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10 de abril de 1912.
11:25

Chegamos no porto de Southampton, a porta do automóvel Hupmobile 20 foi aberta e uma mão me estendida, aceitei e desci do carro parando para olhar em volta, definitivamente odiava viajar, todas aquelas pessoas em volta e aquela gritaria incessante era como se eu estivesse em um lugar com ar limitado e todas aquelas pessoas estivessem me sufocando, nunca gostei de multidões.

Vamos logo Mickey, não podemos nos atrasar-Minha mãe falou colocando seu braço junto ao meu.

-ainda falta alguns minutos mamãe, deixe-me pegar um pouco de ar-falei suspirando, viajar me deixava enjoado, seja de barco, navios e etc.

-isso Fatcroft vamos logo, estou curioso sobre o interior dessa máquina!-disse meu irmão mais novo, Sherlock também não gostava de viajar, mas ao saber que seria no famoso novo navio ele reconsiderou e se viu mais interessado na viagem.

De qualquer forma minha mãe já estava me arrastando para dentro do navio, só ao subir na escada para entrar já pude sentir o cheiro de novo que o lugar tinha. Completamente normal visto que viajávamos em um navio nunca usado-O Senhor e a senhora Smallwood devem estar nos esperando no salão.-Minha mãe comentou olhando em meu rosto, tive que reprimir minha careta, ela queria que eu me casasse com a filha mais velha da família smallwood, a única filha mulher do casal. Nós não estávamos muito bem financeiramente e claro que isso ajudaria bastante visto que os smallwood eram pessoas de muita riqueza e faziam questão de demonstrar isso, mas mesmo assim ela sabia da minha falta de desejo para com mulheres e sabia que eu obviamente odiava a ideia de me casar.

-Temos mesmo? Ainda é o primeiro dia, temos algum tempo até encontrar com eles, mãe.-Falei mesmo que soubesse que não daria em nada, minha mãe estava decidida que me casaria com a moça, mesmo sabendo que eu não tinha o menor interesse ou vontade, eu até tentei distraí-la falando que estava apaixonado por outra mulher mas ela não acreditou falando que os preparativos já estavam sendo feitos, droga.

-Não comece com isso, Alexander Mycroft, está tudo preparado, ao chegarmos em Nova York você será um homem casado...e muito rico diga-se de passagem-Disse ela com um sorrisinho que somente Violet Holmes tinha, enquanto segurava na mão de Sherlock tentando impedir que o garoto corresse Navio a dentro, Sherlock podia ser bem hiperativo e destrutivo para um garoto de 11 anos.

De fato, o navio podia ser muito impressionante para qualquer pessoa que o olhava, ele era impressionantemente grande e a bordo estavam mais de dois mil passageiros, estávamos na primeira classe e imagino que havia mais duas abaixo onde devia ter mais pessoas.

Para qualquer pessoa o Navio era como um sonho, mas para mim estava sendo o início de um pesadelo, ao chegarmos em Nova York eu estaria preso, amarrado ao dever de ser um filho e um marido perfeito, por mais calmo e paciente que eu estivesse é como se eu pudesse explodir de tanto gritar a qualquer momento.

-Mickey!- Ouvi uma voz feminina ao entrar pelo salão, Elizabeth Smallwood de 17 anos estava ao lado dos pais, ela vestia um vestido vermelho escuro com algumas pérolas e um chapéu da mesma cor, ela era muito extravagante, deve ter puxado a mãe.

-Senhor e senhora Smallwood. Elizabeth.cumprimentei a todos com um aceno de cabeça sentindo a garota vir me abraçar e repetir aquele apelido ridículo, eu detestava apelidos. Desde que ficou sabendo do casamento a garota passou a sercada vez mais...expansiva, invadindo meu espaço pessoal sempre que podia sendo que sempre deixei claro minha aversão a contatos físico.

