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Shinobu 🦋

Já faz algumas horas que estou na casa dele, mas Tomioka não parece fazer muita questão disso. Tenho quase certeza que está me evitando, mas ele não vai conseguir fugir de mim por muito tempo. Quando o médico chegar para me examinar novamente, ele vai ter que vir aqui.

Mal posso esperar para voltar pra casa. Kanao e as outras meninas devem estar preocupadas. Já avisaram à elas que estou melhorando, então fico mais tranquila. Depois de algum tempo, ouço alguém alguém bater na porta do quarto.

- Senhora - diz uma das mulheres que trabalham na casa. - O médico chegou. Devo mandá-lo subir?

Confirmo com a cabeça, enquanto me ajeito na cama. - Comunique o seu patrão, por favor - digo, com um pouco de esforço.

Observo ela sair e depois voltar, dessa vez com o profissional. Tomioka entra em seguida. O médico me analisa enquanto faz algumas perguntas à Giyu. Ele faz expressões estranhas enquanto examina o ferimento. Por fim ele diz:

- Tenho uma boa e uma má notícia. - Ele não me pergunta qual eu quero ouvir primeiro. - A boa é que você vai se recuperar bem. Talvez nem deixe cicatriz.

- E a má? - Observo o médico guardar sua coisas.

- A má é que você não pode se movimentar muito durante sua recuperação. - Fico confusa. O que isso quer dizer exatemente? - Ou seja, você vai ter que ficar aqui até estar totalmente recuperada.

As palavras me atingem como facas. Ficar Aqui? Na Casa do Tomioka? Não consigo nem esconder minha reação de choque. Giyu também parece chocado, seus olhos azuis estão arregalados, mas ele não fala nada. Tento me manter calma, não posso me alterar.

- Eu não acho que isso seja necessário - protesto, em um tentantiva de contornar a situação. Vejo o médico apenas piscar, sem esboçar reação alguma.

- Isso não é negociável - diz ele, fechando sua maleta e indo em direção à porta. - Voltarei dentro de alguns dias.

- Eu o acompanho até a saída - diz Tomioka, retirando-se rapidamente do quarto, junto com o Doutor.

Eu sei exatamente o que ele está fazendo. Está fugindo antes que eu comece a gritar com ele. Esperto. Mas Giyu não vai poder me evitar para sempre.

É por causa dele que eu estou aqui, e agora ele vai ter que lidar com as consequências. Vou fazer com que esses dias sejam um verdadeiro inferno para ele.

Tomioka 🌊

Ouço do lado de fora os gritos de Shinobu, que bom que não estou lá. Não quero ter que lidar com isso agora. Ela vai passar dias, talvez até semanas aqui. Vou ter que vê-la todos os dias, respirar o mesmo ar que ela.

Tenho certeza de que Kochou não vai facilitar nossa convivência, então vou precisar me controlar muito para não perder minha paciência. Vão ser dias difíceis, insuportáveis.

Maldita hora que eu a trouxe para cá. Poderia ter caminhado mais alguns quilômetros até a casa dela. Poderia ter suportado as borboletas. Qualquer coisa era melhor do que isso. Se arrependimento matasse...

. . .

A noite logo chega, minha primeira noite ruim. Observo as empregadas subirem e
descerem as escadas levando e trazendo coisas do quarto de Shinobu. É estranho pensar nisso, ela vai mesmo dormir aqui.

Começo a me acostumar com a ideia, quando escuto a hóspede gritar:

- Tomioka. Venha aqui!

Começo a subir as escadas, desanimado. Será que ela está morrendo? Tomara que sim.

Entro no quarto depois de bater na porta. Me deparo com um espaço totalmente diferente do que eu vi desde a última vez que entrei. As cortinas não são as mesmas, foram substituídas por outras da cor lilás. A coxa de cama também. Na verdade tudo tem esse tom. O cheiro não é o mesmo. Olho em volta, percebendo cada mudança.

- Gostou? Eu mandei trazerem algumas coisas minhas. - Shinobu está de pé e mais disposta do que antes. Parece até mais feliz. Que estranho. - Já que vou passar muito tempo aqui. - Ela força um sorriso que eu conheço muito bem, ele me dá medo.

Não consigo encontrar palavras para descrever o novo ambiente, então apenas digo: - É bem... a sua cara. - Não satisfeita com a resposta, Kochou dá de ombros.

Quando saio do quarto de hóspedes, que agora é da Shinobu - temporariamente -, vou até a cozinha comer alguma coisa. Os funcionários acabaram de sair, então a casa está praticamente vazia agora.

Shinobu 🦋

Passei o dia na cama descansando (ordens médicas), me levantando de vez em quando. A única coisa que eu fiz foi comer e dormir. E tomar remédios. Agora que está de noite, não tenho sono e estou entediada. Me pergunto se Tomioka está conseguindo dormir.

Me levanto da cama e saio na ponta dos pés para não fazer barulho, mas a madeira range a cada passo meu. Começo a explorar o lugar e percebo que não conheço nenhum canto dessa casa. Cheguei aqui desacordada e não saí desde então. Tento não fazer movimentos bruscos enquanto desço a escada, não quero piorar minha situação.

A porta da frente está aberta - o que me surpreende -, iluminando a sala de estar com a luz da lua. É um lugar espaçoso, com estantes de livros, jarros com plantas e uma mesa de centro, com um bonsai perfeitamente podado em cima. Não é nem um pouco como imaginei.

O chão está frio, assim como todo o ambiente, as cortinas da frente balançam por conta do vento. Me encolho no meu hobbie enquanto ando até a parte de fora.

A primeira coisa que noto é o jardim. O gramado é extremamente verde, há algumas árvores ao redor: salgueiros e cerejeiras. Arbustos redondos cercam o caminho da entrada até a saída. Quando olho ao redor, percebo o porquê de a porta estar aberta. Tomioka está aqui fora, sentado sobre a área que cerca a casa. Ele está jogando pedras na linda fonte à sua frente, elas quicam sobre a água. O mesmo usa um pijama azul, da cor dos seus olhos. É estranho ver ele sem o uniforme de caçador.

Giyu parece extremamente calmo e tranquilo, nem parece que tem uma hóspede indesejada em sua casa. Preciso acabar com isso. Começo a ir na direção dele, o moreno só percebe minha presença quando digo:

- Solitário, como sempre? - Me enconsto em uma das colunas de madeira que sustentam o telhado e observo Tomioka se assustar ao me ver.

Ele tenta disfarçar, jogando mais uma pedra na fonte.

- Você não deveria estar acordada à essa hora - diz, sem me encarar. Entendo o que ele quer dizer, preciso descansar. Mas me sinto ofendida, de alguma forma.

- E você deveria?

Giyu não responde e continua lançado pedrinhas na água.

- Me dê algumas - digo, estendendo a mão para ele. - Quero tentar.

Ele me entrega as pedrinhas, meio receoso. Talvez tema que eu as jogue nele, o que eu gostaria muito de fazer.

𝔸𝕫𝕦𝕝-𝕧𝕚𝕠𝕝𝕖𝕥𝕒「 🌌 」|   𝙎𝙝𝙞𝙣𝙤𝙗𝙪 𝙓 𝙏𝙤𝙢𝙞𝙤𝙠𝙖Onde histórias criam vida. Descubra agora