07- Sabe a cara de sem graça?

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   Poliana sorriu para seu reflexo no espelho.

Estava no Brasil há apenas um dia e os ares do país já lhe fizeram bem. Se sentia mais bonita, seu cabelo estava cooperando e, depois de tantas nuvens cinzentas, o céu ensolarado se abriu para ela. O sorriso que estampava seu rosto? Era natural, veio sem o auxílio das tentativas de piada de um amigo.

A época de tempestades finalmente passou.

Quando ficou paraplégica, Poliana pensou que aquele era o fim de muitas coisas. O fim dos seus sonhos, da sua alegria e, pode acreditar, até da sua família. Quer dizer... Não é todo dia que o android secreto do seu pai dá defeito e te esmaga na parede feito um inseto com um único tapa. Esse não é bem um problema familiar que tenha tido precedentes para saber como resolver, e ela ficou triste, confusa, com raiva, e um monte de outros sentimentos que vieram como avalanche, sem que ela pudesse desabafar.

Até hoje ninguém sabia o que aconteceu de fato no acidente, ela preferiu não contar, mas o importante é que essa fase passou e enfim estava feliz outra vez!

Dali a alguns minutos ela iria até a praça da cidade (re)encontrar com seus amigos queridos. A comunicação foi escassa nos últimos dois anos, ela sabia ter perdido bastante coisa, o único com quem tinha conseguido manter contato contínuo mesmo foi com João, e com muito esforço mútuo.

Tinha dias que ela só conseguia continuar com a fisioterapia ouvindo-o falar pelo telefone. 

Então, para recuperar o tempo perdido, ela desejava encontrar seus amigos o mais breve possível, estava em polvorosa. Mesmo se sentindo bonita, tratou de se arrumar da melhor maneira possível.  Até colocou gloss e alguns brincos, deixando o cabelo solto mesmo.

 Será que alguém vai reparar em mim? — questionou-se. Foi tirada de seus pensamentos pelo barulho da porta, indicando que alguém queria entrar.

Era a Nanci. Mesmo depois de ter ganho o Bake Off Brasil, Nanci continuava trabalhando para Luísa, mas só como uma renda provisória e pelo gosto de trabalhar na casa, pois estava caminhando para abrir sua própria empresa! As vendas dos docinhos dispararam depois de participar no reality e dos seus vídeos de receita na internet.

— Como está a nossa mais nova pedestre?

— Pedestre, Nanci? — riu Poliana, estranhando.

— Sim senhora, agora não está mais motorizada e pode andar igual a nós, reles mortais — brincou ela.

— Ai Nanci, só você mesmo... — disse a menina

— Mas e essa produção toda aí? 

— Quê? — balbuciou Poliana, encabulada.

— Pensa que eu não reparei? Onde vai toda bonita desse jeito?

— Vou encontrar os meus amigos na praça. — respondeu corada — O João acabou de mandar mensagem, disse que daqui a pouco vem me buscar.

— Hum, o João né? — Nanci piscou em cumplicidade.

Poliana não entendeu.

— É, o João. Quê que tem?

— Fala sério, Poli, você não sentiu nada diferente por ele quando o reencontrou?

— Eu fiquei muito feliz, mas não entendi qual é o ponto.

— Eu tô querendo dizer, se você não sentiu um...

— Desiste Nanci, essa daí é mais burra que uma porta quando se trata dessas coisas — interrompeu Filipa, se jogando na cama, sem a menor cerimônia.

Poliana - Sobre crescimento e escolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora