O INFINITO

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A noite estrelada devorava todo o território de Ein Sof. Não era algo incomum, contudo, aquela era uma data especial. O festival de Chokhmah. Um evento centenário, tanto uma homenagem a deusa cultuada quanto as dádivas dadas.

Festividades rolavam solta, desde a subferia até o topo, onde observavam o céu espelhado. Assim como celebravam a Emanação que cultuavam e a descida que ela faria aquela noite, como sempre fazia a cada 200 anos para abençoar uma das crianças daquele reino dominado pelos Alto-Elfos. Um "Milagre" muito além de um Stigma, o dom da visão que dava origem aos videntes.

Uma incrível dádiva que permitia enxergar o mundo, seu passado, presente e futuro, contudo, vinha com um preço, para uma raça com uma longa longevidade, o preço era uma vida pequena.

No topo de tudo se encontrava uma enorme construção que se estendia aos céus, como um enorme farol, brilhava incandescente mente, com pontes se ligando das quatro direções, lotadas de visitantes que celebravam e esperavam por seus governantes.

Dentro do edifício, serviçais corriam de um lado para o outro terminando os preparativos para o enorme banquete, pois aquela noite reuniria a família real completa, desde a família principal a suas ramificações, afinal, a criança escolhida estaria ali, sempre foi assim, pelo menos é o que os elfos decidiram contar.

Pelos níveis mais baixos caminhava a definição de beleza pura daquela espécie. Traje elegante enegrecido que pendia ao chão, se arrastando por um lugar que muitos acima mal ousariam pôr os pés, assim como os enormes cabelos trançados que quase atingiam o chão, tudo esculpido em um corpo de tom ônix, exibindo uma aura prateada como se fosse a própria lua que desceu para a terra. Todos aqueles por quem ela passava, admiravam a beleza da Apóstola Prateada, Luthein.

Muitos paravam para cumprimentá-la e eram recebidos por doces sorrisos, no entanto havia aqueles que a evitavam, não necessariamente por ela, mas pela figura que a acompanhava.

Uma Alta Sacerdotisa. Uma híbrida de um alto-elfo, exibindo a pele traçada como todos aqueles ali e as orelhas pontiagudas, mas seus traços élficos acabavam por aí. Uma pele de tons roxos adornada por linhas como os elfos, e escamas que contemplavam sua parte quimérica, em razão a seu corpo, não havia real diferença, exceto por seu rosto. Um rosto bonito, não tão diferente para o povo de Dumah, mas não tão normal para os elfos. Olhos enegrecidos adornados por seis asas de borboletas, três em cada lado, que iam além de seu rosto e se estendiam se movendo com o vento. Bifurcações existiam por elas, ocultando olhos que piscavam incansavelmente.

Não era sua aparência que assustava, mas a tiara que carregava em sua cabeça, dourada adornada por joias preciosas, um dos símbolos de uma sacerdotisa. Elas eram algo além de um reino e de uma igreja, Luthein recebia o título de apostolo, mas não seria errado chamar a mulher que a acompanhava da mesma forma, uma personificação de um deus.

As duas seguiram em silêncio até o topo. Quando estavam diante da grande construção central, Luthein cortou seu passo obrigando a sacerdotisa a parar também.

— Você não precisava vir. Você sabe! — Luthein proferiu com sua voz solene enquanto distribuía sorrisos para as pessoas que se aproximavam. Contemplando o céu de sua terra natal ela trouxe o assunto que já muito foi discutido.

A sacerdotisa a olhou com seus múltiplos olhos. Sua cabeça pendendo para o lado, considerando como responder a um assunto já encerrado.

— Lady Luthein, você sabe meu dever. Independente do que aqueles que nos aguardam possam pensar, são meros pensamentos diante do que devo fazer. — A sacerdotisa assim respondeu.

Luthein a olhou por cima do ombro. Sua testa enrugada enquanto absorvia tudo, considerando se deveria chamar sua atenção para a lady ou o assunto. No entanto, soltando um suspiro quase inaudível, ela aceitou. Sabia o porque ela estava ali, para observar a dádiva, que ela e a Luthein sabia que não recairia ali como a família real pensava. Então era tudo uma questão de manter aparências no final de contas.

RÉQUIEM - OneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora