Capítulo 6

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Quarta feira. 12:30h

Abro a porta de casa logo sentindo um cheiro gostoso vindo da cozinha, jogo a mochila pesada no sofá e sigo para o cômodo onde meu tio está.

- Isabella, desliga o forno pra mim. - Pede assim que ponho o pés na cozinha.

- Faz tempo que chegou? - Desligo o forno.

Meu tio termina de lavar os talheres para me dar atenção. Ele não aparenta estar de resaca, os cabelos estão limpos e arrumados, e ao contrário do odor de álcool sinto cheiro de colônia.

- Acho que há duas horas atrás. Estava na casa da sua amiga? Vi seu quarto arrumado... - Enxuga as mãos no pano de prato.

Vou até a geladeira tirando uma garrafinha de água.

- Dormi lá, como sempre. - Digo.

Meu tio não responde. Tira uma travessa de vidro do armário a colocando sobre a mesa redonda da cozinha. Em momento algum olha para mim, só demonstra estar desconcertado com o que falei.

Confesso que acabou escapando, não foi de propósito. Meu tio coça a garganta e abre um sorriso que há tempos não vejo, tem algo diferente.

- Espero que esteja com fome, o almoço está quase pronto. Tome um banho e venha comer. - Diz com carinho.

Deixo a garrafinha no balcão da cozinha, pego a mochila no sofá e me tranco no quarto. Tiro todas as coisas da mochila, roupas, cremes e o material da escola.

Deixo tudo em cima da cama para arrumar depois. Já de banho tomado encontro meu tio organizando os pratos na mesa.

Meus olhos correr por toda superfície avaliando cada receita. São diferentes, comidas diferentes que ele nunca fez antes.

- Hoje é uma data especial? - Tento lembrar de algo, mas para mim é mais um dia normal.

Nos sentamos à mesa um de frente para o outro, fico tensa, há muito tempo não permanecemos no mesmo ambiente.

- Sim, quer dizer, eu espero que seja. - Fala encabulado. - Na verdade é algo bom, sim. Coisa que eu deveria ter feito antes. - Completa misterioso.

- Ah... - Encho meu copo de suco.

Não sei o que dizer a ele, muito menos se devo perguntar a razão da celebração.

Meu tio repete o que fiz anteriormente, ele enche seu copo de suco e toma um gole.

- Não vai perguntar sobre o que estamos comemorando? - Pergunta.

Paro de me servir. Tomo ar e faço a pergunta:

- O que estamos comemorando?

Meu tio se remexe na cadeira sorrindo.

- Agora eu faço parte da associação de alcoólicos anônimos. - Fala com alegria.

- Eu... Não entendi. - Digo com confusão.

Alcoólicos anônimos? Desde quando?

- Escute, Isa, eu quero ser mais presente na sua vida. O álcool há muito tempo não faz mais sentido para mim.

Me recosto na cadeira. Não sei como reagir, não consigo imaginar meu tio sem beber e fazendo parte de uma associação.

É claro que eu sempre quis que ele parasse e as coisas mudassem para melhor. Mas agora parece que não estou processando a informação direito.

- Por que agora? - Pergunto baixinho.

Essa pergunta pega ele de surpresa, meu tio levanta e mexe em alguma coisa no balcão.

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