2-little dark age

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Uma semana havia se passado, a cidade sussurrava em silêncio, Brisa tinha se colocado no centro de olofotes novamente, várias denúncias se revelaram,de crianças desaparecidas a supostos culpados, até que o corpo, agora identificado, como Lizle Olsen, uma jovem de 18 anos, confirmado pela perícia e pelos familiares, estes que acolheram sua filha novamente e a levaram para se sentir em paz na terra de onde nasceu. Marcos e Henry foram juntos a cidade, para continuar sua investigação e tentar ao menos amenizar o descanso de Lizle.

Desta vez a paisagem não é tomada por ruas movimentadas, e inúmeras poluições visuais em volta, o entardecer cai suavemente, os raios finos de sol são tampados por nuvens brancas como lã, no chão só a estrada e pastos,plantações em volta, deixando claro que não estavam mais no mundo no qual eles pertenciam. Os investigadores se encontram no carro, Marcos dirigindo, e na tentativa de se animar e manter-se mais alerta coloca uma de suas músicas preferidas, " Hey ya de Outkast" aos poucos vai se animando a partir do momento que a música avança, começa cantar alguns pequenos trechos, e em uma tentativa falha tenta animar seu parceiro.
- Hey ya Henry! Nunca ouviu ? Henry não o responde e nem se movimenta,continua olhando para a paisagem que passa rapidamente sobre seus olhos castanhos, Marcos aos poucos vai perdendo a animação e se sente um idiota por ter tentado se relacionar com seu parceiro, uma sensação frustrante que descia corroendo sua garganta,durante essas uma semana na qual o Henry não trocou praticamente nenhuma palavra.
Uma placa ganha forma com a aproximação do carro Marcos olha rapidamente e diz.
- Eh estamos chegando. Com cansaço na voz devido a exaustiva viagem, que durava suas 6 horas consecutiva, ele se ajeita um pouco no banco de couro que faz alguns barulhos com o movimento, Henry continua olhando a paisagem mas sua atenção é totalmente tomada, quando avista uma criança, um menino, está usando uma camisa vermelha e short preto que o cobre até seus joelhos, Henry encara essa figura que parece estar presa junto ao carro, mas logo e deixada para trás por conta da velocidade do veículo.
-Posso te fazer uma pergunta? Diz Marcos enquanto olha para seu parceiro, Henry o olha lentamente, seus olhos e fisionomia parecem cansados mas o responde.
- Vá em frente, fique a vontade.
-Bom, parece que você não anda dormindo muito bem. Henry o interrompe tão rápido quanto a um reflexo inesperado.
-E sério que você vai me perguntar isso?
- Olha, eu só estou tentando manter uma conversa pra termos uma convivência melhor, estamos praticamente a uma semana juntos e eu não sei basicamente nada sobre você.
- E oque você quer saber? Diz o investigador com indiferença em sua voz.
-Eu não sei, tem algum filho?
-Não!diz Henry firmemente
- Mulher? Diz Marcos com um sorriso malicioso no rosto.
Henry se vira e o encara
-Não, mais alguma coisa?
-Homem? Marcos diz baixinho
Henry se torna a olhar para frente.
-Não. Responde suavemente.
- algo mais ?
-Bom, não, mas é melhor revisarmos oque já sabemos. responde o investigador.
-Certo. Diz Henry enquanto abre seu caderno de anotações, Marcos percebe que em algumas páginas a poucas escritas, estão em uma ordem aleatória de palavras, padrão que se reptia em todas as páginas.
-Nome, Lizle Olsen, tinha 18 anos, desaparecida 3 dias antes de achá-la no galpão da Barbosa, nascida e criada no interior, não temos muita coisa depois disso. Diz Henry calmamente.
-A gente vai ter muito trabalho ainda, coitada dessa garota. Diz o investigador enquanto se concentra no resto que falta da estrada.

A cidade é simples, no máximo abriga 70 mil habitantes, suas casas ainda preservam a arquitetura antiga de seus colonizadores, ao mesmo tempo que dá espaço para modernidade do novo século, Marcos e Henry encaram as vidas pacatas dos moradores, andando e se cumprimentando, sorrindo uns para os outros, mas os dois investigadores percebem a feição sombria de seus habitantes, como se estivessem mentindo para si mesmo, negando a tempestade que assolava a todos.

Marcos e Henry chegam na igreja da cidade, onde acontece o culto de conforto a todos da comunidade, aos amigos e familiares de Lizle. Os dois dessem do carro, Henry faz menção de acender seu cigarro mas Marcos o repreende com um olhar, os dois entram na igreja que está cheia de pessoas, os dois se posicionam no fundo enquanto o padre passa a palavra, o interior da igreja e totalmente conservado, como se estivessem em uma do século XV, com seus vitrais com as imagens de Santos e Cristo, imagens que glorificam e ao mesmo tempo instiga a imaginação e opressão dos alí presentes.
- O perdão e concedido a todos, então não fiquem aflitos, vocês são os escolhidos e eleitos do Senhor, sei que nossos irmãos aqui. O padre aponta para os familiares e amigos de Lizle.
-Estão passando por uma tribulação árdua, no qual nenhum de nós aqui desejaria que nenhum pai é filho passa-se por tal provação, a dor é aguda eu sei, mas como tudo na terra tem o seu tempo, o tempo de nossa querida Lizle chegou ao fim. A mãe de Lizle se desaba em choro nos ombros de seu marido, um choro sincero, mas silencioso, o pai de Lizle está nitidamente segurando as lágrimas, tentando ser uma Rocha e apoio para sua família e todos a sua volta, mas a tentativa é inútil, as palavras do padre parecem fazer um corte profundo nos corações de todos alí presente.
- Eu sei que questionamentos são levantados, o porque é gritado com tanta força e vontade que parece que destruirá todas as barreiras naturais e sobrenaturais, mas a vontade de Deus foi feita, não teremos resposta por qual motivo Lizle teve que passar por isso, mas a certeza que temos é que Lizle vive com nosso Senhor Jesus Cristo,Jesus Cristo! Jesus Cristo!! O padre se enche de fervor, e todos começam a bater palmas, e gritarem o nome de nosso Senhor. Marcos e Henry no fundo assistindo tudo isso, sentem toda a energia tomando o local, Marcos se vira para Henry e pergunta em tom baixo.
- Você acredita em Deus?
Henry o olha lentamente e o responde.
- Eu acredito que não se deve fazer essas merdas de perguntas no meio do trabalho.
Marcos não se deixa levar pela fala rude de seu parceiro.
- E só uma curiosidade.
O investigador sem olhar para seu parceiro o responde.
- Quanto você acha que é a média de QI dessas pessoas em?
Marcos como típico policial com óculos escuros tampando sua visão diz.
- Não sei, consegue enxergar todos de cima desse seu pedestal aí? Oque você sabe sobre essas pessoas?
- É pura dedução e observação, tem pobreza e crença em contos de fadas, colocam o pouco que tem nessas cestinhas de vime. A palavra do padre ainda continua enquanto a cesta de contribuição é passada de um para o outro.
- E eu acho que posso dizer, que ninguém aqui vai acabar quebrando um atmo Marcos. Finaliza Henry com uma expressão apática ao lugar onde se está.
- Tá vendo só, estou começando a te entender e o porque ninguém gosta de ficar perto de você.
Henry continua olhando o culto.
- Nem todo mundo quer ficar sozinho em uma sala batendo uma pra manuais de homicídio, tem pessoas que são confortadas por isso, apreciam a comunidade, o bem comum.
Seu parceiro o interrompe.
- Se o bem comum precisa criar contos de fadas então não é bom pra ninguém.
O padre continua pregando. - Aos cansados que venham até mim que eu os aliviarei, assim disse o Senhor.
Marcos volta com a conversa.
- Da pra imaginar, se as pessoas não tivessem em algo no que acreditar, oque isso faria com elas.
Henry continua.
- Absolutamente nada, fariam a mesma coisa que fazem hoje, só que mais abertamente.
- Porra nenhuma! Você sabe, seria um puta show de horrores de assassinatos e desacato, nenhum apreço pela vida humana.
Seu parceiro o responde não dando tempo de ter uma pausa entre as palavras.
- Se a única coisa que mantém uma pessoa descente irmão, é a esperança de ter uma recompensa divina então essa pessoa é um pedaço de merda meu amigo, e desse tipo de pessoas eu quero distância.
- E nem precisa, você sozinho já consegue repilir qualquer chance de relacionamento com qualquer ser vivo.
Henry olha para Marcos.
- Mas, eu acho que esse seu julgamento é infalível seu expertinho de merda.
Os dois investigadores continuam ouvindo a pregação e tentando manter a normalidade e não transparecer o debate que está acontecendo em solo sagrado.
- Oque dizer da vida em ? Diz Henry calmamente.
- Se para você se encontrar, precisa ficar inventando histórias que violam cada lei natural do universo, só para você conseguir enfrentar a porra do seu dia, oque isso diz sobre a sua realidade Marcos?
O investigador toma a mesma posição calma de seu parceiro e o retruca.
- Quando você começa falar assim, parece que está em pânico.
Henry não se vira para Marcos e continuam ouvindo a palavra que é dita pelo padre.- Senhor nós não somos dignos de sua presença e de seu amor! não temos noção do tamanho do sacrifício que foi feito por nós, mas em verdade vos digo, que a misericórdia nos alcançou!! As pessoas continuam alvoroçadas e dizendo "Amém, glória a Deus, entre outras palavras"
- Transferência de medo e auto piedade em um meio cheio de autoritarismo. Catarze! Enfatiza Henry enquanto se vira para seu parceiro
- Ele absorve o terror com essa narrativa, graças a isso ele é bem sucedido na certeza que ele projeta.
Sabe, alguns estudiosos de antropologia linguística acham que a religião é um vírus da linguagem, parece que ela reescreve caminhos no cérebro, impede o senso crítico.
Marcos respira fundo e diz.
- Olha eu não uso todas essas palavras difíceis como você, mas para um cara que parece não ver sentido na existência e não ter nenhum apreço por ela, acho que você se preocupa demais, e você ainda parece em pânico.
- Pelo o menos eu não estou correndo por fora. Diz Henry com um micro sorriso.
- inacreditável, uma semana sem ouvir praticamente nada de você e agora tudo isso, sabe, acho melhor você guardar essas indagações pra você, as pessoas aqui não pensam como você, nem eu penso.
- Foi você que perguntou. Diz Henry com a voz um pouco rouca.
- Eh eu sei, agora estou implorando pra você calar a porra da boca.

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