Água

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Não importa o quanto você nade, não vai chegar até a superfície. 

Era tudo escuro e gélido novamente, os movimentos de Anna era lentos pois não havia como se mover rapidamente, a agua era densa demais para isso. A garota abria seus olhos e os sentia queimar, tudo que via era uma imensidão azulada até aonde os olhos podiam enxergar, a água cobria todo seu corpo nu com seu toque gelado, tudo era silencioso e vasto. Anna aproveitou sua paz por alguns instante até que precisasse dar seu primeiro suspiro. 

A água entrou por suas narinas, queimando seus pulmões e ferindo seu corpo frágil e magro por dentro, debaixo do mar não é possível respirar e Anna acabou de perceber isso. Sua mente é tomada por desespero, a sensação de paz é rompida por dor enquanto seu corpo sente a necessidade de fazer algo para sair daquele lugar. O corpo humano precisa de ar, sem ele tudo em nós morre, perece sem hesitar e então se entrega para as profundezas escuras.

Anna não deseja perecer, ela luta com todas as suas forças para sair do mar e respirar como todos merecem, mas seu corpo pesa mais que seus desejos e sonhos e não importa o quanto ela tente, o quanto ele nade e persista, ela continua a afundar. A água continua a encher seus pulmões e essa sensação é torturante, Anna não merece sentir tudo isso. 

Mesmo fraca, com sua mente se quebrando aos pedaços e sem esperanças, ela continua tentando voltar à superfície, ela deseja respirar, é tudo que precisa e quer nesse momento mas ela continua descendo, cada vez mais fundo, cada vez longe dos seus sonhos com todas as suas esperanças já mortas. Seus gritos são inaudíveis, a água tampa sua boca e seus pedidos de socorro, ninguém pode ouvi-la naquela profundidade e ninguém virá para salva-la, mas mesmo assim Anna continua tentando, já involuntariamente pois seus sentidos estão se entregando à morte. Anna não sente mais seu corpo, seus gritos e movimentos eram inúteis e aos poucos ela se entrega ao oceano, não havia mais esperanças ou instintos, apenas o mar. 

-Respire! -Algo grita dentro dela, uma voz familiar.

Anna abre seus olhos, acorda assustada mais uma vez, sentindo seu pulmão queimar pois estava gripada e sua cabeça palpitar de dor. Ela percebe a escuridão em seu quarto, ainda estava de madrugada, olhando pro relógio de luz vermelha Anna percebe que ainda são quatro da manhã e ainda terá algumas horas antes de amanhecer. Ela sabia que não iria mais dormir.

Ela olha para cima, não sabia o que estava lá pois estava escuro e ela sabe que poderia ter qualquer coisa, essa é a graça do escuro. A incerteza da escuridão é amedrontadora tal como a do futuro. Ao amanhecer Anna completará dezoito anos, é seu aniversario e ela não gosta disso.

 ''Envelhecer... Está tudo acontecendo tão rápido'' 

Ela começa a se mover na cama de um lado para o outro, inquieta.

 ''Muito rápido, logo vou sair de casa... Faculdade, trabalho?''

O medo e a incerteza do futuro é sufocante

 ''Eu não estou pronta pra isso, eu não vou conseguir''

Anna não tem esperanças pro futuro e crescer só faz as coisas piorarem, ela não espera muito de si mesma mas sabe que não deve incomodar seus pais com isso, ela vai precisar sair de lá

''Eu não quero... Não quero, não quero, não não... Não consigo'' 

O medo toma conta dela assim como o mar toma conta dos perdidos. A água preenche seu vazio em pânico. Anna se encolhe na cama, olhando para o relógio enquanto lagrimas escorrendo de seus olhos e inundam sua alma.

Logo vai amanhecer, Anna não quer ver a luz do dia novamente. Não importa o quanto ela fuja ou se esconda, quanto mais ela tentar, mais ela vai afundar.

𝕺 𝖛𝖆𝖟𝖎𝖔 𝖉𝖊 𝕬𝖓𝖓𝖆 - Um livro sobre depressão e ansiedadeOnde histórias criam vida. Descubra agora