28 - Crushs, amigos e outra coisa

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Atenção!!!!
Se vc leu esse capítulo antes da 8:00 AM de 29/09, recomendo reler. Eu tinha postado a versão errada 😌
Essa é a certa galera.

(...)

Eles se deslocaram para a calçada, onde Poliana insistiu que parassem para tomar um sorvete.

— Um de flocos e outro de manga, por favor. Com cobertura de caramelo. — João pediu para a moça do carrinho de sorvete.

— Você ainda lembra. 

— Claro que sim. — ele respondeu enquanto pagava; entregando o de flocos para a amiga. — Um dos mais doces que tem, porque a vida já é amarga demais. A gente tomava juntos por vídeo chamada depois de cada sessão de fisioterapia.

— As primeiras semanas foram as piores. Fazer isso com você sempre me animava.

Ele se calou num primeiro momento, lembrando-se de cada vez que a via pálida e abatida pela tela do celular. O cabelo sedoso ia ficando fraco e quebradiço, e o sorriso diminuía ligação por ligação. Para João não havia sofrimento maior do que ouvi-la choramingar de dor e não poder abraçá-la, sendo impedido por um oceano inteiro de distância. E desesperava-se por ficar um segundo longe do celular, imaginando que ela poderia ter ligado à procura de conforto sem ser atendida.

Poliana notou como ele ficou taciturno. Suas feições adquiriram um caráter sombrio do qual não gostou nada. Assim ela teve dimensão do quanto os últimos dois anos impactaram muito mais que ela, afetaram as pessoas que ela mais amava. Afetaram seu melhor amigo incrível, que a cumprimentava com um sorriso no rosto mesmo estando sofrendo junto.

— Desculpa João. Não devia ter nem lembrado disso.

— Esquece isso, bichinha. — ele tranquilizou — O importante é que nós dois superamos. 

— Tem razão. — ela sorriu, o coração se aquecendo ao o ouvir chamá-los de nós, por alguma razão desconhecida. — Então, mudando de assunto... Como foi com a Helena? 

O rapaz soltou um suspiro profundo.

— Tão ruim assim?

— Nah... Podia ser pior. — falou — A Helena tem os problemas dela, isso acabou extravasando na festa. Mas ela prometeu se esforçar para pelo menos te conhecer, é um bom começo né?

— Claro. Depois de tudo, ainda me sinto culpada por toda essa confusão.

— Tira isso da cabeça, muié! Já te falei que a culpa foi...

Daqueles abestados futriqueiros que não tem o que fazer da vida. Sim, eu sei. — ela interrompeu. — Só queria que parassem de nos dar tanta atenção. Você sabe que eu amo a Ruth Goulart, mas tenho me sentido sufocada lá.

— É uma merda. Mal deu pra aproveitar sua volta, te ter de volta na rotina normal do colégio...

(...)

De volta à Ruth Goulart, Késsia continuava ensaiando a mesma sequência de movimentos exaustivamente por duas horas. Era um costume seu permanecer depois da aula para aperfeiçoar suas coreografias. Como membro da companhia de dança ela tinha o dever de estar sempre em sua melhor forma. Agradecia à escola por disponibilizar seu espaço para que alunos como ela pudessem se aperfeiçoar.

Ponta, girou, pliê, chassé, ponta de novo, girou, cabeça, sorriu — os comandos da professora ressoavam da mente de Késsia, fluídos, assim como seu corpo se movimentava no ritmo da música que preenchia a sala. Cada vez que executava os passos sentia uma dor persistente na extensão das pernas, sua companheira de tantos ensaios, assim como o suor a se apegar teimosamente sobre sua pele negra. O esforço era extenuante, sem dúvida, mas ela recusava-se a descansar. As apresentações da companhia exigiam excelência, e — aplicando as duras palavras da professora Débora — Késsia sabia que para isso o sofrimento era necessário. Daria o seu melhor em tudo quanto pudesse se esse fosse o caminho para se tornar uma bailarina de sucesso.

Poliana - Sobre crescimento e escolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora