Capítulo 07

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Sina Deinert pov's

Eu estava no hospital. Faltavam poucos minutos para eu poder ir embora e estava à toa, sem nenhuma cirurgia ou paciente à vista. Sentada à mesa, escutei batidas na porta. Um enfermeiro entrou, com uma expressão um tanto receosa.

— Licença, doutora — disse ele, com um olhar hesitante.

— Pode falar — respondi.

— Tem uma paciente que acabou de chegar. Não há médicos disponíveis e pediram para eu chamar a senhora.

— Claro, já vou.

— Ela está na sala doze — informou ele, antes de sair.

Levantei, coloquei o estetoscópio ao redor do pescoço e caminhei até a sala indicada. Ao abrir a porta, fui surpreendida ao ver quem era.

— Heyoon? — chamei, surpresa. Ela me encarou com olhos assustados.

Seu rosto estava banhado em lágrimas e uma faixa envolvia o braço que ela segurava com uma mão trêmula. Ela tentou conter o choro e secou as lágrimas rapidamente.

— O que aconteceu? — perguntei, aproximando-me.

— Uma garrafa quebrou no meu braço, mas parece que piorou — respondeu, tentando manter a voz estável. Peguei um apoio de braço, observada de perto por Heyoon, que parecia cada vez mais apreensiva. — Não foi hoje.

— Quando foi? Coloque o braço aqui — pedi.

— No sábado — respondeu. Arregalei os olhos.

— Hoje é segunda! — exclamei.

— Eu sei, mas achei que não fosse nada grave, então nem vim. Não sou fã de hospitais — confessou, suspirando.

— Dependendo do que aconteceu, pode ser grave — respondi, enquanto retirava a faixa. — Está doendo? — perguntei. Ela assentiu com a cabeça.

Assim que tirei a faixa, suspirei. Ela claramente não havia cuidado adequadamente do ferimento. Provavelmente, apenas lavou, aplicou algum remédio qualquer e enrolou a faixa. Isso só piorou a situação. Ao examinar o machucado, vi um pequeno pedaço de vidro ainda preso.

— Você deveria ter vindo antes — comentei, ouvindo outro suspiro dela. — Tem um caco de vidro aqui.

Heyoon ficou em silêncio, o olhar ainda assustado. Peguei uma pinça, algodão e álcool, colocando-os ao lado. Com cuidado, removi o vidro e coloquei-o sobre um pedaço de papel. Após certificar-me de que não havia mais nada, pressionei o ferimento com gaze e limpei o sangue que escorria. Passei um pouco de álcool no algodão e comecei a limpar devagar. Heyoon permanecia calada, de cabeça baixa.

— Não foi nada profundo, então não será necessário dar pontos. Mas quero que volte aqui em uma semana para verificarmos como está. Isso pode infeccionar se não cuidar bem — orientei.

— Eu venho — respondeu.

— Recomendo que não cubra o ferimento com pano ou faixa. Você usa moletom com frequência? — perguntei, e ela assentiu. — Deixe o machucado descoberto, o tecido do moletom já protege e ajuda na cicatrização. Só tome cuidado. Se notar algo estranho, venha ao hospital imediatamente, sem hesitar. Isso pode piorar.

— Tá bom.

— Posso te fazer uma pergunta? — perguntei, enquanto guardava os materiais. — Além dessa, claro — acrescentei, brincando. Ela riu baixinho.

— Pode, doutora — respondeu com um sorriso.

— O que aconteceu com a garrafa para ela parar no seu braço?

— Você é médica ou psicóloga? — retrucou ela.

— Sou médica, mas não burra — respondi, provocando uma risada dela.

— E curiosa — acrescentou.

— Preocupada, apenas.

— Você nem me conhece!

— Sei que seu nome é Heyoon, você tem dezessete anos, namora o tal Jordan Fisher e mora com ele.

— Uau, sabe tudo da minha vida — debochou, e eu ri junto.

— Seu namorado é praticamente amigo do meu irmão. Ele e meu pai sempre me arrastam para jantares da empresa, e sei que seu namorado vai acabar te levando também. Não será a primeira vez que nos veremos.

— Ok, Sina, você venceu. O que quer saber? — cedeu, sorrindo.

— O que aconteceu? — perguntei de novo. Ela suspirou.

— Foi ele, não foi?

— Foi. Ele estava bêbado.

— Claro, isso explica tudo — ironizei.

— Sua intenção é descobrir só para xingá-lo?

— Provavelmente. É ótimo xingar homens. Já tentou? — brinquei, e ela riu outra vez. — Me desculpe, mas fiquei preocupada desde aquele dia no restaurante... E desculpe de novo, mas não vou deixar você em paz. Não posso fazer nada se você não me deixar ajudar.

— Não quero que faça nada.

— Podemos ser amigas, Heyoon? Pelo menos isso. Eu não vou simplesmente me afastar agora que estou começando a entender o que é esse seu relacionamento.

— Sem xingar meu relacionamento.

— Ele é abusivo.

— Não, ele não é.

— Sim, ele é. Você que não enxerga. Amizade está de pé?

— Vou pensar no seu caso — respondeu ela, levantando-se. — Obrigada — disse, apontando para o braço antes de sair.

Balancei a cabeça em negativa e fui lavar as mãos. Tirei as luvas, joguei-as fora e lavei bem as mãos. Voltei à minha sala para arrumar minhas coisas e ir embora.

Quando cheguei em casa, subi direto para o meu quarto e fui tomar banho. Após me trocar, desci para a sala, onde meus pais e meu irmão estavam reunidos.

— Oi, filha. Como foi o trabalho? — perguntou Alex, como sempre.

— Tudo tranquilo, como de costume — respondi, sorrindo.

— Estávamos te esperando para o jantar, podemos começar? — disse Robert, e rimos enquanto todos concordavam.

Ele e Alex foram para a cozinha primeiro. Quando Noah se levantou, impedi sua saída.

— Quero saber mais sobre esse tal de Jordan.

— Não sei de nada sobre ele, maninha. Na empresa, ele parece ser o homem certinho e perfeito. Não dá para saber apenas observando de longe.

— Esse homem não me desce, Noah. Tem algo muito errado nessa história, e eu vou descobrir! — declarei, enquanto ele dava de ombros e seguia para a cozinha.

Suspirei e fui atrás deles. Tentei afastar esses pensamentos da minha mente e me concentrar na minha família. Não queria preocupar ninguém.

 Não queria preocupar ninguém

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Cicatrizes - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora