"We found Wonderland
You and I got lost in it
And life was never worse, but never better"- Wonderland - Taylor Swift (1989)
Sua cabeça ia explodir. Ela tinha certeza disso.
Aquela dor de cabeça não era comum a nada que já tivesse sentido. Quando tentou abrir os olhos, um gemido alto saiu dos seus lábios e se curvou mais onde estava recostada. Sentiu um cheiro bom de mato e alcaçuz, que parecia conhecido e desconhecido na mesma medida, além de ser algo quente e macio, lembrava seu pai, quando chegava do trabalho na confeitaria e ia lhe dar um beijo de boa noite.
- Aly, você tá bem? Precisa acordar, senão vamos nos atrasar. O trem está chegando. - ela ouviu uma voz desconhecida a chamar e conseguiu abrir os olhos por cima da dor.
Que foi esquecida rapidamente com o pico de adrenalina a atingiu junto com o susto que a dominou e o grito que escapou de sua garganta.
Na sua frente, parecendo assustados, também haviam três garotos que a olhavam como se fosse doida, e talvez fosse mesmo. Um era loiro e gordinho e olhava para ela com um olhar inquisitivo mesmo com o rosto sujo de chocolate, o meio era branco com cabelos pretos amarrados desajeitadamente em um coque, e tinha pulado na hora que Alycia gritou, se agarrando ao menino do lado sussurrando um nome que ela não ouviu, esse outro menino agora a olhava preocupado, tinha uma cicatriz enorme na cara, cabelos castanhos desgrenhados e vestia um suéter mostarda onde o outro garoto agarrava, ele tocava na mão desse acariciando tendo fazê-lo desprender.
Ela olhou ao redor do cômodo, que agora percebia ser uma cabine privativa de trem que avançava com velocidade, seus olhos pararam ao seu lado. No garoto ao seu lado. Que aparentemente era onde estava recostada anteriormente. Tinha aparência indiana, usava uma calça e blusa xadrez amassada e um óculos lascado onde encaixava o nariz.
- Ei, você está bem? - ele perguntou visivelmente preocupado.
- Quem diabos são vocês? - ela se percebeu encolhida em um canto da cabine e os quatro a olhavam como se ela fosse louca. Talvez fosse mesmo.
- Os marotos. - o loiro sujo de chocolate disse com orgulho. - Eu sou Peter, Ele é Sirius, o outro é Remus e esse do seu lado é seu irmão, James, Potter. - ele disse como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Seu cérebro deu um curto circuito, só pode, tinha a impressão que ia derreter, ou um apresentador de programa entraria agora e diria que era pegadinha, mas isso não aconteceu. A porra da raposa tinha realmente lhe levado a um livro. E não qualquer livro. Olhou para a paisagem da janela do trem, a colina verdejante e para os meninos ao seu redor. Os marotos, sim, quando imaginava eles, imagina essa aparência para eles, e se lembrou novamente da raposa e do roteiro que tinha rabiscado em seu quarto tarde da noite do mesmo dia antes de dormir pela primeira vez.
Merda.
Seus pais. Seus amigos. Sua escola. Sua vida. Caralho. Tudo se fora como se não houvesse existido, era essa a sua vida agora, Hogwarts era a sua realidade agora. Ela deu um risinho de nervoso, fazendo os outros olharem ainda mais para ela.
- Minhas vestes, onde estão? - ela perguntou a qualquer um deles, não querendo raciocinar direito quem eram eles. Quem era ela. James lhe estendeu a roupa e ela saiu muda da cabine, procurando um banheiro enquanto ignorava os comprimentos de pessoas que a reconheciam nos corredores e a saudavam com "e aí, Potter" ou "como foi o verão, Potter?".
Ela se trancou no primeiro banheiro que viu, e tirou um tempo para respirar fundo, tentando absorver tudo aquilo. A raposa não mentirá afinal, tinha levado ela para outro lugar, sua casa, agora precisava entender em que ponto da narrativa estava. Tentou vasculhar tudo o que lembrava da Primeira Guerra dos livros cannon, das fanfics e algumas curiosidades dos websites oficiais do universo, mas nada lhe ajudaria naquele momento, somente depois.
Tentando manter a calma e a racionalidade, trocou suas roupas e achou uma varinha que devia ser a sua enrolada no seu cabelo. Bem a tempo de ouvir batidas e xingamentos na porta. Ela abriu de supetão e se assustou com o que viu do outro lado, e pelo jeito também assustou a pessoa.
