Capítulo 5 - Alex?

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Quando acordei Kevin já estava de pé e bem alimentado. Tomei um café-barra-almoço rápido já que passava das três da tarde e precisava organizar uma papelada antes de começar a me arrumar para um jantar com os sócios que assinarão um contrato com a empresa esta noite num restaurante chique em algum lugar da cidade. Me refiro como 'a cidade' desde que parei de considera-la minha casa, mas sei que sempre será meu escape do mundo adulto já que sempre que venho parar na casa dos meus pais me sinto como uma criancinha totalmente dependente.

Tínhamos uma reserva as oito em um restaurante não muito longe, pegaríamos o carro do meu pai emprestado e Kevin é quem iria dirigi-lo, o que me fez acreditar que papai deve ter adorado esse rapaz já que eu que sou a filha jamais se quer toquei nas chaves desse carro. Kevin me explicou que ele seria o cabeça do jantar e eu a boa aparência, portanto deveria tratar de ficar deslumbrante já que bonita não seria o suficiente. Me atrevi a perguntar o porque e ele simplesmente disse que todos gostariam de ser vistos ao lado de uma bela dama e eu seria a sortuda da noite encarregada de bajular o velho e sua acompanhante que muito provavelmente era uma interesseira ou estava sendo muito bem paga.

Sr. Cross ligou para saber como estava indo a viagem e nós explicamos toda a merda que tinha acontecido e dissemos também que ficaríamos o resto da viagem na casa dos meus pais. Cross não se importou muito mas acabou nos liberando para voltar um dia antes da data combinada, o que me deixou aliviada só de imaginar voltar pro meu lindo apê e ficar aproveitando minha própria companhia e vários nadas a se fazer me esperando. Kev me deu uma aula breve de como eu deveria me comportar durante a droga do jantar, o que me deixou um pouco frustrada já que não entendo muito de engenharia, porém, conheço bastante sobre administração e negociações são, digamos que, o meu forte.

- Anna, seus pais são incríveis, não sei como resolveu sair tão cedo de casa - Pois é, papai e Kevin ficaram tão próximos que agora ele sabe sobre minha história de vida fracassada.

- É complicado, mas não me arrependo. Amadureci bastante nesse período adolescente rebelde sem causa - Digo - No início era só para afrontar meus pais, mas quando me apoiaram em tudo comecei a ganhar experiência nesse negócio que se chama de vida.

- Ou você foi muito burra, ou simplesmente genial Morsky - Ele diz abrindo um sorriso torto sem desgrudar os olhos de seu notebook a sua frente, não notando que eu o encarava de vez em quando.

- Prefiro acreditar na segunda opção - Volto meu olhar para a tela do computador a minha frente.

- O que aconteceu com aquela sua amiga mesmo? Sarah né? - Ele pergunta descontraído, me pegando de surpresa mas não me incomodando.

- É. Sarah Lange, os vizinhos da casa do lado esquerdo são os pais dela. Aquele velho que achou que você era espião é o Sr. Lange - Rio me lembrando da história que mamãe e ele me contaram mais cedo - Bom, numa breve explicação sem detalhes: ela ficou pra trás e cada uma seguiu seu caminho. Não mantivemos mais contato - Explico simplesmente da forma menos pessoal possível, se é que de alguma forma Kevin ter conhecido meus pais seja menos pessoal que isso. Não disse muito sobre o assunto já que ainda não contei a ninguém o motivo real de estar de volta.

Corey Lange, pai de Sarah achou que Kevin era um espião ou algo do tipo. Kev sempre está de terno, nunca o vejo sem isso exceto agora que estamos mais descontraídos e também pela chuva que ele levou quando vinha do supermercado com minha mãe, molhando seu terno francês caríssimo. Sr. Lange sempre teve surtos malucos, sempre achei que fosse implicância ou brincadeira mas no fim ele foi diagnosticado com uma doença mental que fazia ele surtar as vezes. Me sinto mal por ver meus pais só três vezes por ano, mas imagino que deve ser pior ainda para os Lange nunca verem Sarah. Antigamente ela costumava ligar por Skype para Marie, sua mãe, mas desde nossos dezenove anos esse costume virou raridade.

Deixei Kevin trabalhando e subi para o quarto na esperança de encontrar o vestido ideal para o jantar. Por sorte eu já esperava por esse tipo de ocasião então trouxe alguns na mala. Não que eu me ache uma garota irresistível ou algo assim, mas se a ocasião pede que eu seja então tenho que fazer valer. Dou graças aos deuses pela genética ter sido generosa comigo e eu ser um pouquinho bonitinha, então poucas coisas resolveriam o restante da situação, a cartada da noite seria a atitude.

Tomei um banho caprichado e vesti um vestido vermelho estilo sereia destacando minhas curvas discretas, um salto alto com detalhes rendados da mesma cor e uma pequena bolsa preta, a bolsa foi só pra me deixar ainda mais feminina e exuberante já que dentro só levo meu celular. Deixei meu cabelo cacheado solto e passei um pouco de maquiagem, um bom perfume e pronto, sete e meia em ponto saio do quarto e desço para a sala onde Kevin deveria estar me esperando, porém, ainda estava no quarto mas logo aparece na escada. Achei que não fosse possível mas ele estava ainda mais bonito, seu terno não era como os de trabalho, parecia mais formal mas ao mesmo tempo bem mais despojado e esportivo.

- Uau Morsky, fez um ótimo trabalho, dá uma voltinha - Me elogia enquanto se aproxima e pega em minha mão para que eu dê uma volta e ele possa me avaliar melhor.

- Gostaria de poder dizer o mesmo, McCaney - Tento soar indiferente mas até ele sabe que está vestido pra matar essa noite.

- Vai admite, eu to seduzindo até a mim mesmo, você não é imune aos meus encantos senhorita - Ele se gaba e ri, enquanto caminha em direção a porta - E então, o que a gente ta esperando? - Diz abrindo a porta e me dando passagem.

Kevin dirigiu por no máximo vinte minutos e logo estávamos na fachada do restaurante mais caro da região, o bom é que os acionistas que marcam esses jantares são quem bancam tudo. Meu salário do mês inteiro pagaria só meio copo de água nesse lugar.

- Temos uma reserva no nome de Sr. McCaney - Ele diz a recepcionista que nos leva a uma mesa numa espécie de varanda que dá uma belíssima visão da cidade.

- Fiquem a vontade, Sr. Ivens mandou que avisasse que o filho viria representa-lo em seu lugar devido a um imprevisto - A jovem atenciosa nos informa.

- Ótimo, obrigada - Kevin agradece e ela logo se retira - Maravilha, vai ser melhor do que eu imaginava Anna.

- Porquê? - Pergunto curiosa

- Sr. Ivens é simplesmente um chato e mesmo que esteja decidido a fechar o contrato desde o início sempre acaba mudando de idéia várias vezes e no fim acaba fechando. Parece que o dom do velho é fazer a gente envelhecer pelo menos uns dez anos quando estamos com ele - Essa explicação me fez rir. Não pelas palavras mas pelo modo que ele as disse, parece que ficamos mais próximos ultimamente.

- Entendo, então convencer o filho será mais fácil?

- Creio que sim, o filho é jovem, nem deve realmente saber do que se trata. Hoje só quero fechar esse contrato e voltar pra sua casa pra colocar o papo em dia com o seu pai - Me ajeito na cadeira e observo Kevin pronunciar cada palavra de um jeito engraçado. Raramente as pessoas gostam do meu pai, e mais raro ainda é o papai simpatizar com alguém como simpatizou com Kevin.

- Me superou rápido não é Anna? - Ouço atrás de mim uma voz masculina que não reconheço logo de cara.

- Alex? - Fico indignada quando me viro e encontro seus olhos.

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