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Nos dias que se passaram, recebi muitas visitas. Sunoo e Riki, que eu descobri ser namorado do coreano, vieram me ver, e sempre que Sunoo abria a boca, eu engasgava com pétalas. Se Riki soubesse que eu era apaixonado por seu namorado, não viria me ver depois da aula. Jungwon também veio, acompanhado de seus dois namorados, e não pude deixar de sentir um pouco de inveja daquilo, mas a felicidade pelo meu amigo falou mais alto, ver Jungwon sorrindo após várias ligações onde eu só ouvia seu choro baixo aqueceu meu coração. E os meninos, chamados Jongseong e Heeseung, pareciam gostar mesmo de meu irmãozinho, e aquilo me deixou tranquilo, porque quando eu morresse, ele estaria em boas mãos. Até porque eu vou morrer. E Jake também veio, todos os dias, ele sempre vinha, desde que nos reconciliamos, e mesmo com a dor em meu peito, lutei para recebe-lo sem cuspir nenhuma flor, mas assim que ia embora, me pendurava sob a descarga e deixava que todas aquelas pétalas intaladas saíssem, junto de um choro baixo.

O médico que me supervisionava estendeu aquela semana para 1 mês, porque meu quadro parecia piorar cada vez mais. Fizemos exames e eu pude ver pela primeira vez como meu interior estava. Coberta de flores, petúnias para ser específico, minha caixa torácica lutava pra manter meu coração funcionando, e o dr. Im não permitia que minha mãe tivesse qualquer resquício de esperança a cada visita. Minhas chances de voltar para casa eram nulas. Jungwon tentou me convencer várias vezes a fazer a cirurgia de remoção, mas aquilo era invasivo demais, e as chances de sair vivo eram baixas, não quis arriscar algo tão incerto. Minha mãe a cada dia que passava parecia aceitar, ainda contra gosto, que eu não iria completar 18 anos. Entreguei a ela um pen-drive com uma playlist para meu funeral. Ela ameaçou me bater quando ouviu minhas palavras, que sairam divertidas em comparação com o assunto.

– Eu quero uma festa bem animada, com doces e um bolo de baunilha! – ditava como uma criança organizando a própria festa de aniversário.

– Pare com isso, Sunghoon. Não vai ter festa nenhuma – minha mãe respondia séria. Ela não gostava nem um pouco que eu tratasse meu velório como uma festinha qualquer.

– Mas eu fiz até a lista de convidados! – fiz birra – Não chame a prima Doyeong, ela chora muito em funerais.

A mulher me encarava séria, como se ela mesma fosse me matar. Perdas são difíceis de lidar, principalmente para minha mãe que perdeu minha avó quando ainda era adolescente. Fazer piada com aquilo não era muito responsável, mas foi o único modo que encontrei de não ficar deprimido com meu fim trágico.

No dia seguinte,  Sunoo e Jake acabaram vindo no mesmo horário e entraram juntos para me ver. Foi um tanto inesperado encontrar minhas duas paixões unilaterais lado a lado e senti que iria morrer a qualquer momento. Nós ficamos a tarde inteira no jardim do hospital, comendo os lanches que Kim trouxe para fazer um piquenique. Senti que aquele era o melhor dia da minha vida. Ficamos juntos até um enfermeiro avisar que estava na hora das minhas visitas irem embora. Nos despedimos com um abraço apertado e ambos deixaram beijinhos nas minhas bochechas.

Cheguei no meu quarto radiante e risonho, tomei um banho demorado e passei os produtos que Sunoo me deu, terminei de ler o livro que ganhei de Jake e cai no sono, ainda com um sorriso nos lábios.

Aquele foi o melhor último dia da minha vida.

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