Lua Escarlate

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Agora, em uma lua cheia finalmente aconteceria o prenunciado encontro entre a singela escuridão da noite. Decidiu que um banho rápido seria bom, secou o corpo e vestiu-se com as suas roupas de caçada. Uma jaqueta de couro e botas coturno pretas de alta resistência, calça e camiseta de tecido macio e elástico em um cinza escuro destacável, cores escuras são preferenciais quando trata-se de camuflagem, tornar-se praticamente invisível a noite, táticas de caçadores muito comuns para o momento. Mas não faziam muita diferença já que o seu cabelo branco não passava despercebido em momento algum, mesmo durante a noite no escuro absoluto, sentiu-se pronto e fitou um ponto na parede pensativo com o evento que estava prestes a começar, saindo de seu quarto deu de cara com Katherine, sua mãe que o aguardava na porta esboçando um sorriso diabolicamente astuto em seu rosto, levando-o a outro nível de nervosismo, nunca era um bom sinal quando Kath sorria daquele jeito, ela fazia questão de mostrar todos os dentes, tão brancos que chegavam a brilhar formando uma curvatura em seu lábios avermelhados.

- O-oi mãe! – disse Brandon nervosamente, seu corpo retesou-se de forma inconsciente pela surpresa.

- Oi filho, vejo que já está pronto. Ótimo assim não precisamos demorar tanto – Katherine falou com a voz perigosamente suave.

- A-aconteceu alguma coisa? – praguejou Brandon nervoso com a resposta que seria dada por sua mãe.

- Não nada, apenas que hoje será a iniciação de seus primos no ritual de sangue, sabe que é um dia importante não é mesmo, querido? – a pergunta veio com tranquilamente assombrosa, a postura fria e calma de Kath guardava algo tão sombrio e letal que só a noite poderia definir.

- Então foi por isso que chamou a todos nós de forma tão repentina? – questionou Brandon – sabemos a importância de um ritual assim, espero que ocorra bem! – flashes de memorias um tanto perturbadoras sobre aqueles rituais invadiram a mente do garoto, que tentou disfarçar a agonia de estar participando daquilo novamente.

- Sim! Afinal é um grande momento, tanto para eles quantos para suas tias, elas estão orgulhosas por seus filhos estarem entrando para o clã como definitivos caçadores de elite, porém, nem todos puderam vir, ou estavam longe demais para comparecerem ou tinham de resolver alguns "probleminhas" em outras cidades! – sussurrou de forma meio sugestiva que probleminhas realmente seriam esses a serem resolvidos, mas rapidamente retornou a sua postura mais friamente expressiva.

Problemas que exigem a atenção de caçadores, ainda mais de porte elite, são considerados imprevisíveis, lua crescentes eram o "probleminha" a ser resolvido, mas pensar na forma como isso seria feito fez Brandon estremecer.

- Momentos como esse me trazem boas memorias, ah eu lembro bem como foi sua iniciação, era obvio que você se sairia muito bem durante o ritual e conseguiu de fato cumpri-lo com facilidade tornando-se um verdadeiro caçador de elite, e isso apenas com 15 anos, obvio que você seria perfeito afinal foi treinado por mim! – o vislumbre daquelas memorias fez Kath vangloriar-se por ter feito de alguma forma parte daquela "vitória".

- Me lembro que quase fui morto... cinco vezes seguidas naquele ritual, mas mesmo assim consegui meu título de caçador de elite como desejava, naquele dia a senhora pareceu orgulhosa de mim apesar de tudo! – falou Brandon, tentando esconder o desconforto em relembrar aquele dia traumático em sua vida.

- Mas é claro que fiquei orgulhosa, foi uma conquista inestimável para todos nós, por mais que não tenha feito menos que sua obrigação como caçador, mas hoje, os papeis se invertem, hoje você fara com que o ritual seja um desafio de verdade a seus primos e não um desafio para você, bom, teremos essa conversa depois, agora temos que ir!

- Em falar nisso, hoje... eu preciso conversar com a senhora, ou em qualquer outra hora se hoje não for um momento muito oportuno, é sobre um assunto importante, para mim, mas é importante! – exclamou com nervosismo o corroendo por dentro, sua mãe o encarava com aquele olhar, e seu sorriso se desfez lentamente dando origem a uma face inexpressiva e "aterradora".

- Bom, creio que de fato seja importante já que você nunca havia parado para dizer algo do tipo, mas agora não é hora para isso! – respondeu curta e grossa fitando-o seriamente –Vamos, temos que nos preparar para iniciarmos o ritual, a noite nos espera! – exclamou Kath puramente orgulhosa.

Aquela noite poderia iniciar uma mudança drástica na vida de Brandon, que provavelmente teria um resultado inesperado, o futuro que queria para si mesmo era desigual e completamente a parte dos regulamentos premeditados por seus ancestrais, que somente visavam um caminho onde todos os jovens pertencentes aos clãs, teriam que juntar-se a aliança por meio do ritual de sangue sob a luz de uma lua cheia – acreditava-se ser o momento em que a própria emanava uma quantidade maior de magia, que auxiliava mais facilmente no desenvolvimento das habilidades de um caçador.

Essa noite seria o momento em que tomaria a decisão definitiva referente a sua vida, ao menos esperava que fosse assim. Estava confiante de que finalmente conversaria com sua mãe, não iria de maneira alguma deixá-la impedir seu sonho de viver a vida que sempre quis e pensou para si, por mais que temesse deixar tudo para trás e seguir em frente como pudesse, viver uma vida normal longe dos deveres de caçadores dos quais tanto repudiava, não desejava ser alguém como eles, queria ser algo... diferente. Mal sabia ele que mesmo acreditando ser um simples caçador dentre uma raça inteira de assassinos da noite, sua vida sempre foi construída e baseada por inúmeras regras, ensinamentos rigorosos e acima de tudo, segredos, segredos que ele mesmo desconhecia e não tinha a menor ideia do quanto sua vida de fato mudaria caso fossem revelados. Sua mãe a maior caçadora dentre todos era um exemplo disso, ela escondia um passado, passado esse que sempre tentou desvendar mas nunca chegou a conseguir. Tinha medo de pensar sobre tal coisa, pois sabia que se alguém tentava esconder algo tão bem assim, então tinha um bom motivo para que fizesse aquilo, verdades omitidas e seladas e tudo que se perguntava era quando teria uma vida normal, a resposta segundo Kath era que seria impossível, ainda mais para "algo" como ele.