Seu perfume era um L'Heure Bleue Eau de Toilette de Guerlain, Seu vestido estava bem passado e sobre medida, havia chegado no navio a cerca menos de uma hora e ela já havia trocado de roupa e calçado, ela se mexe diferente, o sapato é um número abaixo que o dela e isso está a incomodando, seu colar é de alguns meses de uso mas é sempre polido e limpo, não por ela obviamente visto que ela não deve nem se lavar sozinha, unhas feitas ontem a noite pintada pela mãe pois há resquícios de tinta nos dedos dela, uma maquiagem simples mas colocadas para destacar sua maçã do rosto e afinar ainda mais seu nariz, cabelo feito desde que acordou mas ela irá arrumar ao voltar para o quarto em alguns distantes pois o chapéu deve o deixar um pouco desalinhado...

-Então esse é o famoso navio?- A fala de minha mãe me tira do meu "transe" de deduções, a garota já havia se afastado e agora me olhava sorrindo como se eu não estivesse a observando para me distrair do momento atual.

-Sim, o famoso Titanic, inafundável! É como dizem, Nem Deus derrubaria esse Navio...-Comentou Charles Smallwood, pai de Elizabeth.

-Eu duvido um pouco...esse não parece muito maior que o último que entrei.-comentou Sherlock ganhando assim um beliscão furtivo de nossa mãe.

-ah não pequeno Holmes, esse navio é chamado de obra-prima da engenharia, não cairia nem se quisesse!-Comentou o homem orgulhoso por ser amigo de um dos construtores do Navio e já ter escutado todos esses elogios do navio que muita gente sonhava entrar.

+++

O jogo estava tenso, olhava as cartas e tentava ler quais as cartas os outros tinham, olhei para John Watson e pude sentir seu medo de perder, olhava para os dois italianos que jogava com a gente, um deles tinha um olhar arrogante como se soubesse que jamais poderíamos ganhar.

Mas logo sua arrogância foi trocada por uma preocupação, ele olhou para o homem ao lado e eles começaram a discutir em italiano, eu não entendia nada mas ao ver que eles haviam apostado suas passagens para o famoso Titanic imaginei o motivo da sua raiva

-Greg, você é um idiota, apostou tudo que temos.-Falou John.

-quando não se tem nada, não se perde nada-Falei dando uma piscadela e tragando o cigarro, a discussão dos italianos voltava, enquanto o italiano loiro apontava para as passagens, ele estava nervoso com certeza.

Comprei a última carta e havia chegado a hora, cartas na mesa e todos se olhando.-certo, é hora da verdade, a vida de alguém está prestes a mudar.-Falei calmamente ou ao menos fingindo estar-William?-perguntei olhando para um dos italianos que havia apostado as passagens-Nada.-Disse ele sem nenhum jogo olhando para o parceiro ao lado, -John?-perguntei e suspirando ele largou as cartas-nada.-falou negando com a cabeça.

Olhei para o último sentindo as cartas suadas na minha mão pelo nervosismo-Olaf?-perguntei vendo ele largar as cartas e fiz uma expressão surpresa-Oh...dois pares.-Falei apagando o cigarro-Eu...eu sinto muito John.-falei vendo o homem me olhar incrédulo.

-Como assim "sinto muito"?! Você é idiota?Isso é tudo que nós temos!-fiz sinal para que ele parasse de falar o interrompendo.

-sinto muito, John Hamish Watson, mas você vai ficar um tempo sem ver a sua mãe. porque nós vamos para a América, Fullhouse, pessoal!- joguei as cartas na mesa ouvindo o grito de comemoração e alívio de John.

-Nós vamos para a América!-John comemora levantando da cadeira, pego a minha sacola de pano pegando as passagens quando Olaf me pega pela camisa levantando a mão e fechando em um punho enquanto gritava coisas em italiano que eu não fazia a menor ideia do que significava, fecho os olhos esperando o soco quando vejo ele acertar o amigo ao lado dele, dou risada e sinto John me abraçar

-Seu desgraçado sortudo!-falou apertando o abraço.

-Nós vamos para a América, meu amigo!-Falei com um grande sorriso mostrando os dentes enquanto podia ouvir ao fundo a briga dos italianos.

-Não senhores, o Titanic é que vai para a América, em cinco minutos.-o Barman apontou para o relógio e na mesma hora eu e John pegando o máximo das moedas possíveis na mesa junto com as passagens e corremos em direção ao Navio.

Titanic-Mystrade.Onde histórias criam vida. Descubra agora