Henry é um jovem aspirante a escritor que se mudou, após um incidente que fez com que continuar com a sua avó fosse impossível, levando sua irmã e mãe. Na nova cidade conhece Alex, um advogado recém formado que se dedica a ajudar aqueles que mais ne...
Enquanto Alex falava, um filme passava em minha mente. A imagem dele entrando naquela casa se misturava às minhas, imaginar ele conversando com aquela mulher me embrulhou o estômago, eu não tinha ouvido falar dela desde que nos mudamos. Me peguei imaginando-a naquela cama, impossibilitada, e um sentimento de pena me invadiu, era estranho pensar nela assim, mas, de qualquer forma, isso não a impediu de fazer mais uma de suas maldades.
O fato de Alex ter ido lá escondido de mim me cortava o coração, foi uma traição, ele podia ter me perguntado, eu responderia qualquer pergunta dele. Sei que não sou a pessoa mais aberta sobre esse período da minha vida, mas pensar que foi mais fácil para ele mentir para mim! O que isso dizia dele? O que isso dizia do nosso relacionamento?
Eu me sentia oco, estava em choque, não tinha forças nem para chorar quando ele terminou de contar, fazendo questão de repetir várias vezes que não acreditava nela e me pedindo desculpas.
⸺ É melhor você ir embora agora, Alex. ⸺ Minha voz era apenas um fio, não conseguia olhá-lo, então apenas encarei um ponto no chão e torci para ele ir logo.
⸺ Henry, nós temos que conversar sobre isso.
⸺ Não! ⸺ Minha voz se elevou e ele arregalou os olhos. ⸺ Nós tínhamos que ter conversado antes de você mentir para mim e ir investigar minha vida. Agora sai, por favor.
Poucos minutos após ele deixar o quarto, Bea entrou. Eu estava deitado em posição fetal, coberto até os ombros e meu corpo todo balançava com meus soluços.
⸺ Henry, está tudo bem? Porque o Alex foi embora? Porque você está chorando? ⸺ Não recebendo respostas minhas, ela deitou ao meu lado e me envolveu em seus braços. ⸺ Oh meu bem, vem aqui. Vai ficar tudo bem, seja lá o que ele tenha feito, não vou deixá-lo chegar perto de você novamente.
Nora e June foram embora com Alex e ninguém entendeu o que estava acontecendo. O clima ficou muito estranho, ele não contou nada para elas, apenas saiu chorando porta afora, e eu não me sentia bem para lhes explicar, mas não foi preciso, Pez e Bea passaram a noite comigo, apenas me ouvindo chorar. Eles viram a caixa com o anel e a chave e deduziram que ele recusou meu pedido, mas não falaram nada, o que foi bom, pois eu desabava só de lembrar do rosto dele ao me contar tudo.
Na manhã seguinte, acordei mais calmo e mamãe levou café na cama para mim. Peguei no sono com minha irmã e meu amigo ao meu lado, mas acordei sozinho e me senti muito triste com isso.
⸺ Bom dia meu amor, dormiu bem? ⸺ perguntou ao abrir a porta, a voz dela era cheia de amor e carinho.
⸺ Até que sim, mãe, obrigado. ⸺ Sentei e apoiei as costas na cabeceira enquanto ela colocava a bandeja com panquecas e suco de laranja no meu colo.
⸺ Você quer me contar o que aconteceu?
⸺ Ah mãe, a senhora nem vai acreditar ⸺ disse num suspiro longo e pesado.
Entre uma garfada e outra, contei tudo para ela, reproduzindo exatamente as mesmas palavras que ele usou comigo.
⸺ Não, não pode ser ⸺ ela dizia levando as mãos à boca. ⸺ Henry, é tudo culpa minha, me perdoa.
⸺ Mãe, para com isso, como poderia ser culpa sua? ⸺ Eu ri e bebi o último gole do suco.
⸺ Eu mantive contato com a sua avó depois que nos mudamos para cá. Eu contei para ela sobre você e o Alex.
⸺ O QUE? ⸺ eu gritei, não podia estar ouvindo direito.
⸺ Desculpa filho, eu não queria te contar porque sabia que essa seria a sua reação.
⸺ Mas mãe, como você pôde? Depois de tudo que ela fez com a gente! ⸺ falei, exasperado.
⸺ Querido, ela é minha mãe, eu não consegui ficar longe, principalmente depois que ela ficou acamada. Pensei de verdade que ela tivesse mudado, mas pelo visto, não. ⸺ Ela tentou segurar minha mão, mas eu me afastei, levantando e colocando a bandeja na cama.
⸺ Eu não estou acreditando, mãe! ⸺ Parecia que o buraco dentro do meu peito havia dobrado de tamanho e o chão que apoiava meus pés tivesse sumido.
⸺ Eu sinto muito mesmo. Mas você disse que ele não acreditou nela, está tudo bem.
⸺ Não, mãe, não está tudo bem, ele nem deveria ter ido lá para começo de conversa. ⸺ Eu estava tão bravo, que minha voz saia mais alta do que pretendia.
⸺ Ele só queria conhecer mais sobre você, não fique tão bravo com ele.
⸺ Ele me traiu, mãe! ⸺ gritei ainda mais alto. ⸺ traiu minha confiança!
Eu tremia dos pés à cabeça. Era tanta coisa para processar... minhas unhas machucavam as palmas das mãos, mas eu não conseguia abri-las.
⸺ Filho... ⸺ Ela levantou e veio até mim, segurou meus ombros e eu olhei em seus olhos, nós dois estávamos chorando. ⸺ Ele cometeu um erro, eu também cometi, mas você não precisa deixar isso acabar com a história de vocês. Deixa a cabeça e o coração esfriarem e pensa melhor, depois conversa com ele mais uma vez.
E foi isso que eu fiz. Pensei por dias e dias inteiros enquanto ignorava suas mensagens. Ele me pedia desculpas a cada dez minutos, dizia que me amava, que estava arrependido, mas eu ainda não estava pronto para responder. Ainda me sentia vazio e, ao mesmo tempo, muito pesado, pensava se terminaria um dos meus melhores anos chorando.
Por volta do terceiro dia, minha mãe foi vê-lo e disse que ele estava arrasado, nós dois estávamos. Queria encontrá-lo ao menos para conversar, mas tinha medo, não sabia se conseguiria confiar novamente, era tão difícil!
Depois de uma semana longe de Alex, comecei a sentir que minha tristeza por estar longe dele era maior do que a decepção pelo que ele fez. Não conseguia dormir direito sem ele ao meu lado, a cama ficava vazia demais, e acordar sem a visão daqueles cachinhos bagunçados caindo por seus ombros largos deixava meu dia ainda mais cinza.
Estávamos no meio do inverno, mas seu sorriso conseguia me aquecer por inteiro. Sentia falta dele, dos beijos e abraços, do seu cheiro e de ouvi-lo contar como foi o dia. Caramba, eu amava aquele homem, até comprei uma casa pra gente!
Aos poucos, quanto mais revivia a cena da noite de natal em minha cabeça, mais claramente podia ver quão transtornado Alex estava, como tudo aquilo também o machucou.
Lembrei de como me abraçou ao chegar, demorando a me soltar, e de como parecia cansado. Lembrei do brilho de seus olhos, sumindo conforme eu me declarava, e ele entendia que teria que me contar, que poderia acabar com tudo e, mesmo assim, escolheu ser sincero. Lembrei de sua dor ao narrar tudo que Mary falou sobre nós e de como estava revoltado, bravo e consciente de que eram calúnias.
Ele sofreu por nós ao descobrir o que passamos e, acima de tudo, não acreditou nem por um segundo que fôssemos capazes de fazer aquelas coisas. Ele errou, mas estava arrependido.
Alex tinha um coração tão grande e cheio de amor, mas esse coração estava sangrando e só eu poderia estancar. Não seria capaz de deixar Mary estragar minha única chance de ser feliz ao lado do homem que eu amava e que realmente me amou de volta, então, tomei aquela que poderia ser a melhor, ou pior, decisão da minha vida, liguei para ele.
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