Desejo

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      Vivo em uma pequena cidade onde ser mulher não é um papel fácil, onde os homens mandam, e elas obedecem, crescendo nesse ambiente de gerações de damas diminuídas eu fui criada para obedecer, e por anos isso foi o que eu fiz: dar orgulho para a minha família, viver para me casar, dar netos a minha mãe e ser a empregada de meu marido. Tinha certeza que esse seria meu futuro. Mas não, meu interior não é assim. Antes, me sentia culpada, por sentir desejos que outras não sentiam, eu tenho sede, sede de sucesso, de dinheiro, de sangue e vingança. Mas descubro que esse não é o meu segundo lado, mas sim o único, essa moça doce que anda pelas ruas vendendo pães, não existe, ela é apenas uma linda casca que uso para conviver em meu ambiente hostil. Sinceramente gostaria que meu interior coincidisse com a casca, algumas vezes chego a pensar que a ignorância e a inocência é o segredo da felicidade, mas, quando olho para as mulheres em minha volta, não vejo felicidade em seu rosto, então agradeço pelo meu "eu" real.
     Estava a pensar, até que dia iria continuar vestindo aquela casca, até o dia em que cometi meu primeiro ato, fruto do meu "eu" demoníaco.
      Era uma noite de sexta, a chuva caia serena, me arrumava para ir pegar o dinheiro dos pães que havia vendido a Dona Dulce, uma senhora de 60 anos, de bom coração, que sempre nos comprava pão, ela era sempre muito humilde, seus filhos deixaram-a  sozinha a um tempo, e por causa dos remédios para a memória extremamente caros , demorava um pouco para pagar os pães. Meu pai, padeiro Ruam, como sempre foi reconhecido, odiava vender a ela, ele é um homem sério e arrogante, chegando até a discutir com Dona Dulce pela demora no pagamento dos pães. Mas era ótimo quando se travava em fazer pães deliciosos, porém, não sabia administrar seu dinheiro e isso resultou em muitas dividas e a perda de nossa casa. Hoje vivemos de aluguel, papai faz seus pães e eu faço a entrega a domicilio, até que não é tão ruim entregar pães, acho melhor que ser a escrava doméstica de papai, como minha mãe, Dona Madalena, de 30 anos, cujo é 20 anos mais nova que Ruam, se casou aos 15, e sem perceber, se afundou junto a seu marido que hoje trata  a mesma como sua vassala.
      Saio de casa quase esquecendo de trancar a porta da frente, pois meus pais incrivelmente religiosos, se encontravam em uma missa qualquer, tentando se sentir bem com seus pecados e buscando o tão sonhado perdão divino. Ando um pouco com meu guarda chuva, ainda com raiva, pois havia molhado a barra de meu vestido que cuidava com tanto cuidado já que era o único que não estava rasgado ou costurado.

      Na metade do caminho escuto uns passos, achei estranho pois pensava que estava sozinha, senti um frio na barriga e fiquei aflita mas não deixei isso desviar a atenção do meu trajeto. Até que escutei um grito, aparentemente de uma criança, parecia desesperada, então rapidamente corro para a direção onde imaginei vir, deixando meu guarda chuva para trás com o desespero. cheguei à um beco com pouca iluminação, então forcei meus olhos um pouco, até que se acostumaram com a má iluminação. Só assim, notei uma sombra e cheguei mais perto, bem devagar, consegui ver um homem de porte baixo e magro, ele estava em cima de algo, que se movimentava de forma constantemente, era nítido as calças do suposto homem abaixada  na altura do joelho. Dos meus olhos escorreram uma lágrima, pois  já imaginava a cena e não acreditava no que via, sempre diziam que não era comum e nem aconteciam coisas assim em minha cidade, porem eu sempre soube, tudo que ocorre aqui e omitido e arquivado. Entretanto, nunca tinha me deparado com aquilo, era desesperador  ele estava ofegante e cansado, então sem pensar muito só agi, aproveitei e me aproximei devagar com um tijolo em mãos que havia pegado com cuidado para não ser ouvida pelo suposto estuprador, chegando mais perto o joguei com toda minha força, ele simplesmente caiu para frente, obviamente não morto, mas desmaiado, empurrei o tal e vi a garota, aparente de 6 anos de idade, estava pálida, tirei a fita que cobria sua boca, seus lábios estavam com um tom de roxo, seus olhos mortos, ela, quase chorando no desespero, vi que, a linda menina estava morta, me assustei, e senti medo mas apenas levei seu corpo para o canto e com as cordas que o canalha amarrara a pobre garota, amarrei ele com vários nós, pensei em levar ele para outro lugar, meu interior gritava por vingança.       

