Capítulo 6 - Ainda dói

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Enquanto a multidão se afasta, eu dou alguns passos para a frente olhando pro chão. Não tenho reação para essa situação. Vejo todo mundo saindo e me vejo ficando só com Marc. Um nervosismo me sobe.
Marc solta uma risada sarcástica.
- Parece até destino.
Ele fala olhando para o lado e debochando daquele momento.
Não consigo permanecer calada diante disso, uma chateação me sobe.
- Talvez ele tenha achado sua atitude muito injusta.
Falo num tom bravo enquanto olho fixamente para ele.
Em seguida, Marc fala com um tom bravo enquanto segura meu braço.
- Escuta bem, não toca nesse assunto. É melhor sermos bem profissionais e fingirmos que nada aconteceu.
Eu havia guardado muita coisa, então não consegui me controlar.
- Escuta você! Você não sabe de nada. Você viu algo e anulou tudo o que a gente viveu sem nem saber o que estava acontecen...
-ISABEL!
Ele me interrompe com olhar bravo e boca cerrada.
- Fazem 4 anos!
Ele respira fundo e se afasta.
- Não faz mais diferença.
Eu paro pra pensar. Realmente. Não faz mais diferença. Engulo a situação.
Entro para a sala, o Marc me apresenta toda a equipe que já está trabalhando lá. E logo em seguida me fala sobre o projeto. Como se não nos conhecêssemos. Aquilo doeu. Mas eu precisava entender.
Assim que o Marc me passou tudo, sentei em uma das mesas do laboratório e comecei a elaborar a aplicação da minha pesquisa no robô Run. Testei em uns protótipos (as miniaturas do robô Run) algumas das minhas teorias.
Como estava longe dos estagiários, não sabia exatamente que horas terminava meu expediente como estagiária, acabei perdendo a hora.
Me deparo com minha colega de equipe no corredor, a Samanta, e pergunto do meu horário.
- Samanta, até que horas os estagiários ficam?
Ela me responde espantada.
- Todos já foram!!! Você não viu? Os estagiários saem as 17h, que é quando ainda está claro, pois a maioria pega ônibus. Só nós que saímos às 19h.
Fico espanta. Já são são 18h47. Eu perdi a noção do tempo.
Junto as minhas coisas e saio para pegar o ônibus das 19h.
Até o ponto, a rua do DRA é meio esquisita e isso me deixa amedrontada.
Caminho devagar e olhando para os lados naquele frio de 8°, vejo que não tem absolutamente ninguém no ponto de ônibus e é bem óbvio já que todos que saem depois das 19h do DRA são pessoas que já tem seus automóveis, pra quê pegar ônibus?
Me aproximo mais e noto que tem 3 homens na esquina oposta ao ponto do ônibus, conversando e fumando. Penso em voltar pro DRA e me humilhar por uma carona, mas passar por isso no primeiro dia é muito vergonhoso.
Os homens me vêem e andam em minha direção. Isso me assusta. Não penso duas vezes, dou meia volta. Vou para o DRA. Apresso o passo.
Vejo um carro vindo em minha direção, sinto mais medo ainda. Ele para do meu lado. É o Marc. Nunca me senti tão aliviada.
Ele diz com um ar meio frio:
- Entra aí!
Estou apavorada demais para negar.
Entro no banco da frente sem pensar suas vezes.
Digo com tom de alívio:
- Obrigada, Marc...
Ele pergunta com tom de piedade.
- Onde você mora?
Falo ainda em tom de alívio.
- Rua Oiticicas, no prédio le blanc.
Marc responde em um tom alegre:
- Nossa, eu morei lá quando cheguei aqui. Que lembrança boa.
Fico feliz de velo sorrir e respondo:
- Sério? Que bacana... Eu acho muito legal.
Ele olha com tom de estranheza.
- Legal? É super pequeno aquele cafofinho.
Rimos juntos pois realmente, é um cafofo pequeno. E seguimos a viagem meio envergonhados.
Quando chegamos a frente, fico um tempo sem querer sair do carro.
Falo com uma tom de nervosismo.
- Vamos entrar?
Ele se assusta com a proposta. E fala bem sério.
- Não, Isabel! Acho melhor nã...
Coloco a mão sobre a sua que está na marcha do carro e insisto.
- Por favor, Marc. Esse reencontro não é em vão.
Ele repensa. E diz em voz suave:
- Tudo bem. Vamos.

Meu doce passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora