Capítulo 4: O Reencontro

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- Jace?

Os olhos dele se abriram, quando o chamei pelo nome da porta do quarto do hospital. Estavam virados para o teto, ainda assim, eu podia vê-los: lindos e negros. Os mesmos olhos que eu havia fitado, incontáveis vezes, e ainda assim, muito longe do suficiente.

Ele mexeu os dedos das mãos. Máquinas apitavam ao redor, um retinir metálico constante. Eram as máquinas que o haviam mantido vivo durante todo aquele longo período. Elas haviam respirado por ele, alimentado o seu corpo, através de fios ligados à sua pele e carne.

Eu respirei fundo. Minhas pernas travaram e não consegui avançar mais nenhum centímetro. Jace estava vivo. Vivo e consciente, pela primeira vez, em dois meses. Ele seria capaz de me ouvir e enxergar. Mas será que se lembraria de mim? Sentiria as mesmas coisas que havia me confessado sentir antes de entrar em coma? Ou fingiria que nada havia acontecido?

E se eu tivesse esperado semanas a fio por um homem que não me amava?

Ou pior, um homem que não me reconhecesse.

Aquelas dúvidas bombardeavam a minha mente como um campo de batalhas. A insegurança tomava conta de mim, me cegava e ensurdecia para todo o resto. Eu precisava acalmar aquele nervosismo.

Obrigando minhas pernas a se mexerem, eu me aproximei da cama, com uma lentidão excruciante.

Ele parecia pensativo. Era como se não tivesse percebido a minha presença. Ele tinha mesmo me escutado chegar? Tinha ouvido quando eu chamei o seu nome?

Então, porque eu não sabia mais o que fazer ou como agir, eu estendi a minha mão, com cuidado, e segurei a dele. Exatamente como fiz, dia após dia, todas aquelas semanas.

Os olhos de Jace, então, se voltaram para mim. Eu me preparei para o vazio neles. Em vez disso, eles se arregalaram levemente, as pupilas dilatando. Havia alguma coisa ali. Alguma coisa além do simples reconhecimento, que já seria muito bom naquele momento.

Jace mexeu os lábios, mas a voz não saiu.

E foi o bastante para eu ter um ataque de pânico.

- Ele acordou há menos de duas horas. Passou quase todo o tempo dormindo depois disso, por causa dos sedativos – a enfermeira disse, entrando no quarto. Em suas mãos, havia um equipamento para medir pressão. – É normal estar um pouco confuso, mas a consciência vai retornando com o tempo.

- Você sabe se ele tem memória?

- Ainda não podemos saber, mas todas as funções cerebrais foram preservadas – ela circulou a cama. – Ele ainda não falou com ninguém. Você é a primeira pessoa a qual ele reage desde que acordou, na verdade.

Os dedos de Jace fizeram cócegas na palma da minha mão.

Sorrindo, apertei seus dedos com o máximo de força que me permiti sem machucá-lo. Ele fechou os olhos, parecendo relaxado.

Quando a enfermeira terminou de monitorar os sinais vitais, virou-se para mim com as sobrancelhas levemente erguidas.

- Você sabe que acabou o horário de visita, não é?

- Sinto muito. Eu poderia ter mais alguns minutos com ele, por favor? – perguntei, esperançosa e ela assentiu.

- Fique o tempo que quiser, ok? Só não deixe ele se esforçar demais.

Teu Para O Que Quiser (#2)Onde histórias criam vida. Descubra agora