PARTE UM ( ou Quando o Dracokawa apareceu na minha porta)

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"Oi, Iwa-chan."

Calça social preta e justa, parecendo ter sido feita sob medida ao tornear as coxas fartas e bem definidas e deixando as pernas longas ainda mais elegantes.

Camisa social também preta e de seda, levemente transparente, deixando ver um pouco dos músculos dos braços na forte luz da varanda.

O torço era encoberto por um colete da mesma cor, acentuando a cintura fina e o peitoral forte, ajudando a desenhar ainda mais o corpo esbelto.

Tudo isso coberto por uma capa preta de gola pontuda e com o interior feito do que eu achei ser cetim rosa, mas ela parecia toda puxada para trás, então não atrapalhava em nada para que eu pudesse observar o look completo do homem à minha frente.

E ele estava maquiado também, com uma palidez sobrenatural e que, surpreendentemente, não parecia falsa, dando ainda mais realidade à personagem. Os lábios também pareciam naturais mesmo com aquele vermelho forte, e os olhos destacados em preto praticamente exigiam a minha atenção. Os traços só podiam ter sido contornados de alguma forma, deixando o rosto com linhas fortes e másculas. Eu não fazia ideia de como aquilo tinha sobrevivido ao toró que caía.

Ele tinha um rastro de sangue muito discreto descendo pelo canto da boca, e os dois dentes pontiagudos pressionavam seu lábio inferior farto enquanto ele sorria para mim.

Ele parecia ridículo.

"Dracokawa", devolvi o cumprimento me encostando no batente da porta e cruzando os braços. "Você está ridículo", fiz questão de verbalizar, sorrindo forçado.

"Eu sei", soltou uma risadinha sem graça, mesmo que não tenha desviado os olhos dos meus. "Eu não queria sair por aí parecendo tão clichê, mas fui voto vencido, não pude fazer nada".

Não entendi de imediato ao vê-lo dar de ombros e estranhei ainda mais ao observar sua capa se mexer de forma estranha atrás de seu corpo. Oikawa deu um passo para o lado ainda sorrindo e pude ver dois pivetinhos enrolados no tecido, ambos tremendo levemente e parecendo encharcados, abraçados para conseguir calor e se abrigando na capa da melhor forma possível para fugirem dos respingos da tempestade que alcançavam a varanda.

"Oi, tio", disse um deles, segurando a ponta da capa com uma mão e acenando loucamente para mim com a outra, um sorrisinho contagiante em sua face infantil. "Eu sou Shouyou e esse é meu melhor amigo, Tobiolo!"

Ele definitivamente era ruivo natural, o cabelo encharcado grudava em sua cara toda. Usava uma camiseta branca e amarela com mangas verdes por cima de uma blusa laranja de mangas compridas. Como se não bastasse a combinação horrível, ainda usava uma bermuda bege cheia de bolsos e um tênis berrante que parecia muito maior do que seu pé.

O outro garotinho estava meio escondido atrás do corpinho ruivo e evitava fazer contato visual comigo, mas ainda assim eu conseguia ver sua fantasia. A chuva parecia não ter estragado seu penteado, a franja meio triangular toda lambida em sua testa. A maquiagem era uma versão mais leve da de Oikawa, com os caninos meio arredondados pelos quais ele passava os lábios e a língua distraidamente, parecendo entretido. Usava um vestido preto de manguinhas e uma meia calça listrada de vermelho e preto. Era adorável como ele se balançava nos minúsculos pezinhos calçados com um all-star velho e completamente sujo de lama.

Eles eram Mavis e Johnny, percebi.

E eram dois garotos.

Adorável.

"Eles ficaram fascinados por esse filme no último verão", comentou Oikawa com um falso tom calmo e com o sorriso se tornando forçado. Eu percebi seu corpo se tornando tenso enquanto ele voltava a esconder as crianças com seu próprio corpo, a postura obviamente na defensiva enquanto seu sotaque espanhol se tornava mais forte, ajudando ainda mais a desmascará-lo. "Não estão fofos?"

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