- Ora Potter, se perdeu dos seus carrapatos. - Snape olhava de cima a baixo para ela com um sorriso que parecia deboche.
- Assim como você esqueceu de lavar esse seu sebo que você chama de cabelo, Snivellus. - disse ao lembrar dos apelidos que os meninos usavam com esse nas fanfics que lia, e ela lia muita fanfic. O rosto feio do garoto se contorceu de ódio.
- Como se atreve falar assim de mim, sua sujeitinha... - ele torcia as mãos sobre as vestes, talvez pensando se pegava ou não a varinha. Ela lançou um feitiço que lembrava para que ele não conseguisse mais falar e ficou feliz quando viu que deu certo, a boca de Snape não abria para nada.
- Não te dei permissão para me dirigir a palavra, Snivellus. Gentinha mestiça como a sua laia, só pode falar com pessoas como eu quando são autorizadas, você devia ter sido ensinado melhor, acho que foi falta de surra. - ela olhava para ele com diversão, tentando não pensar muito no que dizia. Era tudo balela, óbvio, não acreditava naquilo, mas tinha que pôr o seboso no lugar. - Não me faça lhe jogar um imperius, não duvide de mim, sim?
- SNAPE. - naquela hora eles ouviram uma voz se aproximar junto de passos e um garoto idêntico ao ator Timothee Chalamet entrou no corredor e estancou quando viu a cena. - Potter...
- Black... - porque sim, ela sabia quem ele era. Tinha escrito em seu roteiro e imaginado ele várias vezes. - Saudades de mim? - ela soltou um sorriso charmoso porque não sabia o que eles eram ali, em que pé estavam. Ele a ignorou, virando sua atenção para Snape.
- Já disse para não sair sem sua varinha. Mas vejo que tem companhias interessantes. - ele disse de modo crítico.
- Seu irmão parece gostar da minha companhia. - falou imitando um beicinho ou muxoxo, não sabia ao certo. O garoto estancou no lugar e lhe destinou um olhar assassino. Ok, não eram amigos então. Ela suspirou e empurrou o seboso para ele como se fosse um saco de batatas. - Porque você não volta para a creche que saiu e leva seu lacaio junto?
- Sabe Potter, um dia você ainda vai se dar mal. - Black sorria para ela. Um sorriso cruel. - E eu vou estar lá para ver.
- Aguardo sua presença nesse dia então, Black. Só cuidado para não ficar me aguardando tanto e se apaixonar ao invés de me odiar.
O garoto só olhou para ela novamente de cima a baixo e sorriu de escárnio, empurrando Severo para andarem
- Isso não vai ficar assim, Potter. - ela ouviu Snape falar já longe, liberto do feitiço.
- Mal posso esperar então, venham os dois, talvez assim seja uma luta justa.
Quando voltou para a cabine, ignorou os meninos perguntando onde diabos tinha se enfiado, não queria conversar naquele momento. Então só encostou a cabeça na janela e esperou eles perceberem que não iam conseguir nada dela, mas sua cabeça ainda funcionava a todo vapor.
Estava em Hogwarts. Junto dos Marotos. Era importante para a guerra em algum momento. Não sabia ainda o que era capaz de fazer, como ia se sair ali. Mal tinha se passado uma hora e já estava com saudades da sua antiga vida, mas agora não tinha como voltar atrás, ela tinha tomado uma decisão.
Lembrou do confronto com Snape e Régulos e tentou não pensar nas consequências que teria que arcar. Mas sabia que o seboso era uma pessoa que tinha paciência na hora da vingança, saberia esperar, então ela sempre ficaria alerta.
Era assim que iria proceder ali, enquanto estivesse. Não iria ser uma daquelas personagens bombinhas que confia no destino e no poder do amor para resolver questões cruciais. Não. Ela faria tudo ao seu alcance para vencer o que iria vir pela frente, não se curvaria a qualquer obstáculo ou pessoal.
Seria implacável, e se precisasse até cruel.
Guerra era guerra, afinal.
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Wonderland - E Se O Seu País das Maravilhas Fosse Em Outra Realidade?
FanficSe houvesse uma chance de mudar o futuro dos seus personagens favoritos, você mudaria? Essa é a indagação que ronda Alycia desde que sonhou com uma raposa que nunca viu que prometeu lhe levar para Hogwarts. Acontece que aparentemente a garota é peça...