12- Os micos que a gente nunca esquece

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Coçando a parte de trás da cabeça, João respondeu:

- Oi Helena. Tá tudo bem sim.

Ele particularmente preferia que a pessoa a encontrá-lo em uma discussão tão comprometedora não fosse justamente a menina que ele largou plantada no cinema. Por causa da Poliana.

- Tem certeza? Vocês meio que pareciam estar numa discussão importante aí...

- Imagina, a gente tá de boa.

Houve um silêncio estranho.

Poliana aproveitou o meio tempo para avaliar (se é que essa é a palavra) a tal Helena. Descobriu em poucos segundos que a menina fazia o tipo barbie estilosa. Cabelos castanhos e sedosos até a cintura, olhos azuis, alta. Ainda por cima vestia uma calça wide-leg de lavagem clara, uma camisa topper branca, tênis estilosos e uma bolsinha preta super chique.

Desnecessário dizer Poliana se sentiu pobre. Aliás, completamente humilhada sabendo que Helena ouviu a asneira que João fez questão de gritar à plenos pulmões.

Que vergonha, meu Deus... O João me paga! - pensou.

- Essa daqui é a Poliana, minha melhor amiga. - João se forçou a continuar falando, ciente dos pensamentos dela a seu respeito.

- Ah, a famosa Poliana... João fala muito de você sabia?

- Jura? - disse a "famosa", de repente muito consciente do seu incrível cheiro de suor, seu vestido sujo de grama, e seu lindo cabelo totalmente embaraçado depois da correria de mais cedo.

- Claro. - Helena continuou como se nada houvesse acontecido - Ele até me deixou plantada num cinema por sua causa.

- D-deixou?

- Sim. Acabei desistindo de assistir o filme, acredita? O bonitinho aí, nem me ligou outra vez pra se desculpar.

- Foi mal, Helena. Eu ia, sério mesmo, mas acabei me enrolando e...

- Tudo bem, bobo. - ela deu uma risadinha - Desde que a gente marque de novo.

- Não, claro. Pode deixar! - ele sorriu, doido pra mudar de assunto.

Para sua graça salvadora, Helena se encarregou disso:

- Eu estava indo encontrar umas amigas no shopping, e vocês?

- Ah, a gente está voltando de um picnic com os amigos. - respondeu Poliana.

- Foi meio que uma comemoração de boas vinda pra Poli. - explicou João.

- Hum, que amigos atenciosos. Você é muito sortuda. - elogiou Helena. - Queria eu uns amigos assim.

- É, sou sim. Amigos como eles não existem!

Helena deu um sorriso de canto antes de mudar o rumo da conversa.

- Você vai estudar na Ruth Goulart esse ano?

- Vou. Meu pai até me matriculou antes de voltarmos, tô bastante ansiosa!

- Deve ser uma barra pra se adaptar ao Brasil tudo de novo, né? Eu só passei seis meses estudando fora e mesmo assim foi complicado.

- Pra falar a verdade, não. Toda minha família e amigos são daqui, então eu não estou tendo problemas com isso. Estou em casa!

- É... - Helena sorriu pequeno, antes de dizer o óbvio desnecessário: - Olha, você está andando! Eu pensei que estava numa cadeira de rodas ainda, quer dizer, pra mim depois que perde o movimento das pernas não tem volta.

Poliana - Sobre crescimento e escolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora