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Tomioka 🌊

Me afasto de Shinobu lentamente, volto a encarar seus olhos brilhantes, admirando a beleza da sua cor. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas nos encarando. Não é uma situação desagradável ou constrangedora, mas eu gostaria de ter algo para falar.

— Tomioka... — a roxa começa a falar, mas não termina.

Ela quebra nosso contato visual ao colocar a mão no rosto, em sinal de vergonha. Antes que eu possa dizer alguma coisa, Kochou sai do cômodo correndo.

Não faço nada para impedí-la, apenas ouço o barulho dos seus passos apressados subindo a escada.

Quando fico sozinho, começo a refletir.

Eu. Acabei. De. Beijar. A. Shinobu. E fiz isso por vontade própria.

E o pior de tudo é que eu gostei.

. . .

Me sento à mesa para jantar. Peço a uma das empregadas, antes da mesma ir embora, que leve a refeição da Shinobu para o quarto dela. Imagino que ela não vá querer descer. E também não quero que ela faça isso.

Meus pensamentos retornam ao que acabou de acontecer. Ao que eu acabei de fazer. Tento me concentrar no sabor da comida, mas não consigo. Meu corpo está se alimentando, mas minha mente não se importa com isso.

Termino de comer e vou até o meu quarto. Tiro minha roupa. Tomo banho. Me visto de novo. Me deito na cama. Faço tudo isso ainda sem consciência, com a mente divagando. 

Olho fixamente para o teto. Tento relaxar e dormir, mas não consigo. Cada vez que fecho os olhos, vejo a imagem do rosto da Shinobu, de novo e de novo. Daí me lembro dos seus lábios rosados. Tão macios.

Passo o resto da noite e da madrugada acordado, olhando para a janela. Observo a lua ir embora e o sol nascer, aos poucos.

Logo bem cedo — ou no meu caso, bem tarde —, o corvo aparece. Fui convocado para uma nova missão.

Finalmente algo para me distrair.

Shinobu 🦋

Estou no meu quarto, recolhendo o que deixei espalhado por ele. As cortinas, minha colcha de cama. Tudo que o torna meu.

Começo a me lembrar da noite passada. Eu me senti bem e aquele beijo foi tão bom. Mas só naquele momento. Agora me sinto estranha, só quero fugir.

Quero sair daqui.

Quando termino, o lugar volta a ser um simples quarto de hóspedes. Começo a dobrar minhas roupas e colocá-las em uma bolsa, junto com as outras coisas. Me esforço um pouco para fazer tudo isso, porque meu abdômen ainda dói ao ser contraído.

Antes de sair do quarto, dou uma olhada nele pela última vez. Ficou tão sem graça sem as minhas coisas.

A bolsa é muito pesada, então acabo carregando-a com as duas mãos pelo corredor. Desço os degraus até a sala devagar, tentando não cair com o peso da bagagem. Antes que eu consiga sair pela porta, ela se abre. É o médico que me atendeu que entra por ela. Ele me encara com uma expressão confusa e ao mesmo tempo de indignação.

𝔸𝕫𝕦𝕝-𝕧𝕚𝕠𝕝𝕖𝕥𝕒「 🌌 」|   𝙎𝙝𝙞𝙣𝙤𝙗𝙪 𝙓 𝙏𝙤𝙢𝙞𝙤𝙠𝙖Onde histórias criam vida. Descubra agora