Capítulo 4 - Califórnia

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Combinei de me encontrar com Kevin no aeroporto, o que não adiantou nada já que ele insistiu em passar no meu apartamento para me buscar. Fizemos uma viagem tranquila, mas como nada nunca é tranquilo quando se trata de Anna-imã-de-desgraças Morsky, tivemos problemas com a hospedagem. Parece que um casal que logo se casaria alugou todo o quarto andar do prédio para hospedar os convidados do tal casamento, o que acabou ferrando um pouco nossos planos. Recebemos o reembolso e uma nova hospedagem em um dos hotéis filiados a este como cortesia pela grande mancada, porém, era madrugada e diferente de New York City aqui os taxistas não costumam vagar até tarde sem uma chamada específica de busca, e adivinhem? É isso mesmo, nós não tínhamos nenhum número de agência de táxis e também não nos lembramos de pedir informações no hotel, o que resultou numa Anallu muito frustrada batendo na porta da casa dos pais as quatro e meia da manhã.

O bairro era muito próximo o que nos rendeu apenas alguns poucos minutos andando até chegar ao lugar nostálgico que morei a vida inteira. As coisas sempre foram bem calmas por aqui, portanto dois estranhos tocando a campainha em plena madrugada era de se estranhar. Mas de se estranhar mesmo foi ser recebida por meu pai com um taco de basebol  apontado pra minha cara e para a cara do meu colega que se mantinha como um belo cavalheiro carregando as malas durante todo o caminho - agradeci aos céus por não ter trago mais que o necessário preenchendo somente uma mala e meia.

- Mas que droga é essa? Maggie venha aqui - Papai gritou pela minha mãe que apareceu na ponta da escada vestida com sua camisola rosa bebê - Nossa garota está aqui, anda logo.

- Oi mãe, oi papai - Acenei para os dois sem dar nenhum passo até que meu pai abaixasse o taco.

- O que aconteceu? Alguém morreu? Resolveu voltar pra casa neném? Oh, esse é seu namorado?  - Mamãe me olha, olha para Kev e depois para as malas e me bombardeou de perguntas. Até entendo essa preocupação, já faz um ano que não apareço e de repente chego com um bonitão, digo, com um rapaz na porta de casa e cheia de malas.

- Não, ninguém morreu e não vou voltar a morar com vocês, e esse definitivamente não é meu namorado mamãe. - Respondo de supetão devido ao constrangimento da situação, e olho para Kev que ainda não havia se pronunciando até o momento.

- Ah, Olá Sr. e Sra. Morsky, sou Kevin McCaney, muito prazer - Diz cumprimentando meu pai e estendendo a mão para minha mãe que também estende sua mão na direção dele que a beija como um grande galã, o que torna tudo uma grande cena ridícula.

- Oh, um McCaney cavalheiro, fico impressionado - Diz papai soltando seu leve veneno, e nem entramos ainda.

- Que falta de educação a minha, venham entrem - Mamãe nos convida dando passagem para que possamos entrar.

Tudo mudou desde quando saí, fizeram uma grande reforma mudando boa parte do designer  de toda a casa deixando apenas a escadaria onde sempre esteve. Tudo está mais moderno. Okay, meus pais não são velhos, fui gerada na juventude deles, mamãe tinha apenas quinze anos quando nasci. Era uma criança cuidando de outra. Papai tinha dezesseis quando a engravidou mas logo fez dezessete o que não muda muito o ramo da história, foi uma aventura e tanto pra essa juventude conturbada que tiveram. Acho que foi por isso que me apoiaram - financeiramente falando - com minha péssima fuga, pelo menos eu cheguei aos vinte e dois anos sem filhos e solteira. Porém, desempregada, dependente, traída e revoltada. Essa vida sempre ferra as pessoas de uma maneira ou de outra.

- Então minha filha, o que deu na sua cabeça de aparecer aqui em casa as cinco da manhã sem avisar que viria, com malas e um McCaney? - Meu pai que agora esta sentando no sofá de frente para mim e Kevin nos olha com desconfiança.

- Conhece os McCaney papai? - Pergunto intrigada com sua maneira estranha ao se referir ao sobrenome de Kevin, supostamente se referindo a sua família.

- Ora, mais é claro que os conheço - Agora parece que está puxando algo em sua memória e muda carranca para um sorriso amargo - Ed e eu já fomos amigos nos velhos tempos minha cara.

- Ed? - Pergunto tentando me recordar - Ah, claro, Ed é aquele seu melhor amigo do passado, agora me lembro.

- Fico impressionado com a mudança do meu pai Sr. Morsky, hoje em dia ele não é amigo nem dele mesmo - Kevin solta um sorriso amargo para nós todos.

- Deve ter mesmo mudado bastante depois de se juntar ao maluco do Edgar Cross - Como meu pai conhece toda essa gente?

- Pai, como você os conheceu? E como eu nunca soube?

- Isso fica para depois meu anjo, agora queremos saber o que faz aqui na nossa porta a essa hora da madrugada sem avisar que viria - Mamãe me interrompe. Já estava esquecendo que tinha uma longa história pra contar.

Depois de contar tudo o que aconteceu pedi para passar só essa noite por aqui e a tarde pegaríamos um táxi para o hotel, então eles me cederam meu antigo quarto que mais tarde percebi que ainda era o mesmo apesar das reformas da casa. Kevin ficaria no de hóspedes e se manteve mais calado durante o tempo que passei conversando com meus pais. Acho que quis me dar espaço para colocar todo o papo em dia. Meu pai não se pronunciou muito sobre como conheceu o pai de Kev e o tal do Edgar Cross, me deixando ainda mais curiosa.

Mais tarde Kevin e eu conversamos sobre a distância do hotel, era longe de onde resolveriamos os problemas qual viemos administrar aqui. Problema esse que não sei qual é e muito menos o motivo da minha ilustre presença sendo só uma mísera secretaria. Por fim, Kev disse que fecharíamos contrato com um cliente exigente e que meu querido chefe me mandou como "aprendiz" . A distância não era a nosso favor, o que implicou que ficássemos na casa dos meus pais durante todos os dias da maldita viagem.

Acabamos indo dormir as oito da manhã, deixando claro que não estaríamos disponíveis para nada antes das duas horas da tarde. Kevin parecia um pouco desconfortável quando chegamos mas agora meu pai já tinha lhe mostrado toda sua coleção em miniatura dos mais variados modelos de carros antigos até sua evolução atual deixando o gostoso, digo, atencioso McCaney encantado com tanta velharia taxada de antiguidade cara para enganar homens velhos e arrancar seu precioso dinheirinho. Tudo caminhava para o caos até agora, agradeci quando automaticamente desmaiei de sono e ninguém veio me incomodar depois disso.

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