Capítulo 3 - Interrupção

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  (POV Ino)

Acordei com meu celular vibrando do meu lado, abri os olhos minimamente para ver quem tinha mandado a mensagem.

"Fui resolver uns negócios sobre a minha matrícula só volto depois do almoço." - Gigante.

Não percebeu quando o loiro acordou e nem quando ele saiu de casa. Olhou para o joelho ainda um pouco inchado e resolveu ficar na cama mais um pouco. Puxou o travesseiro de Kei para si, enterrando meu rosto no cheiro de erva-doce que tanto gostava.

(...)

— Ino?

— Oi? — Perguntei sem abrir os olhos.

— Você não levantou desde ontem? — Estiquei minha mão para pegar o celular para olhar as horas e me espantei ao ver que já passavam das duas da tarde— Anda vai tomar um banho.

— Acho que eu estava cansada— Resmunguei fazendo um grande esforço para me sentar.

— Você babou no meu travesseiro inteiro— Ele fez uma cara de nojo, olhei e vi que era mentira.

— Eu estou com fome. Você tem que alimentar sua amiga. — Meus olhos imploravam silenciosamente.

— Kuroo passou aqui agora a pouco e trouxe um pote de sorvete de cereja que você gosta.

— Kuroo veio aqui? Droga! Devia mesmo ter me acordado.

— Se queria ver teu namorado devia ter atendido o interfone— Ele revirou os olhos e saiu do quarto.

— Ele não é meu namorado! — Gritei sabendo que mesmo do outro lado do apartamento ele ouviria.

Tomei meu banho logo depois de mandar mensagem para o moreno pedindo desculpas por não ter acordado e agradecendo pelo sorvete. Tsukki estava sentado no sofá lendo algum livro sobre arquitetura. Seus dedos tamborilam no apoio do sofá impacientes, um sinal claro de que ele não conseguia se concentrar na leitura.

— O que está te incomodando? — Me sentei ao seu lado colocando minha perna sobre a dele. O loiro me lançou um olhar irritado suspirando em seguida

— Eu não sei dizer. Acho que isso só faz eu me irritar ainda mais — Deu de ombros — Como está seu joelho? Parece que o inchaço diminuiu de ontem pra hoje — Kei era o mestre em mudar de assunto quando não queria falar sobre algo.

— Quando descobrir, saiba que eu estarei aqui se quiser conversar.

— Eu sei.

Ele colocou em alguma série de reforma deixando o livro de lado, esse era um programa típico de nós dois para um domingo à tarde. De relance eu olhei para ele que estava concentrado demais no episódio e sequer percebeu que acariciava minha perna.

Não ousei falar, apenas fiquei ali sentindo seus dedos deslizarem pela minha coxa em padrões aleatórios. Era estranho pensar que aquele pequeno gesto causava sensações que eu com certeza não estava acostumada. Encostei minha cabeça no sofá concentrada em não perder nada daquele toque tão singelo.

— Como é possível? — Ele me encarava incrédulo.

— O que?

— Você estava quase dormindo, mesmo tendo dormido a manhã inteira.

— A culpa é sua. — E era mesmo, acariciando minha perna daquela forma era inevitável.

— Minha culpa?

— Esquece.

— Ino? — Ele apertou minha coxa e eu não reagi, apenas olhei em seus olhos que mais pareciam ouro líquido que me encaravam intensamente. Eu sentia que nossos corpos estavam se aproximando, meu coração acelerado me dizia que aquilo era real, mas ainda assim parecia surreal que estivéssemos prestes a nos beijar. Nossos narizes se tocaram e sorri ao vê-lo tão próximo.

Meu celular tocou interrompendo o que estava para acontecer. Por uns segundos apenas continuamos nos olhando quando ele se levantou indo para o quarto e fechando a porta atrás de si.

— Alô — atendi um pouco desnorteada.

Que bom que acordou, como você está?— a preocupação era evidente na voz de Kuroo.

— Estou melhor, meu joelho ainda está um pouco inchado, mas amanhã tenho certeza que vai estar novo em folha.

Fico feliz então. Acertei no sabor do sorvete?

— Uhum, é o meu preferido. Você é muito gentil Kuroo obrigada.

Sem problema, precisando é só chamar. Se cuida.

— Você também.

Permaneci deitada no sofá repassando o que tinha sido aquilo com o loiro e não chegando a conclusão alguma. Pelo resto da tarde ele não saiu do quarto e quis acreditar que aquilo não era por minha culpa, mas nenhum outro motivo parecia se encaixar. Resolvi tentar apaziguar a tensão indo preparar o macarrão que ele tanto gostava mas estava prestes a colocar a mesa quando ele apareceu todo arrumado com a chave do carro e a carteira em mãos.

— Vai sair?— nem tentei disfarçar a decepção em minha voz. Ele olhou de relance para a panela, percebendo o que tinha ali.

— Tadashi me chamou para ir num bar— Ele deu de ombros.

— Ah sim. Bom vou deixar a panela na geladeira então se estiver com fome quando voltar é só esquentar. — Passei por ele desviando o olhar e me joguei no sofá procurando algum canal aleatório. Alguns minutos depois escutei a porta se fechando então o silêncio tomou conta.

Fui até a sacada e observei o carro se afastar até sumir de vista. Era estranho me sentir triste, mas também era inevitável. Voltei para dentro buscando meu travesseiro e cobertor e me acomodei no sofá. Não era certo eu dormir novamente com ele enquanto ambos estivessem daquele jeito, e como amanhã chegaria minha cama então talvez ele se sentisse melhor tendo o espaço dele de volta.

— O que? — Abri meus olhos sonolentos tentando entender o que estava acontecendo. Senti um cheiro forte de álcool e os braços de Tsukki ao meu redor.

— Vamos para a cama— Ele não estava embriagado, nem alterado. Sabia da resistência do loiro, só não entendia o porquê dele estar me tirando do sofá.

Ele me colocou na cama com cuidado e ajeitou a almofada embaixo da minha perna. Fechei os olhos e tinha certeza que voltaria a dormir rapidamente e não fosse o barulho da porta fechando e nada dele deitar ao meu lado. Agora sem sono, simplesmente levantei e fui procurar por ele.

— Não vai dormir? — Ele se assustou, estava escorado na grade da varanda.

— Não estava dormindo? — Me aproximei parando ao seu lado.

— Percebi que você também não deitou e fiquei preocupada.

— Está tudo bem, pode voltar para a cama— Ele murmurou ainda sem me encarar.

— Se estivesse mesmo, você também viria.

— Só estou sem sono, Ino. Isso é normal, agora volte para a cama porque você estava dormindo— Eu odiava toda vez que ele tentava colocar esse muro entre a gente e algumas vezes eu me afastava porque não sabia o que fazer, mas agora era diferente. Não tinha onde me afastar.

— Vem cá— Me sentei no sofá que tinha ali fora e esperei ele vir relutante se sentar ao meu lado. O puxei para que deitasse sua cabeça em meu colo e tirei seus óculos colocando sobre a mesinha ao lado.

— Como você é teimosa. — Mesmo no escuro vi que fechou os olhos enquanto eu acariciava seu cabelo.

— Eu também posso cuidar de você. Sei que gosta de silêncio e vou me esforçar para ficar quieta, mas só se me prometer que assim que estiver pronto para conversar vai falar comigo.

— Eu vou pequena. Eu vou.

Guerra de travesseiros - TsukkiInoOnde histórias criam vida. Descubra agora