      Então sem pensar muito e com pânico o levei arrastado pelos braços para um terreno baldio que ficava bem próximo, ele era leve, nada que uma garota de 18 anos não podesse carregar, eu acreditava em minha força. No meio do trajeto ao terreno, fiquei com medo de avistar alguém, apesar de nunca passar uma alma penada naquele lugar além de Dona Dulce, mesmo assim tive medo, todos sabiam quem era eu, todos sabiam meu nome, conheciam minha família, eu já até imaginava meu nome em um jornal local, seria péssimo, um nome tão doce... Liz, estampado em uma manchete como parte de um crime. Deixei minha preocupação de lado de uma vez, achei mais cordas e o amarrei mais firme.
     Aguardei quase uma hora até ele despertar, minha mente estava a mil, eu sentia um desejo imensurável, fui procurando coisas como lâminas no terreno, já sabendo o que eu queria fazer, já sentindo o gosto de ver seus olhos sangrando, achei isso estranho e revitalizante. Encontrei um esqueiro, uma barra de ferro, pregos enferrujados, e cacos de vidro que cortavam como facas afiadas. O observei até seus olhos abrirem, confusos..
     E logo o indaguei, já com alguns pregos em mãos.
      - O que te levou a fazer o que fez ?.Perguntei séria e com tom elevado de voz.
      - Quem é você?. Perguntou ele de volta confuso.
Pensei um pouco, o local era escuro, ou ele não morava aqui ou não me reconheceu, então fiquei atrás dele para evitar contato visual. Senti a adrenalina em meu corpo e simplesmente o respondi:
      - Eu?, me chame de Sra. Demônia, o que te levou a fazer o que fez ? perguntei passando firme um dos enormes pregos em sua nuca, a vendo sangrar e ouvindo seu gemido agoniante.
      - O mesmo motivo que levou você a me trazer aqui. Desejo. Disse ele com um tom de voz que me irritou um pouco.
      - MAS ELA ERA APENAS UMA CRIANÇA, SEU FILHO DA PUTA!. Falei gritando e logo passando um dos cacos de vidro em seu rosto fortemente, meus olhos cheio de fúria e sujando meu vestido de sangue. Eu olhei rapidamente e recuei, olhei em minha mão e havia um corte enorme nela, não sentia a dor, apenar mais desejo de tortura.
       Resolvi olhar o rosto do infeliz, ele não gritava por socorro pois seria preso se descoberto pelas autoridades, mesmo assim tampei sua boca e peguei o resto dos meus objetos que particularmente gostei muito de ter encontrado.
      Olhei em seus olhos profundos e cheios de olheiras...
      - Meu desejo é diferente do seu, o meu não envolve pessoas inocentes, vermes como você merecem morrer com mil pregos enfiado em seu estômago.
     Comecei a enfiar os pregos um de cada vez, vendo seus olhos lacrimejarem me senti bem comigo mesma pela primeira vez, depois de exatos 5 pregos, peguei a barra de ferro e passei de leve em seu pênis olhando diretamente em seus olhos, bati com força, ele revirou de dor, já estava fraco, eu vi a dor que  sentia, ele viu o prazer que eu sentia, era uma bela troca de olhares, mas não por muito tempo, com os pregos fiz com que eles sangrassem.                  
      Jogado no chão já não tinha mais força pra nada, iria terminar de o matar mas arrastei ele mais um pouco e no fundo do terreno encontrei um poço, meus pais diziam que ele é muito fundo e perigoso, quando menor, ouvia histórias sobre ele e sentia medo, hoje sei que é apenas um poço muito fundo q irá me servir muito bem. Destampei aquele buraco e joguei o cafajeste lá, que já não tinha forças para lutar e apenas aceitou o fim.
     Me veio o sentimento de medo mais uma vez, agora por causa dos meus pais eles ja devem ter chegado em casa, como apareço lá toda ensanguentada?. Então, tive uma ideia, peguei o esqueiro que havia encontrado, e  como recordação o guardei, me senti vitoriosa, andei em direção a casa de Dona Dulce, reencontrei o corpo da pequena garota e dei um beijo em sua testa testa, sentei em seu lado e as lagrimas começaram a cair, isso foi um choque para mim, não tinha muito o que fazer, me levantei e terminei de chegar a casa de Dona Dulce, falei que havia caído, ela acreditou e ficou muito preocupada, me fez um chá e me mandou tomar um banho, vesti um vestido branco azulado que era de sua neta, peguei também um laço de fita e prendi parte dos meus cabelos castanhos. Peguei meu vestido ensanguentado e coloquei em uma sacola, limpei meus sapatinhos e fui agradecer Dona Dulce e conversar sobre o real motivo de minha vinda a ela. Depois de algumas xícaras de chá e a dívida paga, me preparei para ir para minha casa, perguntei a simples senhora se poderia me acompanhar até metade do caminho, queria eu que ela visse o corpo da criança e denunciasse.
chegando lá foi o que ocorreu, fingi ficar assutada ao me deparar com o corpo, Dulce entrou em desespero e chamou a polícia rapidamente. Com meu vestido de sangue na sacola, fingi estar com medo e falei para Dona Dulce que iria para minha casa.
     - Até mais Dona Dulce, não consigo ver essas coisas, vou para minha casa. Falei com medo das viaturas chegarem daqui uns minutos.
     - Claro minha filha, vá com Deus e tome cuidado, vou ficar esperando a ajuda chegar. disse ela com tom de voz trêmulo.
     Antes de entrar em casa fui nos fundos e usando o esqueiro, queimei o vestido, esperei apagar o fogo e enterrei as cinzas. Pego minha chave reserva que escondo em um jarro de flor sem meus pais saberem, e entro em casa silenciosamente, todos estão dormindo, entro no meu quarto e me deito, já eram 3 horas da manhã, 3 minutos depois simplesmente apago, estava exausta.

Sra. DemôniaOnde histórias criam vida. Descubra agora