Fora dos padrões...

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Sn- Você bateu em um menor de idade?

Th- Ele bateu no nosso filho.

Sn- Taehyung, você é o diretor daquela escola, você não pode agredir um aluno.

Th- Ele estava zombando do nosso filho, queria que eu fizesse o que? Só expulsar não seria o suficiente, ele poderia ir atrás do Aslan e fazer algo muito pior. Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas não poderia deixar as coisas assim, eu passei do limite e vou assumir o meu erro, nem que eu perca o meu emprego, mas não me arrependo - eu odiava ver os dois brigando, queria só sumir quando isso acontecia, ainda mais pelo motivo da briga ser eu - Aslan - meu coração se aperta quando o escuto me chamar, com sua voz séria.

Vou até a cozinha com minhas mãos juntas, encarava o chão me sentindo culpado, minhas mãos estavam trêmulas, meu coração batia rápido - meu pai poderia ser preso por agredir um menor de idade?:

Aslan- O-oi pai.

Th- Vamos, temos que ir para a delegacia, e você precisa contar para o delegado também tudo que eles fizeram com você.

Aslan- Pai...e se eles fizerem algo pior por eu denuncia-los?

Th- Ai eu terei que ser preso, mas eu farei algo 10x pior com eles - saímos de casa, o caminho de descida no elevador estava silencioso, aquela música infernal tocando em meu ouvido estava me apavorando, eu odiava me meter em encrenca e agora a encrenca ficou muito mais séria.

Sn- Querido - minha mãe enfim diz algo, alisa meu rosto me fazendo olha-la, não precisava erguer muito minha cabeça já que eu tinha o mesmo tamanho que ela - Não precisa se sentir culpado, você não fez nada de errado, você é a vítima, ok?

Aslan- Mas o papai só foi chamado por minha culpa, isso pode ferrar com ele.

Sn- Não vai, você só precisa depor contra eles, abrir uma denuncia de transfobia, você tem provas pelas mensagens.

Th- Já estou pedindo para a pessoa que está na secretaria me mandar as filmagens do corredor dos armários, temos provas assim também.

Aslan- O-Ok - tento me acalmar respirando fundo.

Adentramos o carro, fico olhando pela janela enquanto as ruas passavam e tentando pensar tudo o que eu falaria para o delegado, se iria gaguejar, se iria conseguir falar ao lado deles, era tantas coisas que eu precisava pensar que 10 minutos de carro não seria suficiente.

A frente da delegacia havia dois carros parados, desço e sinto a mão de meu pai posta em meu ombro, o que me relaxou mais. Minha mãe me olhava com um sereno sorriso, como se dissesse ''está tudo bem, estamos com você''. Adentramos:

Th- Boa noite, sou Kim Taehyung.

Delegado- Boa noite, sou o delegado Tomy, sentem-se - nos sentamos, olho para o lado e Dener, Dickson e Neo me encarava, Joana mantinha sua cara fechada e metida - Bom, os pais desses quatro jovens vieram abrir uma denuncia contra o senhor por agressão a um dos adolescentes. Você concorda que fez isso?

Th- Sim, eu fiz - os olhos dos pais dos garotos se arregalaram, imagino que pensavam como que meu pai confessa algo assim sem nem ao menos tremer na voz.

Delegado- E tem alguma justificativa ao ocorrido.

Th- Bom, a justificativa é a abertura de uma nova denuncia.

Delegado- Qual seria?

Th- Transfobia, esses tais jovens agrediram o meu filho, que é um garoto trans, e o humilharam de diversas formas.

Dener- Isso é mentira.

Delegado- O senhor tem prova contra isso? - meu pai lança um olhar para mim, entendi que agora seria minha vez, abri a conversa do grupo e entreguei o celular ao senhor - Hum - observava e lia atentamente. O celular de meu pai apita algumas vezes, como se tivesse acabado de receber algumas mensagens.

Th- A prova das câmeras estão aqui - diz entregando o celular também, pude ver, pelo canto dos olhos, os garotos se enfiarem dentro dos bancos.

Delegado- Vamos abrir um b.o contra eles também, eles me disseram que foram expulsos da escola.

Th- Sim.

Delegado- Como castigo para eles, eu aconselho um encaminhamento para um colégio interno de menores infratores.

Mãe de Dener- Não, esse homem bate no meu filho e o meu filho que tem que ser preso?

Delegado- Seu filho não será preso, ele será encaminhado para um colégio interno, ou prefere pagar uma multa de $5000? - a senhora apenas nega com a cabeça - Foi o que pensei. O Sr. Kim também será castigo pelo ocorrido.

Th- Cumprirei com o que me for colocado.

Delegado- O senhor ficará afastado do cargo por um mês e deverá pagar uma multa de $120

Th- Tudo bem, algo mais para me ser destinado?

Delegado- Não, apenas isso,  os garotos podem ir. E lembre-se, caso tentem algo com o jovem, vocês serão diretamente mandados para um presídio de menores - todos se retiram, me encaravam tão friamente que pude sentir minha espinha arrepiar - Bom, eu entendo que fez para proteger seu filho, mas sabe que isso poderia ter te custado muito caro, não sabe?

Th- Eu sei, Tomy.

Delegado- Teve sorte que somos amigos e só te afastei do cargo e que pagará uma multa de $120, mas nada de perder o controle novamente.

Th- Claro - nos levantamos e nos despedimos do delegado, meu pai e minha mãe saíram de cabeça erguida, continham um pequeno sorriso no rosto, não pude negar que também estava feliz.

Ao chegarmos em casa decidimos assistir um filme após o jantar, fazia um bom tempo que não fazíamos isso. Estouramos pipoca, fizemos brigadeiro, escolhemos um filme de comédia, era tão bom ver eles felizes e orgulhosos. Tivemos sorte pela minha mãe trabalhar no exército e ter contato com vários profissionais da área.

Conto tudo para Edward e Malai antes de ir dormir, ficamos em chamada por duas horas até minha mãe vir me mandar ir para cama, amanhã ainda teria aula e não poderia ficar até tarde no telefone. Concordo e me despeço de meus amigos, eu estava tão feliz.

O meu dia havia sido ótimo na escola, Edward e Malai me faziam rir com suas piadas, ambos encrencavam um com o outro para saberem quem era o meu amigo preferido. Eu iria embora sozinho naquele dia, já que meu pai não poderia ir para a escola, ele se ofereceu em me buscar, mas neguei, andar de ônibus seria legal.

Eu e Malai iriamos juntas, seu carro estava com sua mãe. Enquanto andávamos para o ponto de ônibus podemos ouvir alguns comentários de umas garotas, ignoramos, mas elas continuavam rindo e isso constrangia Malai:

Garota 1- EI, SUA GORDA.

Garota 2- Será que a obesidade afetou os ouvidos dela também?

Garota 3- Como que alguém desse peso consegue usar uma saia dessa. Meu Deus, totalmente fora dos padrões, devia parar de comer tanto - Como elas podiam dizer coisas tão horríveis? Por que diziam tantas asneiras? Malai ficava tão linda de saia, realçava suas pernas, não ficasse reparando, mas era lindo.

Malai- Aslan, vamos um pouco mais rápido, por favor.

Garota 2- Essa daí não é a putinha que denunciou o Dener?

Garota 1- Oh não, ela é um garoto - as três riam, tinham risadas estridentes e irritantes, vozes finas. Caminhamos mais rápido e por sorte o ônibus havia acabado de encostar, subimos rapidamente e nos sentamos em um banco, não conseguimos dizer nada.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, Malai tentava cobrir suas pernas com sua blusa de frio, eu podia ver seus olhos se enchendo de lágrimas, mal tive tempo de focar no que falaram para mim, estava preocupado com ela, eu sabia o quanto ela era insegura com o seu corpo.

Eu só queria que ela pudesse se enxergar da forma que eu a enxergo, eu queria poder dar os meus olhos a ela. Queria que ela visse o sorriso lindo que tem. Seus olhos me lembram planetas. Queria que todas as garotas tivessem alguém ao seu lado para dizerem todos os dias o quão perfeitas elas são, o quão únicas elas são, como que cada detalhe seu, apenas seu, nos atrai, o que você vê como defeito é o que me faz admirar com tamanha paixão.

Querido EuOnde histórias criam vida. Descubra agora