• Capítulo 1 •

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Não estou pensando direito agora e isso está muito longe de ser algo bom.

Honestamente, foram bem poucas as vezes em que estive de fato raciocinando como de costume quando a situação era algo voltado para ela. Ao mesmo tempo, estar com a garota da peruca cor-de-rosa me colocava em situações que realmente faziam o meu coração bater mais depressa. Passei por coisas que me tiraram do meu eixo de calmaria, onde tudo — ou quase tudo — era administrado por mim, com o meu jeito controlador e egoísta de ser. Mas ela não estava comigo agora, e por isso os pensamentos desorganizados causavam um efeito péssimo.

Dirigi feito um maluco até chegar ao meu destino. Não estava tão tarde assim para tal desespero, mas queria acabar logo com essa situação.

Com o carro estacionado a poucos metros da entrada da boate Pulp Fiction, não posso deixar de notar os pontos brancos que se formam nos nós dos meus dedos que envolviam o volante com mais força do que o necessário. Isso também me levou a encarar por um momento o espaço vazio onde costumava haver uma aliança de casamento. Um casamento pelo qual lutei tanto, mas que agora não parecia haver muito mais sentido.

Não é hora para pensar nisso.

Saio do carro depois de um suspiro, indo na direção da boate.


Tirando a iluminação incômoda e a música alta, o ponto positivo é que Flávia estava no que me parecia ser a principal barra de pole dance. Ela não me viu, ao contrário de mim, que poderia vê-la dançar a noite inteira, mas tenho que admitir a tentação que seria observá-la sem poder tocar...

— Ei. Você não pode encostar em mim — Flávia reclama em seu lugar. Meus devaneios são interrompidos imediatamente.

Vejo que ela está tentando manter um cara que a observa afastado dela. Ele aparenta ser um pouco mais jovem do que eu, usando roupas escuras, mas isso pouco me importa. Quando o sujeito volta a esticar o braço para tocar em uma das botas de Flávia, saio de onde estou e vou na direção dele. Meu sangue já estava começando a ferver.

— Por que não posso? Não vou arrancar pedaço. Só quero fazer um pouco de carinho, bonequinha — o cara insiste.

E é a última coisa que ele diz antes de receber um soco meu bem no meio da cara.

— Guilherme? — Flávia chama por mim. Estava muito surpresa com a minha chegada nada triunfal, claro.

— Inferno — resmungo comigo mesmo. Começo a conferir o estado da minha mão e parece estar tudo bem. A última coisa que preciso é outro problema com isso.

Dou uma olhada rápida para o sujeito que recebeu o soco antes de olhar para Flávia. Ele poderia estar um tanto bêbado por ter caído tão depressa ou pelo jeito que tentava levantar com a ajuda de outro homem. Havia muita atenção em cima da gente, e eu realmente não queria continuar aquela briga. Estava torcendo para que Flávia me escutasse e aceitasse sair daqui comigo.

— Será que podemos conversar em outro lugar? — pergunto. Passo a mão pelo cabelo em sinal de nervosismo enquanto Flávia se aproxima um pouco de mim.

Ela está usando a peruca cor-de-rosa. Faz um tempo que passei a gostar desse detalhe nela.

— O doutor quer mesmo falar comigo? Achei que eu não tivesse mais nada a te oferecer — ela retruca. A expressão dela é bem séria, e noto quando seu queixo se eleva um pouco ao se dirigir a mim dessa vez.

— Eu fui um babaca, pra variar. Ainda tenho outras coisas a dizer, mas podemos sair daqui? Por favor — eu literalmente imploro.

Não gosto do cenário atual. Muita luz colorida, o som alto, as pessoas olhando, e o idiota quase pronto para revidar o soco que levou.

Flávia ainda me olha como se eu não merecesse nem mais uma palavra vinda dela, mas depois desvia o olhar e comprime os lábios por uns segundos antes de voltar a falar.

— Vou pegar a minha bolsa. É melhor esperar lá fora.

— Certo — respondo.

Apesar da minha resposta curta, sinto uma onda rápida de alívio percorrendo o meu corpo. Questão de segundos, mas o suficiente para me dar mais coragem de tentar reverter as últimas decepções que causei.


Fico aguardando do lado de fora da boate, como Flávia havia pedido. Massageio minha mão levemente dolorida momentos antes da minha espera acabar. Outro alívio. Eu poderia muito bem ser deixado de lado na calçada como punição.

— E agora? — Flávia cruza os braços, me olhando. Ela não tirou a peruca, mas vestiu um casaco preto razoavelmente comprido para o seu tamanho. Estava linda.

— Está com fome?

— Até que sim. — Ela dá de ombros. No fundo, sei que quer estar comigo.

— Aceita jantar comigo? — Minha voz sai bem mais calma dessa vez. Posso até notar um certo rubor nas bochechas da garota zangada ao me ouvir pedir assim.

— Pode ser. — Flávia quase revira os olhos de maneira dramática e descruza os braços. Tenho que segurar um sorriso meio bobo diante da cena e quando começamos a caminhar em direção ao meu carro.

Good For You (FlaGui shortfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora