Descobertas e Retornos

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Vovó Remitta não parava de me encarar, assim como vovô Sampaio. Os dois tentavam entender por que eu não conseguia mais usar os poderes como minha tia.

— Hum... Isso é muito estranho. Como pode ela ter poderes ontem e hoje não ter? — disse tia Renatta, encostada na mesa do escritório.

— Pela minha dedução, filha, isso pode ser um sinal ou... — vovô Sampaio se aproximou de mim.

— Ou...? — vovó o incentivou a continuar.

— Querida, toque em sua tia — pediu vovô, olhando firme para mim.

Tocar? Como assim? Encarei tia Renatta, hesitei por um segundo, mas caminhei lentamente até ela. Se o vovô estava pedindo...

Toquei em seu braço — e foi como se uma corrente elétrica suave percorresse meu corpo. Um formigamento, quente e estranho.

— Sentiu isso? — perguntei a tia Renatta, olhando para minha mão.

— O quê exatamente?

— Um... sei lá, um formigamento — retirei a mão rapidamente.

— Eu não senti nada — ela respondeu, olhando por cima do meu ombro em direção ao vovô. Virei-me e o encontrei pensativo, com seus olhos castanhos — idênticos aos de Renatta — cravados em mim.

— Sampaio? — chamou vovó, preocupada.

— Absorção — ele disse, de repente.

— O quê? — tia Renatta e eu dissemos ao mesmo tempo.

— Mel tem o poder de absorver os poderes de outras pessoas.

Absorver poderes?

— Isso pode ser perigoso, vovô? — perguntei, instintivamente recuando de perto de Renatta.

— Não, querida. Mas você precisa conhecer bem os poderes que vai absorver — explicou ele, dando um passo à frente. Recuo mais um pouco, o medo de machucar alguém cresce dentro de mim.

— Não tenha medo — ele insistiu com gentileza. — Sei que tudo é novo para você, mas temos que trabalhar o seu toque.

— Sobre meu toque...? — olhei para a palma da minha mão, confusa.

— Isso mesmo — ele segurou minha mão. O formigamento voltou na mesma hora. — Você vai precisar aprender a controlar essa habilidade, a não absorver nada quando tocar em alguém.

— Isso... isso tem como? — perguntei esperançosa.

— Claro que tem, querida — disse vovó, aproximando-se. — Você deve prestar atenção ao que sente ao tocar uma pessoa.

— Sempre que toco, sinto esse formigamento...

— Então é sinal de que está absorvendo os poderes. Mas há como reverter isso.

— E se eu tocar alguém e não sentir nada?

— Aí não estará absorvendo. Simples assim.

Nossa... que coisa louca. Nunca imaginei que existiam poderes assim. Sempre admirei os poderes da minha tia e da mamãe, mas... absorver poderes? Isso é estranho.

— Eu... posso pegar qualquer poder que existir? — perguntei, curiosa.

— Sim. Mas, como o Sampaio disse, você precisa entender bem o que está absorvendo. Alguns poderes têm uma carga muito forte. Você pode não aguentar... e isso seria perigoso para você e para quem estiver por perto.

Um calafrio subiu pela minha espinha. Vou ter que estudar sobre todos os tipos de poderes...

Meus avós maternos me alertaram sobre várias coisas que podem acontecer nessa fase inicial dos "pré-poderes". Por enquanto, estou tranquila — ainda vou ficar mais alguns dias em casa. Mas e na escola? Como vai ser na segunda-feira? Bom... só vivendo pra saber.

— Querida, se nos der licença, queremos conversar com sua tia a sós — pediu vovó Remitta, gentil.

— Ok — respondi, me levantando do sofá no escritório. Beijei as bochechas dela e do vovô e saí, fechando a porta devagar.

Mas antes que a porta se fechasse por completo... ouvi algo que me fez parar.

— Filha, não sei se você está sabendo, mas está ocorrendo uma série de assassinatos nas redondezas — disse vovô, em voz baixa.

— Fiquei sabendo, sim. Mas o que me preocupa é: quem são esses assassinos? — perguntou tia Renatta.

— Pelo que Ricardo investigou, parece ser um casal de vampiros — respondeu vovó.

— São conhecidos?

— Ainda não sabemos. Só temos os nomes: Agatha e Igor...

— Ouvindo atrás da porta! — levei um susto com o grito repentino no meu ouvido.

— Anna! — levei a mão ao peito. — Que susto, garota!

— Pensou que fosse seu pai?

— Lógico. Ele odeia quando faço isso.

— Você puxou direitinho esse lado "espiã" da Tia Milla — ela disse, cruzando os braços e piscando pra mim.

— Rá-rá-rá, engraçadinha — me afastei dela.

— E aí, o que vovó e vovô disseram sobre seus poderes? — perguntou, me seguindo.

Fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei um iogurte.

— Disseram que eu tenho o poder de absorver os poderes de outras pessoas.

Anna arregalou os olhos.

— Isso é sério?

— Uhum — respondi, bebendo o iogurte.

— Uau, que incrível! — ela exclamou.

— É... mas eles disseram que tenho que tomar cuidado.

— Que tipo de cuidado?

— Primeiro preciso entender os poderes que vou absorver. Alguns podem ser fortes demais.

— Hum... então é moleza!

— Moleza? Não pra mim! Eles vão vir aqui todos os finais de semana. Vovô vai me treinar. Você sabe que odeio isso...

— Então... boa sorte pra você.

— ANNA! Vai se atrasar pra escola! — gritou tio Douglas lá da sala.

— Tenho que ir, prima. Nos vemos mais tarde! — ela me abraçou forte e correu.

Suspirei. É... vou precisar mesmo de sorte e paciência todos os finais de semana.

O telefone tocou. Corri até a sala para atender. Com certeza era a Anna dizendo que esqueceu alguma coisa.

— Alô?

Melzinha? — reconheci a voz na hora.

— Tia Alice?! Oh, meu Deus!

Estou com tanta saudade de você, minha flor!

— Eu também! Como estão as coisas aí na Inglaterra? E o vovô Kevin, o Diego, o Heitor...? Estou morrendo de saudades!

Tia Alice foi para a Inglaterra com o vovô Kevin depois de uma briga feia com meu pai. Tio Diego e Heitor não tiveram escolha — tiveram que ir junto.

Aqui está tudo ótimo, mas... por que seu celular anda desligado?

— É... estou de castigo, tia. Meu pai tirou de mim.

O que você aprontou?

— Quer mesmo saber?

Sim, mas depois. Estou ligando pra avisar que... estamos voltando.

— O quê?! — gritei, pulando de alegria. — Vocês estão voltando?!

Sim! Nosso voo chega hoje à noite.

— Hoje?! Ai, meu Deus!!!

Voo 045, embarque pelo portão seis... — ouvi a voz da atendente ao fundo. — Querida, preciso desligar. Nos vemos logo, logo.

— Ok, tia. Estarei esperando vocês!

Desliguei o telefone com um sorriso de orelha a orelha. Tia Alice estava voltando, depois de um ano fora. Mal posso esperar!

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