capítulo seis: do-yun

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Vamos retornar um pouco, ao momento em que Jisung queria enfiar sua cabeça por debaixo da terra.

Como mencionado, ele não se dava bem com seus primos e tios. E toda vez que havia algum evento em família, sentia um mal pressentimento.

— Tenta não dar moral pra eles, tá bom? Se não vai dar briga, e acabar com o clima do almoço — sua mãe o alertou. Não era por mal, mas de fato, eles sempre brigavam e acabavam criando um clima tenso no ambiente.

Jisung apenas concordou e se manteve sentado ao lado de sua mãe, não tinha planos para sair de seu lado.


E, visto que ninguém iria ficar perdendo muito tempo se socializando com Jisung, o sobrinho caladão da família, resolveu ficar apenas conversando com seus amigos virtuais. Já lhe era costume ficar no celular em momentos de família.

— Mas eai, Jisung — estranhou e olhou para frente, no qual uma de suas tias tentava puxar assunto com o menino. De início, achou aquilo bem estranho. Porém, fez o mínimo: desligou o celular e tentou dar atenção à mesma — como que anda sua vida?

Seus outros tios e primos fizeram questão de ficarem em silêncio, para ouvirem a conversa.

— Vai indo bem, tia — sorriu minimamente.
— E as namoradinhas, primo? — perguntou seu primo Do-Yun. Jisung contou mentalmente até três, por acaso o peste havia encarnado a própria mãe, repentinamente?!

Se ao menos sua família não soubesse nada sobre Jisung, ele entenderia, engoliria aquela situação numa boa e responderia gentilmente. Portanto, com grande esforço vindo de Jisung, sabiam que o mesmo havia saído do armário, se assumindo para a querida família.

Inclusive, o primo que perguntou, estava ciente disso.

Por uma questão de sanidade mental, resolveu apenas ignora-lo.
— Coitada da tia — o primo continuou — deve ser bem chato saber que seu filho não vai te dar netinhos ou coisa do tipo, né?

Mais um dos comentários desnecessários vindos do primo de Jisung.  Incrivelmente, era sempre Do-Yun que fazia comentários desnecessários, e por mais que Jisung tivesse intrigas com alguns tios e primos, Do-Yun seria o primeiro da lista no qual Jisung pisaria, cuspiria ou coisa do tipo.

Claro, ele fazia aquilo apenas em sua mente. Apesar da humilhação, não iria se diminuir e dar moral para o que um garoto ridículo como Do-Yun dizia.

Mas sua mãe sim.

— Irmã, eu sinto lhe dizer, mas a educação que você deu para o seu filho foi pra casa do ca...
— Eita tia, calma lá — um dos outros primos de Jisung havia interrompido o quase palavrão vindo da dona Han. Era um primo sensato e pacífico, ainda que fosse irritante.

— Do-Yun... — murmurou a tia — se controle.
— E eu tô mentindo? — Do-Yun prosseguiu — a senhora sabe que eu não estou mentindo. Inclusive você, tia, sabe que eu realmente não estou mentindo.

Jisung se permaneceu calado, de cabeça baixa, tentando se distrair com qualquer pensamento alheio. Com tanto que não fosse prestar atenção em Do-Yun, estava ótimo.

— Eu espero que você tenha consciência do que está falando. Ele é o seu primo, e por mais que eu odeie brigas entre vocês, eu não vou permitir que você humilhe o meu filho como quem não quer nada! — respondeu aumentando o seu tom de voz, autoritária.

Pensou que sua mãe terminaria por alí, portanto, a mulher se aproximou de Jisung.
— Vamos embora, hm? — perguntou, vendo que Jisung sem hesitar já estava se levantando. O que o garoto mais queria, era sair daquele lugar. Como todas às vezes que a família se juntava.

Antes, a mulher educadamente se despediu de todos, e enfim saíram.

— Obrigado, mãe —  agradeceu, logo a abraçando fortemente. Sua mãe lutaria com dentes e garras por Jisung.

(...)

— Ele ainda não ouviu quase nada do que eu queria ter dito! — Jisung ouvia sua mãe resmungar, enquanto preparava o jantar.

— O melhor a se fazer é apenas evitar, mãe — respondeu.
— Eu sei que disse para você não dar moral para eles, mas filho, se eu fosse você... — deu uma pequena pausa — metia porrada naquele desgraçado.

— Sei bem que você faria isso — deu de ombros, indo curiar o que sua mãe tanto cozinhava.

— Vou fazer algo diferente hoje — falou, concentrada. Jisung apenas assentiu e voltou ao seu assento.

— Aliás, mocinho —  o garoto se atentou. Quando sua mãe o chamava de "mocinho", alguma coisa havia feito — eu sei que você dormiu tarde ontem, e ainda fingiu na cara dura que estava dormindo! — resmungou, ainda concentrada em suas técnicas na cozinha.
— Ah... É? — não sabia o que responder. Quando sua mãe o pegava para dar broncas, era complicado.
— O que você tanto fazia acordado naquela hora, que não podia descansar?

— Hm... — tentou inventar alguma mentira, mas falhou. Sua mãe ao menos deveria saber a verdade, não tinha nada demais nisso, correto? — eu estava conversando com alguns amigos.

— Mas naquela ho... — travou, virando sua cabeça em direção a Jisung — que amigos?
— Eu fiz alguns amigos — viu que não dava mais pra esconder — na internet.

— Internet, Jisung? — exclamou — menino, e se você estiver conversando com um velhote tarado e você nem sabe? Pra você, é um garoto de 17 anos super legalzinho, uhul! — ironizou.

— Eu até pensei nisso, mas eu fiz uma ligação com eles — ouviu sua mãe murmurar "céus" — e eram voz de adolescentes, mãe.

A mulher o olhou desconfiada por um bom tempo.
— Quantos amigos são?
— Acho que... — contou mentalmente — uns sete.
— E de todos os sete, você acredita fielmente de que são adolescentes que nem você?

— Ao que tudo indica sim — respondeu tentando dar confiança para sua mãe.
A mulher havia até parado de cozinhar. Ficou encarando o garoto por um bom tempo, analisando o que dizer e o que decidir. Era evidente que, Jisung já estava quase se tornando um adulto, que seria responsável por suas escolhas. Sua mãe não podia o prender para sempre. Porém, ela ainda se preocupava.

— Tá — falou — você precisa se responsabilizar de vez em quando pelas suas decisões. Espero que esteja certo do que diz, Jisung.

— Obrigado — sorriu minimamente, tranquilizado. Felizmente a conversa não fora tão difícil quanto pensou.

virtual friend - minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora