Escuro

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Era tudo tão silencioso, ao seu redor estava tudo escuro. 

Anna se sentia sozinha enquanto mantinha seus olhos fechados, estava sentada ao chão frio enquanto abraçava as próprias pernas despida de roupas, uma lâmpada suspensa apenas pelo seu próprio fio balançava sobre sua cabeça com sua fraca luz branca. Ela abria seus olhos para ver ao seu redor e nada era percebido, nada além de um escuro ameaçador que deixava todos os seus pensamentos inquietos. O silencio mantinha seu coração apertado, mas suas emoções se mantinham em silencio, não estava com medo, estava apenas sozinha enquanto sentia sua alma arder. 

-Anna. -Ela ouviu soar dentre a escuridão -Anna? 

Mais uma vez seus olhos se abrem, a imagem das cortinas balançando junto ao vento é sua primeira imagem. O sol entrava pela janela com raios finos que atingiam seus pés com meias cor-de-rosa, o ar da manhã estava gélido mas mesmo com o frio era possível ouvir pássaros cantando.

-Acorda, Anna. -A voz da sua mãe entrava pelos seus ouvidos -Você vai se atrasar para a escola. 

Anna se senta na cama, sua postura estava torta e seus olhos mortos enquanto encaravam seus próprios pés. Mais um dia havia começado e Anna dormirá apenas algumas horas, quem sabe minutos. A insônia persistia em seu corpo e em sua mente, seus pensamentos não paravam por um segundo, correndo e batendo dentro de sua cabeça sempre que a noite cai, seus medos e seus erros voltam átona fazendo-lhe companhia durante toda noite. 

Dormia pouco, ela sabia, e nesses pequenos momentos tudo que lhe restava eram seus sonhos, todas as noites sua mente lhe dava um lugar para permanecer longe de tudo, de todos. Mas ao amanhecer ela se via sem saída, a necessidade de levantar e cumprir seus deveres não podia ser ignorada e mesmo que desgostasse daquilo, ela teria de fazer cedo ou tarde. 

Ela se levanta, seu corpo dói e seus olhos estão inchados. Após uma longa noite solitária Anna precisava de descanso e um lugar para chamar de casa em que pudesse finalmente sentir-se bem. Ela caminha para o banheiro, seus pais estavam na sala, ambos a amam muito, cuidam dela e dariam suas vidas por Anna, era o que diziam. Mas ela sabe que existem coisas que não podem ser entendidas, dores que não podem compreender, o sentimento de solidão só é reconhecido pelos que passam por ela, Anna não quer incomodar, seus pais tem seus problemas e Anna tem os dela. 

-Bom dia. -Ela diz com um sorriso cansado que logo é retribuído pelos pais.

Des de pequena ela entende isso, foi o que seu pai lhe disse. 

  ''Seus problemas são seus, resolva-os e não incomode os outros, seja forte como lhe ensinei''

 ''Existem pessoas com problemas maiores que o seu!''

Anna entra no banheiro e fecha a porta, seus olhos se viram para o espelho. Sua aparência era desgastante, vazia, seus olhos carregavam olheiras fundas e seu rosto magro as acompanhava perfeitamente, seu cabelo caia sobre seus olhos que se enchem de lagrimas mais uma vez, sua mão tateava seu rosto. Anna encosta na parede, sentindo seu coração apertar e acelerar, ela escorre até o chão com a mão tampando a própria boca. Anna se sentia presa em seu corpo, o mesmo do qual ela odiava. Se ela pudesse apenas trocar de aparência, se soubesse como se amar, talvez tudo fosse mais fácil. 

Ela aperta o tecido de sua blusa enquanto o sentimento de desespero torna em sua mente, ela sabe que teria que ir a escola com aquele rosto e as pessoa a veriam. Ela se perguntava o que os outros pensariam e respondia suas próprias perguntas com xingamentos grotescos e frios, ela estava aos poucos se entregando a tudo aquilo, prestes a surtar mais uma vez. Anna coloca suas mãos em sua cabeça, segura seus cabelos e os puxa, a dor em sua alma era maior que sua dor física. Tudo que ela queria era que tudo aquilo apenas parasse, que o escuro deixasse de envolve-la. Sair daquele banheiro apertado era tão assustador, tudo poderia machuca-la do outro lado da porta, tudo poderia piorar o escuro em que ela se via.

Ela estava se cegando, novamente.

-Anna? -A voz de sua mãe vinha do outro lado da porta -Tudo bem, querida? Está quase na hora de irmos 

O sentimento é interrompido pela voz de sua mãe, alguém que se importa. O sentimento de pânico se afasta, o escuro se rompe. Anna se levanta num pulo, suspirando o mais fundo que podia e limpando a garganta. 

-Já vou, estou escovando os dentes -Por isso a voz abafada

Ela limpou seu rosto com agua gelada, não havia mais tempo para sentir, precisava apenas engolir seus problemas, como haviam lhe ensinado. 

O dia foi longo, Anna foi a escola como o esperado. Não falou muito ao decorrer do dia, não havia do que falar para ela, apenas observar o mundo ao seu redor e desejar se sentir pertencente dele. 

No fim, tudo se acaba e ela apenas retorna para sua cama ao cair da noite, esta é a vida de Anna. 

𝕺 𝖛𝖆𝖟𝖎𝖔 𝖉𝖊 𝕬𝖓𝖓𝖆 - Um livro sobre depressão e ansiedadeOnde histórias criam vida. Descubra agora