Capítulo 01

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Ele sempre achou um bom cowboy, um bom soldado, abatia peles-vermelhas com tanta facilidade que não havia quem pudesse dizer o contrário. Deveria ser o um orgulho para seu país e ainda assim, naquele momento, estava em uma situação deplorável, amarrado em um totem indígena, sendo observado por aqueles selvagens como se não passasse de uma atração barata.

Chamava-se Willian Denbrough, mas seus amigos da tropa o chamavam de Bill. Tinha saído da formação para caçar por diversão e acabou ficando sem balas e sendo rendido por uma aldeia numerosa que o levou como prisioneiro. Isso foi há três dias.

Estava com fome, sede e seus miolos pareciam fritar dentro do crânio sob aquele sol forte, sentia os fios loiros grudarem por sua nuca e testa, decorrente do sol incessante sobre sua cabeça e a garganta arranhar e arder por falta de algo que a hidratasse. Mas ainda assim se manteve firme, não demonstraria qualquer sinal de fraqueza perante aqueles animais em forma de gente.

O cansaço e a falta de energia já começavam a ser presentes e Bill acabou adormecendo, mesmo sob o calor escaldante e com a cabeça encostada na madeira dura. Teve um sono sem sonhos que teria durado mais se alguém não tivesse lhe atirado uma pedra na têmpora. Acordou com a dor do impacto e olhou para os lados, procurando quem era o agressor. Logo viu duas crianças índias rindo divertidas enquanto soltavam as pedras que ainda estavam nas mãos e corriam para a tenda dos pais.

– É por isso que nós acabaremos com todos vocês! Animais! – gritou o cowboy enquanto mexia as pernas, sem sucesso, chutando a terra sob ele em um acesso de fúria que teria continuado se não sentisse o toque úmido de algo no lado de sua cabeça. Olhou para o lado, encontrando um jovem indígena com uma tigela improvisada, feita de barro, cheia de água.

O rapaz ao perceber que fora descoberto fez menção de ir embora, mas algo o manteve ali, cuidando do ferimento daquele homem-branco. Ao contrário dos outros da aldeia, ele achava que não era certo mantê-lo aprisionado como um bicho que seria abatido para comerem. Infelizmente, mesmo sendo filho do chefe da aldeia, não tinha autoridade para libertar o outro.

Não tenha raiva das crianças, elas não sabem o que estão fazendo. – disse o jovem no dialeto da aldeia, o que soou totalmente confuso para Bill, o qual permaneceu em silêncio enquanto tinha sua ferida lavada e coberta com uma pasta de ervas.

O indígena, que se chamava Makawi*, era muito cobiçado pelas jovens solteiras da aldeia, mais por suas habilidades na caça e no domínio de cavalos, do que por seu porte físico, que era miúdo, se comparado com os demais. Sua pele era cor de terracota* e os cabelos, longos e presos em uma trança, negros como a noite, assim como seus olhos, duas grandes pupilas profundas.

– Meus companheiros de tropa virão em breve e vocês irão aprender o que acontece quando se prende um cowboy* e quando isso acontecer, que Deus tenha piedade das suas almas, é tudo o que eu posso dizer. – Bill estava tomado pelo ódio e pela frustração de não poder revidar aos ataques e mesmo aquele gesto de gentileza em meio a toda a agressividade com a qual foi tratado, ainda não era o suficiente para fazê-lo mudar de idéia quanto a sua opinião em relação aos indígenas.

Me entristece notar que seu coração ainda esta tomado pela vingança e ira, espero apenas que no futuro, consiga acalmá-lo. – Makawi murmurou enquanto recolhia a tigela de barro e os outros produtos que levara para tratar do ferimento do outro sob aquele rancoroso olhar de pupilas verdes. Sabia que o homem-branco não compreendia o que ele dizia enquanto que ele, por sua vez, conseguia discernir algumas palavras por conta de uma breve convivência que tivera com uma colona que se perdeu e ficou alguns anos na aldeia.

Bill estava sozinho novamente, os relevos do totem arranhando e cutucando suas costas enquanto as cordas em volta de seus pulsos pareciam queimar. Aquele sol ainda iria deixá-lo louco, constatou enquanto tentava voltar a dormir.

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