1 - Suco de laranja

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Lia

Fazia 27ºC com sensação de 50, quase o inferno na terra, mas, diferente dos meus amigos, que curtiam a piscina do clube como se não houvesse amanhã, eu continuava jogada na espreguiçadeira com um vestidinho de organza xadrez, um chapéu grande e o tubo de protetor solar do lado. O clube não estava cheio, o que era justificável, estávamos em plena quinta-feira. Além dos meus amigos, apenas alguns adolescentes nadavam na ponta oposta e, vez ou outra, um deles vinha em nossa direção para buscar a bola de vôlei que estavam rebatendo na água.

Talvez eu devesse estar na piscina também, aquele sol de rachar estava quase me assando viva. O único problema é que eu tinha vergonha de ficar de biquíni na frente dos meus amigos e, principalmente, diante de Leon. Por mais que eu não me encontrasse muito acima ou abaixo do peso, havia certas partes do meu corpo que me incomodavam e, vendo Teresa, Alicia e Samantha com seus biquínis sexys e curvas nos lugares certos, minha insegurança só aumentava.

Então, como a garota covarde e sem autoestima que eu era, acabei apenas observando Pietro pular nos ombros de Bernardo, e Leon jogar água no rosto das meninas, mas ainda com aquela vontade de jogar a vergonha para o lado e pular na água.

— Você é patética, Lia... Leon nunca vai te levar a sério se continuar assim — murmurei quase sem voz, observando meu vizinho encarar um grupo de garotas que se aproximava pela beira da piscina. Todas exibiam seus corpos perfeitos em biquínis minúsculos, agora que eu não criava coragem de tirar o vestido mesmo.

Por mais que tivesse plena consciência disto, ver que eu não fazia o tipo de Leon doía. Se não tivéssemos crescido juntos, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez meu vizinho me visse com outros olhos, já que, assim, ele não conheceria todas as minhas manias estranhas, gostos e defeitos. Talvez eu pudesse ser o tipo de garota que Leon Silva gostava se ele não me considerasse uma irmã mais nova.

— Terra chamando Lia... — Alguém estalou os dedos na minha frente, e eu tomei um susto ao perceber que era Leon só de sunga e com gotículas de água escorrendo por todo o corpo. — Ei, acorda! Bora me ajudar a trazer as bebidas.

Porra, assim não dá...

Mordi os lábios e tentei desviar o olhar de seu peitoral desnudo. Mas é claro que Leon notaria os olhares nada discretos antes que meu cérebro raciocinasse que eu deveria disfarçar, e é claro que ele também não deixaria isso barato, ainda mais sabendo da quedinha — lê-se penhasco — que eu tinha por ele.

— Não quer tirar uma foto para guardar de lembrança? — Ele estendeu a mão para me ajudar a me colocar de pé.

A minha mão estava quente em comparação à dele devido à água da piscina. Ainda assim, porém, consegui sentir a corrente elétrica dos dedos de Leon contra minha pele. Não é possível que só eu sentia todas aquelas sensações quando nos tocávamos!

— Vai se ferrar. — Lhe dei um tapa no braço, e ele fingiu que doeu, soltando minha mão para acariciar o lugar onde atingi.

Com seus cabelos lisos caindo para um dos lados, escondendo uma das laterais raspadas, e o corpo coberto apenas pela sunga preta e a toalha branca que carregava num dos ombros, Leon seguiu em direção ao bar do clube comigo ao seu lado. Por onde passava, ele chamava atenção pela beleza simples e sorriso perfeito. As poucas garotas que circulavam por ali o acompanharam com os olhos, algumas nem fizeram questão de disfarçar o interesse.

Você precisa fazer alguma coisa antes que perca Leon de vez, disse para mim mesma em pensamentos. Leon sabia da minha paixão platônica, mas nunca, de fato, a levou a sério. Talvez eu devesse ser mais direta, quem sabe assim ele não se tocava de que eu queria, de verdade, ser muito mais que sua amiga de infância.

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