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5500 anos após o fim da guerra, os seres da noite espalharam-se pelo mundo. Cada um deles tinha um líder principal para coordená-los nessa nova empreitada – A maioria divididos em matilhas e pequenos clãs – eram sempre integrados cada vez mais em suas novas vidas entre a humanidade, muitos deles preferiram esconder quem realmente eram, para se pouparem da atenção que receberiam e do perigo que viria junto a isso, já outros recusavam-se a omitir sua verdadeira natureza, agora viviam, trabalhavam, estudavam e até mesmo haviam casamentos entre as espécies, claro que tudo isso sobre a vigília dos caçadores, que sempre se encontravam altamente preparados para qualquer acontecimento.
Os caçadores assim como os filhos da lua, propagaram-se pelo mundo com a intenção de monitorar e proteger a todos de forma eficiente, foram construídas cortes, sedes e instalações em cada país e cidades do mundo, locais secretos, desconhecidos pelos humanos, cada uma dessas instalações monitoravam todo um continente, saber dos movimentos de cada clã e alcateia, observá-los, estudá-los, contê-los, e quando absolutamente necessário... matá-los.
Katherine Stevens, a grande líder de todos os caçadores existentes, descendente direta dos servos da noite no início da queda da Lua – descendência de sangue puro que originou caçadores nascidos e não forjados – estava sempre alerta para todo e qualquer sinal de ameaça vindo dos seres da noite, ou como também eram chamados, os "lua crescente", Katherine espalhou centenas de seus subordinados em seus domínios e cidades próximas, cada rua e beco, moradias e as próprias pessoas eram altamente vigiadas e protegidas, decorrente disso o nível de criminalidade era quase zero no condado de Silver Lake, na visão de muitos era algo bom, viver em um lugar sem precisar se preocupar com tal coisa era excelente, e em meio a isso ela acompanhava as atividades de diferentes partes do mundo.
Katherine não confiava nos seres da noite, mesmo que muitos deles tivessem abdicado de suas raízes tornando-se aliados com o passar dos anos. Tinha em mente que em algum momento não iriam mais se controlar perto dos humanos, achava que em algum momento os vampiros se alimentariam e os lobos atacariam, e ela estaria devidamente preparada para esse possível ocasião. As bruxas se encontrariam como sempre em uma posição de total desinteresse para com qualquer embate entre caçadores e luas crescentes, ajudariam somente quando quisessem, ordenadas por Morgana, a rainha das bruxas e braço direito de Kath, a mesma confiava a proteção da área do condado – de aproximadamente 2.540 km² somente a seus familiares – que assim como ela, muitos eram caçadores de elite, os mais bem treinados, poderosos e influentes dentre todos pertencentes a classe prata, um deles era seu filho, Brandon, que fazia rondas pela parte mais ao sul da região, diferente de todos Brandon era um menino recluso, tímido e educado, o total oposto do resto dos homens de sua família, que eram sempre brutamontes encrenqueiros de temperamento forte do tipo, "olhem para mim sou um caçador mortal treinado em 500 formas de acabar com sua vida".
Brandon herdou de sua mãe uma beleza inigualável. Possuía olhos verdes claros penetrantes, seus cabelos eram brancos devido a um feitiço feito durante uma lua cheia ao seu nascimento, que tornava sua beleza ainda mais avassaladora e misteriosa, seus lábios rubros e feição delicada o davam um aspecto angelical, e agora aos seus 17 anos essa característica não mudou, parece que o tempo o favorecia nesse sentido, porém, por ser segundo muitos de seus familiares "dócil demais" não se encaixava no perfil de caçador intimidador e bravo que se esperava, mas o menino sempre soube tirar proveito disso – quem em uma batalha iria imaginar que um garoto de aparência inofensiva seria capaz de lutar contra um batalhão inteiro de soldados e vencer todos em minutos sem derramar uma gota de suor?
Apesar de tudo, Brandon não gostava do título de caçador que carrega desde que nascera e muito menos da ideia de um dia ter que tirar vidas em seus deveres como um, tinha ciência de que sendo um caçador era obvio que em algum momento chegaria a esse ponto, teria que matar, e o pensamento sobre tal coisa o atormentava constantemente, sua mãe o criou para não temer nada, sempre enfrentar qualquer coisa sem demonstrar fraqueza ou remorso, foi ensinado a como matar, e se arrepende todos os dias por ter aprendido a fazer algo assim tão terrível.
