𝟐.

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EMERAUDE.

Observo o papelzinho nas minhas mãos e releio as letras escritas nele repetidas vezes

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Observo o papelzinho nas minhas mãos e releio as letras escritas nele repetidas vezes. De acordo com a minha mãe, era aqui que Johnny Lawrence estava morando agora. Lembro-me perfeitamente de logo antes de eu entrar na reabilitação, ele estava alugando um apartamento meio merda perto do centro da cidade. Muitas coisas mudam em dois anos, então não estranho que ele tenha resolvido trocar os ares pra não lembrar tanto das coisas do passado. Talvez ele quisesse se desprender das lembranças da minha pré-overdose, onde eu apareci na porta do seu apartamento completamente chapada atrás de uísque barato.

Ainda que eu não me lembre claramente dos detalhes do dia da minha overdose, os flashs na minha cabeça são o suficiente pra montar a cena do crime perfeita. Após ter me enchido de cocaína, bati na porta da casa de Johnny atrás de uísque. Ele não entendeu bem, vi o medo nos seus olhos de me ver naquele estado e me senti coagida. Não demorei pra fugir de volta pra casa. Foi literalmente um intervalo de minutos do momento que cheguei em casa até o apagão repentino que tive, acordando sendo levada numa maca naquele corredor exageradamente branco de um hospital. Os olhos assustados da minha mãe acompanhados do semblante preocupado de Daniel passavam como um borrão pela minha visão. Ainda tenho pesadelos com aquele maldito dia do cacete.

Passo o polegar levemente sobre o papel escrito com caneta. Levanto os olhos, lendo os números indicados pela folha em uma das portas brancas da pequena vila. Então, era ali que Johnny estava morando. Não faço a mínima ideia se ele está em casa. Não quis avisar e correr o risco de estragar a surpresa. O conheço bem. Quando recebesse uma ligação minha avisando que estava de volta em West Valley, ele estaria parado na minha porta em dois minutos.

Assim que avanço os passos na frente da sua porta e respiro fundo, me preparo mentalmente para bater na mesma e ver seu rosto após dois anos. Antes mesmo que eu consiga, uma voz me impede de realizar minha ação.

━ Oi? O sensei não está.

Eu viro o rosto levemente, seguindo com os olhos na direção da voz que me chamou. Agora, estou fitando um garoto um pouco mais alto que eu. Ele tem visivelmente traços latinos e os cabelos pretos um pouco encaracolados. Está usando uma camisa preta e um short flexível da mesma cor. Sua pele está suada, o que indica que provavelmente fez algum tipo de esforço antes de chegar até aquele lugar.

━ Perdão? ━ franzo a testa.

━ Está procurando o Johnny, não é? ━ concordo. ━ Ele só chega daqui a pouco. Está no dojô, é meu sensei.

O sorriso bobo no rosto do pateta me faz crer que ele tem um carinho tão grande por Johnny quanto eu. Isso me faz coçar a garganta. Então, no tempo que eu estive longe, Johnny Lawrence arrumou mais duas crianças pra criar? Estou incomodada.

━ Ah. ━ é o que consigo dizer.

Ainda com a expressão leve, o garoto acena com a cabeça e se vira na direção da porta contrária da casa de Johnny. Então, eles eram vizinhos. Ótimo. Devem mesmo serem bem amigos.

━ Ei, garoto ━ se virou pra mim. ━ Qual é o seu nome?

━ Miguel. Miguel Diaz. ━ passou os dedos pelos cabelos escuros. ━ E o seu?

Pressiono meus lábios um contra o outro.

━ Emeraude ━ ele fez uma careta fraca. ━ Ah, porra, Emme.

━ Beleza ━ ele ri. ━ Emme é melhor.

Miguel estende sua mão na minha direção e eu logo abaixo os olhos na direção de seus dedos.

━ Prazer, Emme. Gostei do seu estilo, é irado.

Bom, pelo menos o moleque é educado. E, se elogiou meu estilo, já ganha minha simpatia automaticamente.

