Então o temido dia do baile chegou, o dia que definiria uma parte importante da minha vida. Acordei com uma sequência de batidas na porta, que em seguida foi aberta, trazendo a luz da manhã e dezenas de criadas para dentro do meu quarto. Algumas abriram todas as janelas do cômodo enquanto outras organizavam caixas e tecidos próximos à penteadeira, dentre elas estava Julie que veio até a cabeceira da cama me desejar um bom dia.
Passei o resto da manhã e parte da tarde entre o banheiro e a penteadeira, com banhos, perfumes, cremes e outros produtos que não tenho a mínima ideia do que eram, tive apenas alguns intervalos para comer e descansar na sacada.
Quando faltavam apenas três horas para o baile, eu estava quase pronta. As empregadas terminaram de pentear meu cabelo em uma sequência de tranças que caiam como cascatas em minhas costas, as outras mechas estavam soltas em delicados cachos sobre meus ombros. Elas haviam feito um trabalho maravilhoso.- Está lindo Julie! Obrigada - Sorri para seu reflexo no espelho e ela retribuiu, e logo em seguida se virou para pegar uma caixa branca em cima de um sofá próximo às portas de entrada, deixando-o em minhas mãos.
- É para a senhorita, foi entregue de manhã pelos serviçais do rei invernal.
Imediatamente puxei o laço azul que prendia a tampa e abri. Dentro da caixa havia um vestido lilás dobrado com perfeição. O puxei pelas mangas, esticando para fora da caixa para admirar. O vestido era feito com um tecido que se assemelhava ao veludo na cor lilás, possuía um decote sutil em V decorado com pedras e bordados dourados, semelhantes a flores, que serpenteavam até o chão nas longas mangas e na barra da saia. Era simplesmente angelical e hipnotizante.
Demorou um pouco até que percebesse um pequeno bilhete deixado dentro da caixa, um minúsculo papel branco com a seguinte frase escrita a mão em uma elegante letra:“ Para combinar com seu colar de ametista”
O colar.... Toquei em sua pedra que pendia na fina corrente de ouro enquanto ainda segurava o papel. O vestido era um presente do rei Alexander, mas como saberia do colar se nunca me viu?
Antes que tivesse mais tempo para pensar sobre isso, as criadas me avisaram que deveríamos sair em poucos minutos, então vesti o elegante vestido, calcei confortáveis sapatos de salto dourados. Uma criada de cabelos vermelhos trouxe uma tiara de ouro e pedras preciosas, que simulavam uma coroa de flores e colocou em minha cabeça.
Julie começou a me inspecionar minuciosamente, ajeitando todos os fios de cabelo e tecido que pudessem estar fora do lugar, em seguida me liberou para ir até a carruagem. Então caminhei pelos corredores segurando a barra do vestido para não tropeçar, até chegar a grande escadaria principal, que levava ao hall de entrada do palácio.No hall de entrada já estavam presentes minha mãe, em um majestoso vestido bege claro com a coroa de Sperwood, meu pai, usando um terno verde escuro com ombreiras douradas e a coroa idêntica a de mamãe, e por fim Will que trajava um terno com um tom sutil de verde e os cabelos dourados repuxados para trás. Quando termino de descer as escadas, minha mãe se aproxima colocando as mãos em meu rosto e exclamando:
- Você está linda filha!
- Uma verdadeira princesa- acrescenta William com sarcasmo
Nesse momento as pesadas portas da saída do hall foram abertas por um lacaio que vestia um uniforme branco e se voltando para meu pai avisou:
- Majestade, a carruagem chegou.
Com um aceno de cabeça e um agradecimento, meu pai nos conduziu para a carruagem, ela era preta com os aros das rodas e enfeites no teto em dourado, bem como o brasão de Sperwood nas portas, um beija-flor rodeado por videiras e cheirando um lírio. As duass janelas laterais estavam cobertas com uma pequena cortina branca.
Por dentro, a carruagem era espaçosa, havia dois bancos grandes de couro branco, minha mãe entrou seguida por meu pai e se sentaram no primeiro banco, logo depois eu e Will entramos, nos sentando no segundo banco de frente para os dois. Assim que o lacaio fechou a porta, o cocheiro agitou as rédeas e os cavalos brancos e bem cuidados que puxavam a carruagem relincharam começaram a andar. Da mesma forma fizeram os cavalos dos guardas que nos escoltavam estavam montados.
A primeira hora da viagem foi tranquila, todos estavam olhando para as janelas, apreciando os últimos raios de sol no horizonte e os pastos e montanhas verdejantes com pequenas casas onde os camponeses retornavam com suas enxadas após um longo dia de trabalho acenavam para nós, passamos por algumas vilas e entradas de grandes cidades de nosso reino. Aos poucos a paisagem foi ficando mais escura com o cair da noite e os pastos verdes começaram ficaram manchados de branco enquanto as árvores do caminho tiveram suas flores gradualmente substituídas por amontoados de neve e uma sequência de pinheiros. Até que toda a paisagem ficou completamente branca, tínhamos entrado em Scarfall.
A temperatura dentro da carruagem começou a cair lentamente, enquanto o vidro da janela congelava do lado de fora e nossas respirações ficavam visíveis em fumaças brancas. Os que mais sofriam com o frio, eram minha mãe e meu irmão, cujas mãos tremiam e a pele já estava pálida. Eu sentia o frio, pois ele me fazia arrepiar, mas eu ainda possuía calor ao meu redor como uma bolha que me envolvia permitindo que apenas parte da temperatura incomum chegasse até mim, acredito que meu pai tinha a mesma sensação .
Impaciente, minha mãe fechou as cortinas na esperança de que segurassem a temperatura do lado de dentro, mas isso não melhorou muito a situação, ao meu lado Will começou a espirrar enquanto a ponta de seu nariz tomava um tom de vermelho. Então nosso pai se virou para a pequena janela atrás de si, por onde ele perguntou para o cocheiro se demoraria muito para que chegássemos, mas ainda tínhamos um longo caminho pela frente. Após o sétimo espirro, Will olhou para mim e papai, perguntando com os lábios num tom quase roxo:- Vocês não podem usar a magia para deixar a temperatura mais agradável? Não são todos nós que temos os poderes da primavera para aquecer.
- Concordo, isso já está ficando insuportável - Apoiou nossa mãe enquanto enrolava as mãos em panos para aquecer, acrescentando - odeio essas viagens.
Papai olhou para cada um de nós e percebendo o desconforto, estendeu as mãos para mim com as palmas viradas para cima, a manga verde de seu terno descobriu seus pulsos deixando a mostra a marca de poder que tinha um fraco brilho verde claro. Coloquei minhas mãos sobre as dele e fechei os olhos respirando fundo quando sua voz grave soou baixo na carruagem, aquelas palavras eram apenas para mim, as mesmas palavras que ele repetia quando treinávamos:
- Você já sabe o que fazer, só precisa focar na magia.
Limpei minha mente e deixei nela apenas os cenários que vimos antes da neve, as flores, os vastos campos, as aves, o calor. A magia flui lentamente como uma flor que cresce por mim, irradiando o calor ao meu redor trazendo consigo o cheiro de pólen. Ao abrir os olhos notei a marca brilhando forte em meus pulsos e parte dos vidros descongelando lentamente,enquanto as cores voltam ao rosto de Will e mamãe.
Isso foi ótimo filha - parabenizou meu pai acariciando minhas mãos - Rápido e eficaz, agora só precisamos sustentar o feitiço até chegarmos, vou te ajudar para que não fique muito cansada.
- Obrigada.Durante quase uma hora sustentei a magia, olhando as montanhas de Scarfall cobertas de neve, enquanto algumas corujas piavam nos pinheiros e no vasto céu azul escuro completamente estrelado, que deixava alguns flocos de neve cair. Ao longe, nos pés das montanhas se via tochas com fogo queimando e casas de madeira com fumaça saindo de suas chaminés, rios completamente congelados que serpenteavam próximo de nós.
Logo após uma curva passamos por grandes portões de ferro preto, e foi possível ver e uma estrada com pinheiros bem cuidados perfeitamente plantados seguindo o caminho onde no intervalo entre eles estavam luminárias. Além das árvores se viam luzes e janelas reluzindo no horizonte, em alguns segundos foi possível ver com mais clareza.
Era o grande palácio de Scarfall
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A coroa perdida de Brayland
FantasyBrayland, uma antiga terra dividida em quatro reinos, cada representa uma estação do ano. Hillary, a princesa da primavera, se vê presa em um casamento arranjado com um rapaz da realeza do inverno, por conta de uma aliança para uma guerra. Antes de...