Prólogo

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"- Já sabe o que fazer. - disse Clifford.

- Sim senhor. Os dados já estão sendo apagados do sistema. Será como se ele nunca houvesse existido.

- E Cheryl?

- Sua filha o aguarda na sacada, senhor.

Por mais que o nome carregasse sua fama, ser um mafioso não era nada como as pessoas pensavam. Não matamos por diversão e não roubamos por crueldade. Agimos perante regras e leis, como qualquer outro cidadão.

Mas não poupamos os pecadores.

- Cheryl, querida?

- Sim, papa?

Clifford se aproxima de Cheryl sem esboçar qualquer emoção. Sabia o que a filha achava de seu trabalho, e tentava constantemente mudar a concepção da menor. Eles não eram monstros. Aquela era sua família, que a protegia a qualquer custo. E um dia ela tomaria frente de tudo aquilo.

- Você parece cansada. Não quer ir descansar? - pergunta preocupado, colocando sutilmente uma mecha ruiva atrás da delicada orelha de Cheryl.

- O clima está agradável aqui fora. Obrigada. - ela se desvencilha de tal gesto dando-lhe as costas e encarando a imensidão do horizonte.

Cheryl odiava o trabalho de seu pai. Odiava saber que assumiria algo que abominava. Algo que nunca quis para si.

Mas aquela havia sido a única viagem da qual a ruiva não teve total desgosto. Houvera conhecido uma pessoa ali, que lhe chamou muito a atenção.

Apenas trocaram rápidos olhares, mas foi o suficiente para não conseguir tirá-la de seus pensamentos.

Sim, ela.

Uma mulher.

- Filha?

- Uh? - a ruiva é tirada de seus devaneios por um Clifford visivelmente preocupado.

- Você não parece bem, vamos comer algo antes de você ir descansar.

- Papa...

- Não foi um pedido, Marjorie.

Clifford dá passagem para a menor que passa a caminhar em sua frente, quando de repente um golpe é sentido contra seu peito, derrubando-o no chão.

- PAPA!

- C-Cheryl...

- SOCORRO, ALGUÉM AJUDA POR FAVOR. ELE FOI BALEADO!

Entre soluços e lágrimas de desespero, Cheryl se ajoelha ao lado de seu pai e pressiona suas mãos trêmulas na região do ferimento, afim de estancar o sangue. Seu pai esboça uma careta de dor enquanto tenta respirar.

- SOCORRO!

- Filha... Por.. por favor...

- Papa, não... Vamos tirar você daqui e...

- Eu quero que me prometa, Cheryl.

- Papa...

- P... - a menor se desespera ao constatar que Clifford agora se engasgava com seu próprio sangue. Ela rapidamente retira as mãos do peito de seu pai, fazendo-o soltar um gemido de dor. - Me prometa que vai cuidar deles.

- Papa, eu não posso...

- Prometa, Cheryl.

Dois seguranças de Clifford chegam ao local acompanhados do corpo de bombeiros. Eles colocam Clifford numa maca e o levam pelo saguão, em direção à saída. Os olhares de todos estavam sob eles. Principalmente os dela.

- Eles são sua família. - diz Clifford segurando o braço da ruiva antes de passar pela porta, deixando a mesma para trás com um coração apertado e o rosto banhado em lágrimas.

- Eu prometo... - disse num sussurro antes das portas da ambulância se fecharem, levando a única família que lhe restara."

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