𝖢𝗁𝖺𝗉𝗍𝖾𝗋 01

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𝗔𝗻𝗻𝗲 𝗪𝗶𝗹𝘀𝗼𝗻

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𝗔𝗻𝗻𝗲 𝗪𝗶𝗹𝘀𝗼𝗻

Haviam se passado três dias, eu apenas observava a pequena cidade da janela da casa e não sentia vontade de conhecê-la. Mas, de qualquer forma, papai já havia informado que iríamos conhecer a igreja mais próxima onde ele, mamãe e minha irmã iriam congregar. No meu caso, eu apenas ia à igreja para não ter que ficar sozinha em casa, até porque minha mãe não permitiria que isso acontecesse. Concluindo, eu só tinha o título de cristã, mas não tinha uma vida ao lado de Cristo. Já não orava mais, nem muito menos lia a Bíblia ou procurava de alguma forma me aproximar de Deus.

— Oi! — Mila abriu a porta do meu pequeno quarto. — Quer dar uma volta? — Ela parou diante do médio espelho pendurado na parede.

— Mais tarde eu vou. — Voltei a folhear o livro que estava lendo.

— Tudo bem, eu já vou indo. — A mais velha alisou seu vestido azul, evitando que amassasse.

— Vai lá. — Senti uma leve tontura, mas não demonstrei nada.

Minha irmã, Mila, faz faculdade de psicologia. Desde criança, esse era seu sonho: ajudar pessoas. Já eu sempre quis estudar medicina, mas sabia que não iria viver por muito tempo, então simplesmente desisti desse sonho tão impossível.

Com poucas horas de leitura, resolvi me levantar. Na verdade, queria ter algo melhor para fazer do que ficar fitando a parede lilás do meu quarto. Peguei a dica da minha irmã e decidi andar pelo bairro. De qualquer forma, eu iria precisar conhecer o lugar. Levantei da cama, procurando meus óculos de sol e um chapéu azul-claro na gaveta. Vesti um vestido vermelho com bolinhas brancas e, por fim, calcei um tênis simples. Fiz um coque despojado e me olhei no espelho por alguns instantes. A verdade é que não me sentia bem. Eu parecia uma daquelas jovens felizes, mas estava bem destruída por dentro. Eu não me sentia como as outras garotas. Elas geralmente se divertiam e se alegravam com bobagens, ou até mesmo sonhavam com príncipes encantados. Nunca coloquei fé em romances, por mais que meus pais fossem a prova viva de que isso pudesse existir. Eu sempre acreditei que isso nunca pudesse acontecer comigo, e talvez não tenha acontecido. Saí do quarto com a pouca disposição que tinha, suspirei, olhando os cômodos da simples casa escura e um pouco aconchegante. Ao descer o primeiro degrau da escada, lembrei-me do livro, então fui pegá-lo. Provavelmente não teria ninguém para me acompanhar, então precisaria de algo. Talvez eu achasse uma pracinha ou um lugar tranquilo para passar a tarde lendo.

— Mãe? — Chamei, batucando as mãos no balcão da cozinha.

— Estou aqui na varanda. — Gritou. Andei até onde ela estava, conversando com a vizinha. Mal havíamos chegado, e minha mãe já fez amizades.

— Eu vou dar uma caminhada, se importa? — Perguntei, causando silêncio.

— Claro que não. Você precisa conhecer o lugar. Só cuide para não se perder. — Alertou.

— Está bem. — Respondi, saindo pela pequena rua.

O lugar era bem simples, com um aspecto de campo misturado com cidade. A maioria das casas tinha quintais espaçosos e cheios de plantas ou árvores enormes, e alguns troncos que aparentemente deveriam ser bem antigos. Do outro lado da rua, por trás das outras casas, havia uma floresta um pouco densa, mas que não assustava.

[...]

Eu havia me sentado debaixo de uma árvore com sombra suficiente para se deitar e ter uma maravilhosa leitura. Eu tinha certeza de que voltaria ali mais vezes. No entanto, já estava tarde, e eu precisava voltar para casa. Fechei o livro e olhei ao redor. Caminhei pela rua de volta, mas não reconhecia o lugar. Com certeza, já estava perdida, e para piorar, já era quase noite. Péssimo momento para se perder. Respirei fundo. Não podia ficar nervosa, não agora. Precisava pensar até ouvir uma voz que me assustou.

— Aah! — Dei um pulo de espanto, com meus olhos arregalados.

— Calma. — O garoto riu. — Desculpe, não foi minha intenção te assustar. Você está bem? — Reparei em seu rosto.

— Hum rum. — Fiquei admirada com seus olhos cor de mel, mas logo pisquei os olhos, me repreendendo por tal ato. — Estou bem, e você? — As palavras escapuliram da minha boca, e me senti burra por alguns minutos.

— Estou bem. Eu me chamo Michael e você...? — O jovem alto arqueou a sobrancelha em minha direção.

— É... me chamo Anne. — Apertei a capa do livro por impulso.

— Bom, Anne, suponho que você está perdida. É nova aqui, não é? — Analisei seu rosto oval e sua pele morena, em um tom claro.

— Sou sim. Como sabe que estou perdida? — Exclamei, desviando meu olhar para o sol, que estava se pondo.

— A cidade é pequena. Dificilmente alguém se perde, e nunca te vi por aqui. — Deu de ombros, com suas mãos nos bolsos de sua calça marrom-escuro.

— Eu cheguei há duas semanas e resolvi dar uma volta pelo bairro. Acabei me perdendo. — Contei, um pouco envergonhada.

— Entendi. Vou te ajudar a chegar em casa. Apenas tente se lembrar de algum lugar por onde passou. — Assenti, agradecendo.

Michael me ajudou a chegar até em casa. No começo, estava um pouco desconfiada

e sem graça. Afinal, quem seria a criatura que teria 19 anos e se perderia em uma cidade pequena? Exatamente eu! Vamos aos detalhes. Durante a caminhada para chegar em casa, Michael contou-me algumas coisas sobre ele, fora seus pequenos detalhes observados por mim. Soube que ele fazia faculdade de Direito e que também trabalhava em uma pequena empresa de contabilidade. E fora isso, meus caros irmãos, ele é cristão/evangélico. Na verdade, não me surpreendi nem um pouco. Agora, sobre seus traços físicos, ele era alto, cerca de 1,80 de altura, nem magro, nem tão forte. Seu rosto era oval, seus olhos cor de mel, seu cabelo castanho escuro era ondulado e bagunçado. Ele realmente era bonito. Estaria mentindo se dissesse que não, mas para mim, era apenas um rosto bonito.

 Estaria mentindo se dissesse que não, mas para mim, era apenas um rosto bonito

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