Caminhada

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Capitulo 2 - A levarei até lá

"Sim, uma humana, Amy. Acredita que a encontrei perdida nas terras de Prythian, lutando contra nagas e afirmando ser de outra dimensão? E para piorar, convidei-a para minha casa, permitindo que se lavasse e comesse. Tentei ser o mais cordial possível, como bem sabe. No entanto, a maior parte do tempo foi ela quem me fez perguntas, seus olhos curiosos e sentidos aguçados investigavam cada detalhe. Mas a melhor parte foi sua história maluca; não pude resistir ao desejo de saber como tudo terminaria."

❆❆❆❆❆

Tomo um grande gole do meu chá enquanto observo a garota atentamente. Ela está sentada à minha frente, perdida em seus próprios pensamentos, absorta pelo fogo da lareira. Parece alheia à minha vigilância minuciosa; se percebeu, não deixou transparecer. Vestindo uma das minhas roupas, uma calça de moletom aveludada preta, adequada para esta corte, mas possivelmente demasiadamente quente para qualquer outro lugar. Complementando o conjunto, uma blusa de moletom bege e um roupão de pele para se agasalhar ainda mais. Seus cabelos castanhos escuros estão úmidos, presos em um coque alto e desalinhado. Apesar de sua juventude, seus olhos revelam sinais de exaustão, evidenciados por olheiras profundas, sugerindo noites mal dormidas. Sua postura relaxada sugere que talvez passe a maior parte do tempo nessa posição. Sua beleza é notável, exceto pela tatuagem em seu braço, um enigma ainda não totalmente decifrado em sua história.

─ Então. - Interrompo, direcionando minha atenção para a garota. - Humana de outro mundo, não é? - indago, sugerindo que ela compartilhe sua história.

   A garota suspira, desviando o olhar para o fogo, como se buscasse nele o encorajamento necessário para contar sua jornada.

─ Sei que parece loucura, mas, sinceramente, sinto que estou enlouquecendo.

─ Provavelmente. - Concordei, cruzando os braços sobre o peito.

─ Vou resumir a história, tudo bem? - A garota parecia aliviada, embora incerta se deveria revelar tudo, demonstrando uma certa relutância. - Encontrei um livro numa livraria nova do bairro. Sua capa era belíssima, parecendo ser de um colecionador, escrito numa língua desconhecida, que pensei ser aramaico. Comprei-o por ser uma consumidora compulsiva de objetos desnecessários.- Ela falava como se estivesse pensando alto, repreendendo-se e até mesmo punindo-se, levando a mão à testa como se tivesse uma súbita dor de cabeça. - Mas sou curiosa. Em casa, examinei o livro, tentando pronunciar algumas palavras para ver se faziam sentido. - revelou, emitindo uma risadinha que soava mais como desgosto. - Foi quando a marca apareceu no meu braço, e fui sugada para cá, eu só não sei como."

─ Onde você foi parar? - Indaguei curiosa, lembrando que suas vestes não eram desta corte.

─ Corte Primaveril, suspeitei pelos campos, que pareciam estar na primavera devido às flores e árvores. Só tive certeza quando cheguei à primeira cidade que encontrei. Uma Grã-Feérica mencionou o Grão-Senhor daquelas terras, citando o nome Tamlin.

─ E como você acabou em uma perseguição com três nagas? - Perguntei desconfiada, batucando os dedos em meu braço, um tanto impaciente.

─ Eram cinco deles, derrubei dois antes de fugir. - Ela deu de ombros, pegando um biscoito caseiro que eu havia deixado sobre a mesa, mas não o mordeu, apenas o encarou, pensativa. - Estava seguindo uma trilha para a Corte Noturna, roubei roupas de uma feérica, a capa e espada de um guarda. Só precisei pedir direções para a Corte Noturna, e, por sorte, encontrei um Grã-Feérico com um mapa de Prythian. Cruzei com os nagas na divisa da Corte Primaveril. Tentei contorná-los, mas fui vista. Consegui me livrar de um, mas chamei a atenção dos outros. Corri, me escondi e esperei meu rastro desaparecer para voltar à trilha. Quando estava próxima do lago congelado, um deles me encurralou. Achei que estava perdida, mas sobrevivi. -  Ela passou os dedos pela tatuagem, atraindo minha atenção para os símbolos em sua mão. - Cheguei ao lago pensando em fugir, mas os três me cercaram. Achei que ia morrer, todos os dias de esforço pareciam inúteis. -  Ela afirmou, com raiva evidente, 'Não cairia sem lutar, levaria pelo menos um ou dois comigo.' é o que seu olhar estava fixo nas chamas da lareira. Por um momento, pareceu perdida em suas lembranças. Respirou fundo com os olhos fechados antes de reabri-los. Um leve sorriso surgiu em seu rosto ao me olhar. - Foi quando você apareceu, e eu fiquei tão aliviada, principalmente porque você não se importou de eu ser humana."

Contos de uma Grã FeericaOnde histórias criam vida. Descubra agora