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11 de abril de 1913.
21:03

No jantar eu estava em um terrível loop infinito, vendo toda minha vida a partir daqui, todos os intermináveis bailes e festas, iates e partidas de pólo, sempre com aquelas conversas chatas com pessoas bobas e fúteis que só ligam para dinheiro e status. Eu sentia como se estivesse na beira de um precipício...sem ninguém para me ouvir gritar ou me ajudar, ninguém que se importasse ou percebesse...eu estava sozinho em um mundo patético de peixinhos dourados.

Caminhei o mais rápido que podia sem levantar suspeitas em direção ao convés, solto minha gravata borboleta sentindo a falta de ar e meu coração se acelerar, não queria ser preso, não queria me sentir preso, não queria viver uma vida miserável como meus pais, não queria...viver.

Atravessei o convés e fui direto para a popa, com minha mente nublada apenas querendo acabar com tudo isso de uma vez, me pendurei na cerca ficando para o lado de fora, minhas pernas tremendo mas minhas mãos segurando firmemente na grade, eu sentia medo...medo de um relacionamento infeliz e de uma mísera vida como um homem casado chefe de uma família que eu nunca quis ter.

O vento era forte e frio, minhas mãos ao invés de escorregar estavam imóveis, fechei os olhos tentando não imaginar como ficaria Sherlock, sabia que estava sendo terrivelmente egoísta mas não podia mais continuar com esse teatro. Eu tinha que pular.

+++

Era tarde, provavelmente o jantar já havia sido servido mas eu não sentia fome, passei o dia pensando no jovem que vi mais cedo, ele era tão lindo mas ao mesmo tempo parecia tão triste e perdido, enquanto divagava ouço passos rápidos ao meu lado, levanto a cabeça vendo a sombra de um homem passando por mim em direção a Proa, me levanto lentamente andando até lá vendo a figura de terno se segurando do lado de fora do navio, meu coração quase parou ao ver os cabelos ruivos balançando contra o vento, não podia ser...

-Não faça isso.-Falei o mais calmo que conseguia mas não consegui evitar minha surpresa quando o rosto coberto de lágrimas se virou para mim.

-Fique aí!-Falou tentando parecer sério mas sua voz falhou um pouco.-Não chegue mais perto.

-Vamos lá, me dê a sua mão e eu vou te puxar...-Falei dando um passo a frente estendendo a mão.

-Não! Fique exatamente onde está.-Falou se estendendo para frente para a água-É sério, irei pular.-Falou se virando para a frente.

Dei uma última tragada no meu cigarro apontando para a água demonstrando que iria jogar fora, dei mais dois passos e joguei a bituca na água colocando as mãos no bolso.-Não, não vai.-Falei olhando para ele.

-Como assim não vou? não pode me dizer o que vou fazer ou não, não me conhece.-Falou claramente ofendido

-Bem, você já teria pulado se fosse o caso.-Falei da forma mais indiferente que consegui, já vi que mostrar solidariedade não ajudaria nesse caso, ele parecia um cara durão.

-Você está me distraindo, vá embora, agora!-falou balançando a cabeça negativamente. Exatamente garoto bobo, e você está caindo, propositalmente caindo. Pensei.

-não posso, estou envolvido nisso agora.-Falei o olhando-Se você se soltar eu vou ter que pular para te pegar.-digo tirando meu casaco.

-Não seja absurdo.-Disse quase cuspindo as palavras em descrença-irá morrer.

-Sei nadar bem.-Digo tirando meus sapatos um de cada vez.

-Só a queda o mataria.-Disse sem me olhar.

-Machucaria...não estou dizendo que não.-Digo tirando meu outro sapato-Para dizer a verdade estou mais preocupado porque a água está terrivelmente fria.

Titanic-Mystrade.Onde histórias criam vida. Descubra agora