Capítulo 31

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Aranha

Esta manhã já tinha acordado com uma sensação estranha dentro de mim, algo me incomodava desde que entrei naquele maldito café. Quando os porcos me meteram nesta cela com os meus irmãos havia algo...uma sensação...um peso nos ombros, mas apenas ignorei e não comentei nada com os meus companheiros. Mas a maldita sensação de peso continuou toda a noite, até de manhã e o pior de tudo era que eu não conseguia esquecer ou ignorar.

O barulho da porta metálica ecoa no ambiente despertando a atenção dos que estavam acordados, e despertando aqueles que dormiam, a maior parte dentro da cela ao lado. Um homem passa, mas não um qualquer, aquele pirralho inútil do Liam Payne, com o seu sorriso presunçoso estampado na cara. Rapazinho idiota.

- Deixa-me dizer-te algo James...

- É ARANHA! - interrompo corrigindo-o. 

O imbecil sorri em deboche. Idiota.

- Está bem, Aranha. - diz em deboche. - A tua mulher pagou a fiança, é com muita pena minha...que estás livre para ir embora, quanto aos restantes ainda ficam, pode ser que consiga enfiar-vos a todos na prisão de vez. - disse andando até á pequena mesa metálica perto da porta pegando na prancheta prateada na mão do outro porco* e assinando algumas folhas, ao terminar o mesmo trás a prancheta até mim e a vira para que eu assine, quando termino faz sinal com a mão para que o outro porco abra a porta. 

Despeço-me dos meus irmãos e logo sai-o dali para fora, ouvindo gritos de apoio. Olho para trás vendo o imbecil vir atrás de mim, um sorriso sarcástico presente nos seus lábios.

- Queres uma foto? - pergunto rude.

- Credo não, eu gostava de dormir sem ter pesadelos. - diz rindo irónico.

Vontade de matar este miúdo. Ele ainda de  farda quando me despediram, só passou a usar um fatinho graças a mim, visto que prender-me foi o que o fez subir na carreira.

- Estava aqui a pensar, James...que um dia destes eu vou prender-te e dessa vez vai ser definitivo. - diz presunçoso.

- Vai sonhando... - digo virando costas e dirigindo-me para a saída.

- CLARO, MAS OLHA QUE SE SONHAR COM A TUA CARA VÃO SER PESADELOS! - de novo em deboche.  Saiu dali irritado e contando até vinte para não voltar atrás e partir a cara daquele mimado armado em detetive.

Enquanto ando em direção da paragem de autocarro, olho em frente e é nesse momento que congelo no lugar ao ver o que...ou melhor dizendo quem me assombra há anos. Não! Não pode ser ele! Ele está morto! 

Fico incrédulo. Mas aí entendo, aquele não é ele, é o filho dele. O miúdo que nessa mesma noite fugiu dali, e apesar das buscas que fizemos por ele jamais o conseguimos encontrar. Os seus olhos, antes concentrados na loira em frente dele, algo que me dá nojo de ver, levantam-se e como se fosse atingido por um comboio param em mim.

A expressão, um olhar vale mais que mil palavras vêm á minha cabeça. O seu olhar fixo em mim mostra que ele me conhece, que ele se lembra de mim. E para piorar, a já péssima situação, a loira vira-se para trás, era ela. A loira de ontem! Este mundo é realmente uma ervilha, já não bastava um, mas agora são dois tormentos que ainda por cima estão...juntos. A vadia encara-me com ódio estampado no rosto durante alguns segundos, até que ambos continuam o seu caminho sem olhar para trás, deixando-me congelado no lugar, as minhas forças parecem desaparecer.

Sempre ouvi pessoas dizerem que tudo o que fazemos volta para nós duas vezes mais forte, normalmente ria-me da cara da pessoa que dizia isso, mas estando aqui parado no meio do passeio em completo transe com os olhos presos no mesmo sitio mesmo já não estando lá ninguém, só comprova o quanto essas palavras são verdadeiras.

Homeless || (Zigi) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora