Capítulo 03

92 6 0
                                    


– Minha resposta é que eu prefiro morrer a compactuar com um homem que tortura seu filho, que apavora seu povo e usa do medo e da violência para mantê-los sob seu controle! Não, não irei ajudá-los! Nunca. – para sua surpresa, ao invés de uma explosão de ira espontânea, Eyota sorriu, exibindo os dentes amarelados e gastos nos lábios cor-de-caramelo, sua pele flácida e sofrida se repuxando para os lados no processo. Bill, inconscientemente deu um passo para trás perante aquela reação.

Makawi, levante-se meu filho! – após o chefe dizer aquela frase, que o cowboy mais uma vez não conseguiu decodificar, viu o jovem indígena que havia tentado ajudá-lo se levantar, cabeça sempre baixa, os cabelos negros e longos ocultando sua expressão envergonhada. O homem disse mais alguma coisa e o rapaz ergueu o rosto, deixando a vista sua expressão de frustração, vergonha e... Raiva?

A partir de hoje, você será responsável por cuidar deste homem-branco, não o perca de vista, não o deixe fugir, pois se nós o re-capturarmos, ele morrerá e você pagará com a sua vida pelo descuido. Compreendeu? – Bill viu os grandes olhos negros de Makawi se arregalarem e deduziu que o velho havia lhe dito uma ameaça.

E tem mais uma coisa, ele não pode saber desta condição. Precisamos ver até onde ele irá para fugir, para voltar ao Forte, entendeu?

Sim, pai. – respondeu e então virou o rosto na direção de Bill lançando-lhe um olhar amargurado. Não estava conseguindo entender nada, mas sabia que havia algo errado ali e que envolvia a ele e ao jovem Makawi.

– Você ficar sob guarda de Makawi, ele cuidar de você, alimentar e vigiar. Não poder partir da aldeia. – declarou Eyota e mal estas palavras foram pronunciadas, Bill esboçou um brilho nos olhos, pois viu ali uma chance de fuga, já que o rapaz era fisicamente mais fraco que ele e por isso fácil de subjugar.

Em seguida o chefe fez um gesto com a mão, indicando para que fossem embora. Saíram da tenda Makawi e Bill, quase ao mesmo tempo, e o jovem indígena o levou o homem-branco até sua própria tenda, onde estendeu algumas peles de animais e disse que ali seria sua cama.

O resto da noite se passou tranquila, comeram a carne do búfalo que sobrara com um bom copo de água e foi então que Bill percebeu o quanto sentira falta daquelas coisas simples como comer e beber e deitar-se em uma cama parcialmente confortável. Mas ainda assim, sua idéia de fugir permanecia viva e se tornava mais forte a cada dia.

Durante a semana que se passou ele fingiu estar conformado com a sua atual sentença, quando na verdade estava coletando informações sobre a aldeia para que pudesse escapar. Sabia onde eles guardavam os cavalos e a que horas iam dormir, claro que sem seu relógio de bolso era difícil precisar o tempo, mas isso sempre acontecia quando a lua estava bem no centro do céu, visível através da planície.

***

E quase um mês depois de ter começado a dividir a tenda com Makawi, sentiu que tinha a confiança do rapaz e segurança suficiente para fugir sem deixar rastro. Naquela noite, depois que todos foram se deitar, ele levantou, sempre encarando o jovem indígena, que dormia de costas para ele, ressonando baixinho. "Está ferrado no sono", pensou enquanto saia da tenda. Mas o que ele não sabia era que Makawi permanecia desperto e viu quando Bill saiu, levantando-se alguns minutos depois. Munido de seu arco e flecha.

Bill se esgueirou até onde os cavalos estavam e com muito tato convenceu um deles a sair, oferecendo uma cenoura que roubara da horta da aldeia há alguns dias. O animal, que tinha pelo castanho com marcas brancas no fuço e patas não pensou duas vezes e abocanhou o legume, mastigando-o ruidoso.

Por mais que tivesse experiência em montaria, jamais havia feito aquilo sem uma sela, rédeas e esporas, mas a necessidade de fuga era maior e com alguma dificuldade, conseguiu montar no animal. Suas pernas escorregaram para os lados conforme o cavalo começou a trotar e ele segurou a crina do bicho com mais força que o necessário, o que fez o cavalo relinchar dolorosamente.

Cowboys & índiosOnde histórias criam vida. Descubra agora