Sina Deinert pov's
Eu estava no hospital. Faltavam poucos minutos para eu poder ir embora e estava à toa, sem nenhuma cirurgia ou paciente à vista. Sentada à mesa, escutei batidas na porta. Um enfermeiro entrou, com uma expressão um tanto receosa.
— Licença, doutora — disse ele, com um olhar hesitante.
— Pode falar — respondi.
— Tem uma paciente que acabou de chegar. Não há médicos disponíveis e pediram para eu chamar a senhora.
— Claro, já vou.
— Ela está na sala doze — informou ele, antes de sair.
Levantei, coloquei o estetoscópio ao redor do pescoço e caminhei até a sala indicada. Ao abrir a porta, fui surpreendida ao ver quem era.
— Heyoon? — chamei, surpresa. Ela me encarou com olhos assustados.
Seu rosto estava banhado em lágrimas e uma faixa envolvia o braço que ela segurava com uma mão trêmula. Ela tentou conter o choro e secou as lágrimas rapidamente.
— O que aconteceu? — perguntei, aproximando-me.
— Uma garrafa quebrou no meu braço, mas parece que piorou — respondeu, tentando manter a voz estável. Peguei um apoio de braço, observada de perto por Heyoon, que parecia cada vez mais apreensiva. — Não foi hoje.
— Quando foi? Coloque o braço aqui — pedi.
— No sábado — respondeu. Arregalei os olhos.
— Hoje é segunda! — exclamei.
— Eu sei, mas achei que não fosse nada grave, então nem vim. Não sou fã de hospitais — confessou, suspirando.
— Dependendo do que aconteceu, pode ser grave — respondi, enquanto retirava a faixa. — Está doendo? — perguntei. Ela assentiu com a cabeça.
Assim que tirei a faixa, suspirei. Ela claramente não havia cuidado adequadamente do ferimento. Provavelmente, apenas lavou, aplicou algum remédio qualquer e enrolou a faixa. Isso só piorou a situação. Ao examinar o machucado, vi um pequeno pedaço de vidro ainda preso.
— Você deveria ter vindo antes — comentei, ouvindo outro suspiro dela. — Tem um caco de vidro aqui.
Heyoon ficou em silêncio, o olhar ainda assustado. Peguei uma pinça, algodão e álcool, colocando-os ao lado. Com cuidado, removi o vidro e coloquei-o sobre um pedaço de papel. Após certificar-me de que não havia mais nada, pressionei o ferimento com gaze e limpei o sangue que escorria. Passei um pouco de álcool no algodão e comecei a limpar devagar. Heyoon permanecia calada, de cabeça baixa.
— Não foi nada profundo, então não será necessário dar pontos. Mas quero que volte aqui em uma semana para verificarmos como está. Isso pode infeccionar se não cuidar bem — orientei.
— Eu venho — respondeu.
— Recomendo que não cubra o ferimento com pano ou faixa. Você usa moletom com frequência? — perguntei, e ela assentiu. — Deixe o machucado descoberto, o tecido do moletom já protege e ajuda na cicatrização. Só tome cuidado. Se notar algo estranho, venha ao hospital imediatamente, sem hesitar. Isso pode piorar.
— Tá bom.
— Posso te fazer uma pergunta? — perguntei, enquanto guardava os materiais. — Além dessa, claro — acrescentei, brincando. Ela riu baixinho.
— Pode, doutora — respondeu com um sorriso.
— O que aconteceu com a garrafa para ela parar no seu braço?
— Você é médica ou psicóloga? — retrucou ela.
— Sou médica, mas não burra — respondi, provocando uma risada dela.
— E curiosa — acrescentou.
— Preocupada, apenas.
— Você nem me conhece!
— Sei que seu nome é Heyoon, você tem dezessete anos, namora o tal Jordan Fisher e mora com ele.
— Uau, sabe tudo da minha vida — debochou, e eu ri junto.
— Seu namorado é praticamente amigo do meu irmão. Ele e meu pai sempre me arrastam para jantares da empresa, e sei que seu namorado vai acabar te levando também. Não será a primeira vez que nos veremos.
— Ok, Sina, você venceu. O que quer saber? — cedeu, sorrindo.
— O que aconteceu? — perguntei de novo. Ela suspirou.
— Foi ele, não foi?
— Foi. Ele estava bêbado.
— Claro, isso explica tudo — ironizei.
— Sua intenção é descobrir só para xingá-lo?
— Provavelmente. É ótimo xingar homens. Já tentou? — brinquei, e ela riu outra vez. — Me desculpe, mas fiquei preocupada desde aquele dia no restaurante... E desculpe de novo, mas não vou deixar você em paz. Não posso fazer nada se você não me deixar ajudar.
— Não quero que faça nada.
— Podemos ser amigas, Heyoon? Pelo menos isso. Eu não vou simplesmente me afastar agora que estou começando a entender o que é esse seu relacionamento.
— Sem xingar meu relacionamento.
— Ele é abusivo.
— Não, ele não é.
— Sim, ele é. Você que não enxerga. Amizade está de pé?
— Vou pensar no seu caso — respondeu ela, levantando-se. — Obrigada — disse, apontando para o braço antes de sair.
Balancei a cabeça em negativa e fui lavar as mãos. Tirei as luvas, joguei-as fora e lavei bem as mãos. Voltei à minha sala para arrumar minhas coisas e ir embora.
Quando cheguei em casa, subi direto para o meu quarto e fui tomar banho. Após me trocar, desci para a sala, onde meus pais e meu irmão estavam reunidos.
— Oi, filha. Como foi o trabalho? — perguntou Alex, como sempre.
— Tudo tranquilo, como de costume — respondi, sorrindo.
— Estávamos te esperando para o jantar, podemos começar? — disse Robert, e rimos enquanto todos concordavam.
Ele e Alex foram para a cozinha primeiro. Quando Noah se levantou, impedi sua saída.
— Quero saber mais sobre esse tal de Jordan.
— Não sei de nada sobre ele, maninha. Na empresa, ele parece ser o homem certinho e perfeito. Não dá para saber apenas observando de longe.
— Esse homem não me desce, Noah. Tem algo muito errado nessa história, e eu vou descobrir! — declarei, enquanto ele dava de ombros e seguia para a cozinha.
Suspirei e fui atrás deles. Tentei afastar esses pensamentos da minha mente e me concentrar na minha família. Não queria preocupar ninguém.
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Cicatrizes - Siyoon
FanfictionCONTÉM GATILHOS! 𝑵𝒂̃𝒐 𝒂𝒄𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒂𝒅𝒂𝒑𝒕𝒂𝒄̧𝒐̃𝒆𝒔. Heyoon Jeong, uma garota de 17 anos que sonha em ser advogada. A morena perdeu os pais em um acidente de avião quando tinha 14 anos e, desde então, ela mora com - na época - seu melhor am...