O garoto sempre quis ter uma vida normal, ser alguém normal ou ao menos algo próximo a essa realidade, queria poder estudar em escolas e fazer faculdade como todos os outros jovens que observava de longe, somente pensando em um dia estar entre eles. Mas foi condicionado a estudar em casa, desejava poder fazer amigos sejam eles humanos ou luas crescentes, mas só tinha contato com sua própria família, que mais funcionava como uma prisão pessoal.
Seu sonho era sempre interrompido por seus deveres e principalmente por sua mãe, já que Katherine nunca permitiria algo assim. Somente visava torná-lo o próximo líder dos caçadores na sucessão de sua linhagem – mesmo que ele não gostasse da ideia – a superproteção foi um fato que ele também não pôde evitar, sequer o pensamento de sair da guarda de Katherine e aventurar-se fora dos limites de Silver Lake, era o suficiente para que ela o trancasse em seu quarto por semanas intermináveis, tendo somente sua janela como vista para o exterior, sempre ordenado a permanecer na área limite do condado sendo privado de viver novas experiências longe do seu círculo familiar, que indiretamente o limitava em diferentes aspectos.
Por muitas vezes tentou enfrentar ou questionar sua mãe, convencê-la de alguma forma, mas o medo de confrontá-la era maior. Kath era uma mulher incrivelmente bela, dona de um olhar incisivo de julgamento e repreensão que parecia fitar sua alma e ler de uma vez todos os seus pensamentos, sempre que tentava discutir com ela, era como se paralisasse, abria e fechava a boca mais nenhuma palavra chegava a ser pronunciada, sentia-se patético por não ter a capacidade de se impor as vontades de sua mãe, mas apesar de toda a catástrofe familiar que suportava diariamente, não existiam somente momentos ruins.
Brandon sempre ao voltar para sua casa visitava um famoso Café que havia no condado – O café da Vania – Suspiro de Chocolate – um local charmoso e muito frequentado pela população do condado, onde todos pareciam se conhecer.
Vania era uma mulher por volta dos seus 38 anos, olhos escuros e cabelos volumosos sempre usando uma fita para controlá-los, pois recusava-se a cortar de qualquer forma, era simpática e sorridente, dona de um carisma incomparável, Brandon de alguma maneira aprendeu a se abrir com ela, gostava de conversar com a mulher que sempre o acolhia com um sorriso sincero, atenciosa todas as vezes ao recebe-lo servia com o "especial de chantilly e raspas de chocolate" o preferido do garoto, Vania era amigável e muito carinhosa com o menino, o que o fazia se sentir confortável e seguro. Por um bom tempo os dois se tornaram muito próximos já que Vania o conhecia desde que tinha poucos anos de idade, ela tratava o menino como um filho e demonstrava o conhecer mais do que Katherine, que jamais iria perder tempo conversando com ele sobre assuntos como "ter uma bela coleção de vinis antigos, contendo músicas clássicas" – coisa que Vania amava, ou "tocar violino" – algo que Brandon aprendeu a fazer quando tinha 13 anos – Katherine esteve mais preocupada em transformá-lo em uma arma viva do que criá-lo como uma mãe criaria seu filho – mas como nada que é bom dura muito – o jovem só podia passar de 10 a 15 minutos conversando com a única pessoa que constantemente o lembrava que era amado.
Teria de voltar rápido para casa, pois caso se atrasasse muito seria castigado por Kath. Suas inúmeras regras controlavam cada minuto da vida do garoto, segundo ela pontualidade é característica de virtude – algo que presava muito – Brandon sempre preferiu esconder todo o ressentimento de sua vida, traumas que para ele não fazia sentido experimentar, pesadelos constantes que o impediam de dormir durante muito tempo, o sentimento de culpa por não fazer nada a respeito, não fazer nada sobre sua própria vida, mas hoje, especialmente hoje, era lua cheia e teria que apressar-se, não demorou muito a voltar para o caminho de volta a mansão sentindo o frio da noite que se aproximava em sua pele, a mesma noite que seria palco de um dos acontecimentos mais importantes para seu clã.
Chegando a seu destino, a grande mansão Stevens, não notou a presença de ninguém nos primeiros cômodos, sabia que deveriam todos estar reunidos nos fundos da casa, cercada por uma enorme floresta, Brandon então encaminhou-se de imediato a seu quarto, um local espaçoso e confortável, paredes em tonalidades variadas de cinza e branco, estantes suspensas que abrigavam muitos objetos decorativos, plantas e cadernos personalizados com anotações de cada experiência vivida durante suas caçadas e incontáveis livros, escolheu as melhores roupas para aquela especifica ocasião, que nas palavras de sua mãe, era um acontecimento muito aguardado por toda família.
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Lua Escarlate
ФэнтезиRomance sobrenatural, com lobos, vampiros, bruxas, caçadores, magia e muito mais