nada. - irritado pela pergunta, desferiu a frase sem pensar nas consequências que elas teriam futuramente. - Não espere consideração de parentes, não aprendeu isso?

- Sim, eu aprendi. - enxugou a pequena lágrima teimosa. - Vocês me mostraram isso perfeitamente. - os braços da mesma se cruzaram, em uma tentativa de afastamento corporal da situação. - Era só isso que eu precisava ouvir.

- Escuta. - falou antes que ela pudesse se retirar, ainda sem encará-las fixamente. - Algum dia, futuramente... arrume alguém que te ame verdadeiramente. Assim não irá se tornar como nós dois.

- Obrigada pelo conselho, mas eu não quero. - caminhou em passos largos, subindo as escadas da casa. A visão turva da garota observava todos os quadros antigos pendurados na parede, rachados e sujos pelo tempo, e sem mais significado afetivo, lembranças velhas e esquecidas pelo egoísmo e maldade do ser humano, daqueles que não suportam cuidar de mais uma pessoa e de admitirem os defeitos que possuem.

Essas lembranças nunca poderão ser salvas, nem mesmo coração igualmente rachado da garota, é tarde demais.

A pequena garotinha que observava os pais se amando verdadeiramente e os via como os maiores heróis de sua vida, não existia mais, eles se tornaram aos poucos seus mais temidos vilões.

Não falamos o seu nome. - Keisuke Baji Onde histórias criam vida. Descubra agora