Capítulo 06

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Após a partida de Bill e os preparativos para o funeral de Eyota, Makawi finalmente dormia. Estava tendo um sono agitado, repleto de pesadelos nos quais coisas ruins aconteciam ao cowboy. Sentia-se culpado por tê-lo expulsado da aldeia, ainda mais depois de saber que seus sentimentos por ele seriam correspondidos, mas naquele momento de dor, sem parar para analisar as coisas, tal decisão lhe parecera à melhor a ser tomada. Agora já não tinha tanta certeza disso.

Mal sabia ele que o loiro estava correndo grande perigo naquele exato momento.

Andando a passos lentos sob o sol escaldante fazia duas semanas, Bill sentia que iria desmaiar a qualquer momento, suas pernas começavam a fraquejar e andar a esmo, sem encontrar uma única cidade sequer tornava tudo ainda mais insuportável.

Sobre sua cabeça, três abutres grasnavam de forma agourenta, talvez esperando o momento em que ele iria cair morto de cansaço no meio do nada e eles mergulhariam para devorá-lo vivo, começando pelos olhos, claro! No entanto algo pior que os abutres se movia de forma sorrateira até estar próximo o suficiente de Bill para que ele não pudesse mais fugir.

– Homem-branco! – sussurrou Tallutah enquanto prendia Bill pelo pescoço com um dos braços, encostando uma faca de osso contra a jugular do loiro, obrigando-o a parar de se debater para tentar fugir. E em poucos segundos o cowboy era arrastado até o cavalo do outro e amarrado com cordas improvisadas com... Cabelo castanho?

– Isso mesmo que pensar, eu matar homem-branco-bicho* e outros homem-branco de Forte. – não precisou de muita explicação para compreender que Tallutah havia seguido os cowboys até o Forte, dado um jeito de se infiltrar e matar a todos. Sempre havia ouvido de Makawi que o outro era um ótimo guerreiro, capaz de derrubar um bisão com as mãos e matar mais de cem homens com menos de um feixe de flechas. E ali estava a prova.

Ao olhar sobre o lombo do cavalo, preferia não tê-lo feito. De dentro de uma bolsa de couro cru, espiavam os escalpos dos que residiam no Forte, todos ainda com resto de sangue e textura de pele fresca.

– Faltar você! Homem-branco. – e agora era ele quem estava a mercê daquele ser enlouquecido e pelo que podia ver através da quantidade de escalpos na bolsa de couro, Tallutah estava sedento por sangue de "homens-brancos".

Sendo puxado pelos cabelos como um animal indo para o abate, Bill pensou que não havia muito que pudesse fazer. Era mais fraco que Tallutah, estava em desvantagem, por não ter mais sua arma e ainda corria o risco de ter seu pescoço aberto em dois, caso tentasse atacá-lo. Por aquele momento, achou melhor se manter quieto, mas isso não queria dizer que havia desistido de lutar por sua vida.

O que ele não sabia, era que perto dali um dos indígenas da aldeia de Makawi estava tentando localizar bisões para as próximas caçadas e viu os dois passarem, Bill com os pulsos amarrados por aquela corda de tonalidade múltipla que era puxada com violência por Tallutah, o qual toda a aldeia pensava que havia sido morto durante a invasão dos homens-brancos. Após segui-los por algum tempo, o indígena encontrou o esconderijo do outro, uma cabana improvisada feita de algo parecido com o que Bill usava quando foi capturado, mas, em uma tonalidade diferente. Aquelas peças eram de um azul-céu-da-noite com detalhes que brilhavam como o sol.

O indígena, que se chamava Ptaysanwee* viu Tallutah chutar Bill nas costas com violência para dentro da cabana e então olhar por sobre o ombro para conferir se não haviam sido seguidos. Ptaysanwee estava há uns bons metros de distancia e por isso passou despercebido da visão do guerreiro. Então, recuando lentamente, retornou até onde havia deixado seu cavalo, bem longe do local onde os dois estavam, montou-o e saiu e disparada pensando apenas que (o agora novo) chefe Makawi precisava saber daquilo. Afinal, apesar de ele ter expulsado o homem-branco da aldeia, ninguém ali queria vê-lo morto, muito menos pelas mãos de alguém que era considerado um deles.

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