Sunghoon pov.
No dia seguinte decidi faltar a escola, estava me sentindo péssimo. Jungwon foi na minha casa e mais tarde me levou ao hospital junto de minha mãe. A notícia que recebi não foi das melhores. Eu tinha Hanahaki Disease, uma doença ainda desconhecida que, basicamente, invadia meu interior com flores, como consequência de um amor não correspondido, o amor unilateral que cultivei por não uma, mas sim duas pessoas, virou um jardim dentro de mim. Ótimo!
O médico disse que meu caso era o sétimo registrado em todo o mundo, e que um cirurgia ajudou um dos pacientes a se livrar daquela maldição. Seu corpo foi aberto e as flores foram retiradas uma por uma, numa operação que durou 13 horas e uns bons minutos.
– Prefiro morrer – disse convicto. Jungwon me encarou incrédulo com o que ouviu.
– Você não vai morrer – ele respondeu.
Minha mãe e o médico discutiam afastados de nós dois. Pelo que ouvi, não tinha muito o que fazer a respeito do meu estado, mas foi recomendado que eu ficasse um tempo no hospital em observação, apenas para evitar outras crises. Minha mãe concordou, então estava decidido que ficaria pelo menos uma semana trancando em um lugar com cheiro de remédios que não eram do meu gosto, até porque sou um viciado em pílulas antidepressivas, não analgésicos.
Jungwon deixou a sala só depois de me dar um longo sermão, dizendo coisas como "Pare de achar que vai morrer" e "Eu te proibo de não se formar comigo!". Era engraçado de assistir, eu gostava muito do jeito nervoso e mandão do meu melhor amigo, mas não podia prometer que iria ouvir o que ele disse.
Minha mãe, uma mulher alta e bonita no auge dos 38 anos, apareceu cerca de 1 hora depois, com uma mala de mão recheada de pertences meus. Roupas, material para higiene pessoal, um edredon e alguns livros – quatro pelo que consegui contar – foram deixados sob o sofá reservado para visitas preguiçosamente, e ela veio ao meu encontro, me observando com ternura que só uma mãe poderia ter. Sua palma direita pousou sob meu rosto com delicadeza, como se estivesse com medo que eu quebrasse com o toque.
– Eu te amo – ela proferiu, sorrindo para mim, mas seus olhos estavam vermelhos pos choro – Te amo muito, muito, muito, muito! Até o infinito! – e me abraçou. Pude sentir lágrimas sendo sugadas pelo meu sueter e retribui o toque, tentado passar acolhimento.
– Eu vou ficar bem, mãe.
– Eu sei que vai, meu anjo – colou sua testa na minha, depois deixou um beijo na mesma – Preciso ir, Hoonie. Prometo que venho o máximo de vezes que puder, ok? Te amo muito, filho – e saiu, me deixando sozinho naquele quarto frio e solitário.
Levantei e peguei um dos livros que estavam dentro de uma sacola de papel, e descobri que na verdade eram cinco livros. Minha edição especial de 10 anos de Coraline foi minha companheira durante a noite em que não consegui pregar os olhos. Li como se fosse a primeira vez, e me permiti chorar como um bebê, porque aquela poderia ser a última vez que estaria lendo meu livro favorito de novo. Abracei o exemplar contra meu peito e deixei que as lágrimas rolassem até encontrarem o pano que me cobria.
Me senti triste, vazio, apesar de meu interior estar repleto de flores. Chegava a ser poético poder dizer que tinha um jardim nascendo em mim. Era bonito e ao mesmo tempo trágico, como o romance de Romeu e Julieta, ou a morte de Jack em Titanic. Enfim, era bonito apenas para românticos como eu.
Coloquei o livro sob a mesinha que estava do lado da cama e olhei o relógio na parede. Marcava 04:44 da manhã, o que achei bastante irônico porque aquele número significa proteção e é a última coisa que tenho no momento.
Cansados, meu olhos foram caindo lentamente e me permiti descansar durante o início de uma nova manhã.
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double take
Fanfictionsunghoon aceitou tarde demais que seu amor estava lhe matando