Aperto sua mão também, deixando um sorriso nascer no canto da minha boca.

━ Hum, obrigado, Diaz. ━ agora, quem está sorrindo é ele.

Durante aquele pequeno momento que estamos apertando a mão um do outro, sons de passos chamam nossa atenção. Agora, meu coração erra suas batidas. Minha respiração se descontrola por um segundo com a imagem que aparece diante de mim.

Johnny Lawrence está bem na minha frente, com uma faixa preta amarrada na sua cabeça e com suas típicas roupas de tio. Blusas de manga longa e uma calça rasgada. Agora, estamos encarando um ao outro completamente congelados. Seus olhos azuis parecem que ganham ainda mais cor e vejo sua pupila dilatando. Escuto também um grunhido vindo de Miguel. Só então percebo como estou tremendo, ainda segurando a sua mão.

━ Merda. ━ solto sua mão.

Agora, Johnny olha pro Diaz e intercala os olhos entre nós. Ele não consegue dizer nada, assim como eu.

━ Emeurade. ━ o mais velho disse, com um sorriso crescente no rosto.

Não me seguro mais. Não consigo. Me jogo em seus braços e o abraço da forma mais forte que consigo, como se não quisesse nunca mais sair dali de perto. Merda. Dois anos sem viver um dia a dia normalmente com esse cara, com ele fazendo-me apaixonar cada dia mais pelo karatê e tendo a figura paterna mais incrível possível foi como uma prova de vida. Uma porra de prova de vida que eu, sinceramente, não quero passar nunca mais.

━ Eu... tô atrapalhando? ━ a voz de Miguel interrompe aquele momento tão crucial pra mim.

Ele parecia ser um pouco lesado para um aluno de Johnny, como dito. Mas, pelo visto, eles tinham uma relação verdadeira.

━ Não, garoto ━ Johnny diz, acariciando meus cabelos. ━ Venham, tem cerveja lá dentro.

━ Sensei, ainda são três da tarde. ━ Diaz coça a nuca.

Percebo que Johnny irá responde-lo, mas sou mais rápida.

━ Não se nega uma cerveja à ninguém, moleque ━ me afasto de Johnny. ━ Entra aí.

Johnny e Miguel trocam olhares diante da minha ordem. Então, ambos balançam os ombros e entramos na casa de Lawrence, logo após ele destrancar a porta com a chave. Por ter intimidade o suficiente pra isso, já me direciono até a geladeira e pego três garrafas de cervejas nas mãos. Distribuo as duas pros dois homens presentes e me sento do lado de Miguel no sofá, já que Johnny se aconchegou na poltrona bem em frente a nós.

O silêncio se instalou na casa. Não sou de me incomodar com quietude. Na real, até prefiro. Porém, eu já tinha percebido que o tal Diaz era bem tagarela.

━ Então... Quem é você, Emme? ━ perguntou.

Fito os olhos castanhos de Miguel para, logo em seguida, encarar Johnny de volta enquanto tomo um gole da minha cerveja. Meu quase pai se mexe na poltrona, acho que se preparando pra começar a falar sem parar.

━ É uma longa história, garoto. Quer mesmo ouvir? ━ pergunto.

Miguel olha as horas no relógio de pulso.

━ Bom, não tenho nada melhor pra fazer ━ me olhou novamente. ━ E também acho que podemos ser bons amigos, Emme. Estou curioso.

Pessoas extrovertidas me irritam. Mas não é o caso de Diaz.

Até que ele me passa uma boa energia.

E, claro, era ele quem iria me explicar sobre o tal Robby Keene. Se era tão grudado com Johnny, deve saber quem é o sujeito de cabo à rabo.

Quero detalhes de todo esse tempo. Sem deixar escapar nenhum. Estou de volta, e não vou mais ter piedade. Nunca mais.

𝐄𝐔𝐏𝐇𝐎𝐑𝐈𝐀, 𝗰𝗼𝗯𝗿𝗮 𝗸𝗮𝗶.Onde histórias criam vida. Descubra agora