NÃO TE CONHEÇO TÃO NO FUNDO PRA ENTENDER

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(Henry)

Quando papai morreu, uma parte de nós se foi, levando consigo as cores, a beleza e a alegria. Minha mãe, Catherine, entrou em estado profundo de depressão, praticamente não a víamos, ela não conseguia sair da cama e parou de trabalhar, com isso, nos mudamos para a casa de nossa avó materna, Mary, que apesar de ter se preocupado a ponto de nos socorrer naquele momento, não perdia uma oportunidade de destilar seu veneno sobre mim e minha irmã, Beatrice.

Mary passou a controlar nossas economias, já que não éramos maiores de idade ainda e mamãe não estava bem o suficiente para isso. Aconteceu tudo muito rápido a partir daí. No mês seguinte à nossa mudança, ela me mandou para um Colégio Interno para Jovens Cavalheiros e Bea para a versão "para Damas" do mesmo colégio, com isso, não podíamos nos ver, nem ver nossa mãe.

Foi torturante nas primeiras semanas, mas eu tive muita sorte, fiz um amigo incrível que me ajudou a passar por esse período difícil e se tornou meu irmão de outra mãe. Pez era mais alto e mais forte que eu, quando não estava de uniforme, suas roupas eram muito coloridas e brilhantes, o cabelo rosa contrastava perfeitamente com a pele negra e seu sorriso fácil e gentil. Não foi difícil nos entendermos, já que dividíamos o quarto e Pez entendia de avós malvadas.

Depois de dois anos, Bea terminou os estudos e começou a dar aulas de violão, mas Mary não aprovava, dizia que moças deveriam se concentrar em casar e cuidar do marido e dos filhos, a proibindo de continuar com as aulas. Assim, Bea foi levada de jantar em jantar e apresentada a todo rapaz ⸺ e velho ⸺ que Mary considerasse adequado.

Não demorou muito para encontrarem Bea desmaiada no quarto após uma dose cavalar de cocaína. Era uma resposta fácil e rápida para os problemas, que começou como um jeito divertido de fugir e relaxar.

Quando me ligaram para dizer que ela havia sido internada numa clínica de reabilitação, não me surpreendi, assim como não pude evitar o sentimento de culpa. Eu deveria estar lá com ela, deveria ter enfrentado nossa avó e a impedido de controlar a vida de Bea daquela forma, mas, o que realmente poderia fazer estando trancado naquele colégio? Precisava tomar uma atitude, era meu último ano e eu não aceitaria voltar para aquela casa, precisava tirar minha mãe e Bea do controle daquela bruxa velha.

Pez me ajudou com o plano, que era muito simples, na verdade.

Consistia basicamente em, assim que completasse 18 anos, reaver o controle financeiro sobre nossos bens e comprar uma casa em outra cidade, o mais longe possível dali.

Nos preocupamos em, primeiramente, pesquisar profissionais que pudessem atender minha mãe, pois ela estava cada dia mais deprimida, e Bea, que continuava internada na clínica há quase um ano. Depois de resolvida essa parte, vender nossa antiga casa e comprar uma nova foi fácil. Antes do fim do ano já havíamos arrumado tudo, então, só faltava enfrentar minha avó.

Como optei por não participar do baile de formatura, assim que a colação de grau acabou, despachei minhas malas para a cidade nova e segui para a casa de Mary. Pez me acompanhou para ajudar a carregar as coisas de mamãe.

***

⸺ Henry! ⸺ Bradou Mary, abrindo os braços assim que passei pela porta. ⸺ Venha cá, dê um abraço na sua avó.

Segui até ela e me deixei ser abraçado, arqueando as costas para que ela pudesse alcançar meus ombros. Seu perfume forte e doce me embrulhou o estômago e me desvencilhei o mais rápido que consegui, dando alguns passos para trás. Não queria ficar lá nem um minuto além do necessário.

⸺ Vovó, esse é meu amigo Pez ⸺ apresentei ao ver a cara desgostosa que ela fez ao olhar o moreno ao meu lado de cima a baixo.

⸺ Hm ⸺ resmungou, crispando os lábios. ⸺ E o que ele veio fazer aqui? ⸺ Questionou olhando novamente para mim. Seu tom não era mais gentil como quando me saudou instantes atrás, mas já esperava que aquela gentileza toda fosse pura falsidade.

Corações desatentosOnde histórias criam vida. Descubra agora