- O QUE VOCÊ FEZ? – gritou Brandon.
- Eu segui as regras antigas e estou cumprindo com a minha missão como caçadora líder, foi apenas uma chicotada então me poupe do drama, regras existem para serem seguidas e assim será feito, ouviu bem?
- Você sabe que essas regras se mostram ineficientes e arcaicas demais na atual situação, essa forma de castigo não era mais utilizada, mas claro, você sempre tem que ser tão adepta a diretrizes sem lógica, não é mesmo? – Brandon cerrou os punhos tentando controlar a raiva que faiscava dentro de si.
Eliaquim observava a cena compelido a defender o seu sobrinho caso Kath permitisse seu temperamento chamejar além do limite.
- Bom, antes que faça um discurso moralista para testar a minha pouca paciência, devo dizer que não estou interessada em saber se concorda ou não com meus métodos, eu sou a líder de todos os caçadores e tenho que manter uma imagem de autoridade, sou responsável por treiná-los e torná-los eficientes para mim, e se para isso tenho que levá-los ao limite até que possam vislumbrar a morte... que assim seja! – fúria queimava nos olhos de Kath, tão quente e abrasadora quanto a fogueira ao lado – Ah, e mais uma coisa querido, da próxima vez que questionar minha autoridade, serão as suas costas o alvo desse chicote, eu fui suficientemente clara? – Kath encarou Brandon e afinou seus olhos em uma expressão severa – Para o seu bem espero que sim!
Katherine deu as costas aos demais e deixou círculo da fogueira com o chicote sujo de sangue ainda em mãos, sendo seguida pelos outros, que apenas reagiam a situação tentando não demostrar comoção, mascarando tudo quando a frieza ameaçava ceder.
- Beth me ajude a levantá-lo, por favor! – Brandon colocou-se ao lado de seu primo, Beth se posicionou do outro lado para sustentar o corpo do menino, juntos com extremo cuidado levaram Chester ao salão da biblioteca crepuscular, o lugar favorito de Brandon em toda a casa.
O caminho até lá foi banhado em sangue. Reduzindo por completo a força que empregavam em Chester, os dois o colocaram em uma mesa de costas viradas para cima, o jovem caçador gritava até que a voz falhasse e lágrimas escorriam incessantes de seus olhos, a alta intolerância a dor e resistência de um caçador não poderia amenizar os danos causados por aquela arma. Por sorte Brandon sabia o que fazer naquela situação crítica. Usando seu material de primeiros socorros, ele começou a fazer suturas nas costas de Chester que apresentavam três cortes profundos dos quais desciam enormes quantidades de sangue, o liquido quente e viscoso sujou as mãos de Brandon, que costurava a carne dilacerada com destreza e precisão quase cirúrgicas, quando finalmente terminou de tomar os cuidados necessários com seu primo, notou que a perda de sangue o deixou fraco, mas isso seria tratado depois com mais cuidado, já que a situação estava sob controle, ele e Opereta o colocaram no enorme sofá do salão e depois de muito esforço conseguiram fazê-lo dormir, mas ainda se podiam ouvir gemidos de dor vindos dele aos menores movimentos que fizesse, nem mesmo a centelha foi capaz de proporcionar um fator de cura eficiente contra o ferimento.
- Beth você poderia ficar com ele? – Brandon tocou o ombro de sua prima, que o encarou com olhos sofridos – Apenas para garantir que ele ficará bem.
- Claro, não precisa nem pedir, ficarei de olho nele! – Beth prontamente aconchegou-se ao lado de Chester enquanto segurava suas mãos e o observava preocupada.
- Ele ficará bem tia Opereta, mas as marcas causarão sequelas em seu corpo por um bom tempo, entretanto ele vai se recuperar! – falou calmamente tentando manter seu tom de voz suave e controlado – mesmo que sua vontade fosse gritar e bater em si mesmo por saber que foi o principal culpado por aquilo.
Opereta abraçou fortemente seu sobrinho e como forma de agradecimento a ele por ter salvo a vida de seu filho, rapidamente encheu de beijos as bochechas de Brandon, que corou e riu com o raro gesto de carinho.
- Muito obrigada querido, você é uma benção da lua! – disse Opereta com um sorriso enorme em seus lábios.
Apesar de aparentar ser centrada e seria quase o tempo todo, com os grandes olhos azuis escuros, acentuados pelas sobrancelhas finas na feição delicada e ao mesmo tempo imponente, com seus cabelos sempre amarrados como forma de estabilidade, Opereta tinha um coração mole, era sensível por mais que não demonstrasse essa parte.
- Não foi nada, agora fique com Beth e Briany, elas vão precisar de ajuda para monitorar ele durante a noite!
Após certificar-se de que as suturas resistiriam a noite, e que o sangue havia estancado, Brandon apressadamente subiu para seu quarto, trancando a porta aliviado por finalmente aquele dia ter chegado ao fim, deixou as lágrimas que segurava caírem seguidas por seus sôfregos suspiros, entretanto em meio a toda aquela confusão não pôde falar com sua mãe sobre "o assunto", mas não se preocupou com esse fato, não estava nem um pouco afim de olhar e se quer discutir com sua mãe depois do que ela fez.
Katherine sempre foi assim, impiedosa e insensível, se perguntou como ela reagiria quando falasse tudo o que tinha para falar, provavelmente seria bem pior do que esperava, talvez acontecesse alguma desgraça, a imaginação de Brandon o levou a pensar nas inúmeras variáveis, pensar demais e principalmente sobre o seu futuro o deixava ansioso, pois apesar da enorme vontade de ser livre, não tinha certeza se algo assim seria possível para ele, Kath provavelmente o submeteria ao pior dos castigos e o prenderia em seu próprio quarto por um ano inteiro.
Brandon usou um travesseiro para sufocar um resmungo alto, tinha que parar de pensar demais ou sutaria de vez, então por fim decidiu tomar um banho demorado para retirar o sangue de seu corpo e finalmente dormir na tranquilidade de seu quarto, o seu refúgio pessoal, que parecia protegê-lo dos deveres de caçador – deveres esses que abominava ter que viver, antes de se deitar preparou a si mesmo para o que viria no dia seguinte, deliberou a possibilidade de finalmente conversar com sua mãe, estava decidido a seguir seus sonhos longe de tudo aquilo, agora se iria dar certo como gostaria só a Noite saberia.
Seria possível ele se desprender de tudo que o envolvia, tudo que o prendia, A incerteza consumia a esperança de poder viver a libertar de toda aquela infeliz realidade, somente em um sonho isso viria a ser real, muitas pessoas lutam para tornaram seus sonhos reais, certo?
Mas e se ele não fosse capaz de lutar pelos seus próprios sonhos com o mesmo afinco que lutava para reprimir a agonia de ser o que era, de viver o que vivia, e de fazer o que fazia?
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Lua Escarlate
FantasyRomance sobrenatural, com lobos, vampiros, bruxas, caçadores, magia e muito mais