Capítulo 02

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As horas se arrastaram e aos poucos o sol que fervia os miolos dos dois deu lugar a uma lua cheia e pálida no céu. E apesar de que um pele-vermelha estava sofrendo junto com ele, Bill não se sentia satisfeito. Pelo contrário, estava muito frustrado, afinal aquele Indígena jovem havia sido o único que tentou ajudá-lo. Primeiro curando as feridas feitas pelas crianças e depois lhe dando o que comer. Pelo pouco que havia compreendido o Indígena grande e de aparência madura com um gigantesco cocar na cabeça era o chefe e o garoto havia desobedecido a uma ordem, lhe oferecendo o que comer.

– São piores que animais... Punindo um dos seus por ter compaixão de um prisioneiro. Jamais vou conseguir entender como funcionam as coisas por aqui. – disse Bill, pensando que não era compreendido.

– Não somos animais, isso é regra da aldeia. É preciso seguir, até mesmo eu, filho do chefe da aldeia preciso obedecer meu pai. – a voz que ouvia há algum tempo, falando naquele dialeto incompreensível, saiu clara em um inglês de vocabulário limitado, mas, facilmente compreensível. Bill se mexeu dentro das cordas que o amarravam, tentando virar-se para encarar o jovem Indígena.

– Você fala a minha língua? Porque diabo não falou comigo antes? – estava indignado com aquilo. Em resposta ouviu um risinho divertido do outro e desejou estar livre para poder esganá-lo com as próprias mãos.

– Qual é a graça? Até agora eu pensava que você não sabia nada do meu idioma! Vocês todos são cheios de truques e artimanhas! Malditos selvagens! – disse por entre dentes, pois agora que confirmou o fato de que um deles o compreendia, não podia correr o risco de atrair a atenção dos outros.

– Selvagem são os seus, matam sem ser para comer, matam apenas porque gostam de ver o sangue correr e sujar a terra. Vocês selvagens, nós não! – a firmeza e a confiança com que Makawi dizia cada palavra, fez com que Bill ficasse perplexo e boquiaberto.

– Mas... Como você aprendeu o meu idioma? E de uma forma quase natural? – estava intrigado e precisava saber. O Indígena riu novamente e encostou a cabeça no totem, olhando para o céu limpo, onde a grande e majestosa lua era a atração principal.

– Eu conto, mas promete não falar para ninguém. – Bill concordou. Não havia mais nada que pudesse fazer ali para passar o tempo e agora que havia descoberto que o outro falava a sua língua, não deixaria tal oportunidade fugir.

– Muitas e muitas luas atrás, carroça com professora quebrou perto da aldeia. Mulher branca com medo, mas mostramos amizade, ela confiou e passou tempo em aldeia, até arrumarmos carroça. Enquanto ficou aqui, ela ensina aldeia a falar língua de homem-branco. Disse ser forma de agradecer por toda bondade. – as peças começaram a fazer sentido para Bill, então foi uma professora quem ensinou a aldeia. Mas se fazia tanto tempo assim, será que todos falavam inglês?

– Me diga uma coisa, todos vocês falam a "língua do homem-branco"? – riu divertido ao imitar a pronuncia acentuada de Makawi. O lado bom das noites ali era que, ao contrário dos dias escaldantes, o anoitecer trazia uma serenidade e uma refrescancia únicas. O que tornava tudo um pouco mais suportável.

– Não, só Indígenas que já chegaram na idade de caçar aprenderam língua de homem-branco. Regra do meu pai, chefe Eyota. – Tal revelação fez com que Bill arregalasse ainda mais os olhos, nunca imaginou que um pai seria cruel a ponto de amarrar o próprio filho em um totem de madeira sob o sol violento que fazia naquela aldeia durante o dia.

– O homem do cocar gigante é seu pai? Garoto, você realmente está encrencado! – disse enquanto sorria divertido. A tensão sufocante sendo parcialmente amenizada por aquele pequeno diálogo. Mais do que o sol, a fome, o frio, o desconforto, sentia falta de poder conversar com alguém que pudesse lhe responder.

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