32. Fundación

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POV Andi

Se eu tivesse tido mais tempo para pensar, com certeza estaria surtando internamente, mas os toques leves das mãos de Emília segurando meu rosto e o contato da sua boca macia na minha, continuavam a me guiar como se aquele momento fosse apenas um sonho.

Quando nossas bocas enfim se separaram, eu abri os meus olhos da maneira mais lenta possível. Eu não sabia o que esperar ao abrí-los. Não sabia qual seria a reação de Emília àquela ação totalmente inesperada, mesmo que tenha sido iniciada por ela.

As suas mãos ainda tocavam meu rosto de maneira delicada, como quem segura algo frágil. Seu rosto ainda permanecia corado. Sua boca ainda estava entreaberta, agora apenas levemente mais avermelhada. Seus olhos ainda brilhavam claros curiosos. A diferença era na intensidade deles.

"Você está bem?" foi o que saiu dos meus lábios.

Como se acordando de um transe, suas mãos deixaram meu rosto e ela piscou inúmeras vezes, olhando para o piso e depois voltando a me encarar.

"Eu não sei o que deu em mim," foi a sua resposta.

Busquei arrependimento em seu rosto e não encontrei. Eu não deveria me sentir aliviada por isso, mas senti.

"Desculpa se eu passei algum limite," ela falou, de repente se mostrando tímida. Eu rapidamente busquei suas mãos nas minhas.

"Não. Eu não entendi exatamente o que aconteceu agora, mas não precisa se desculpar," falei sem hesitar.

Ela negou com sua cabeça, pressionando seus dedos nos meus.

"Eu estou muito confusa e te olhando, eu não sei, eu senti como se... Meu Deus, não sei o que eu senti," a sua risada nervosa me fez rir junto com ela.

"Não precisa pôr definição, contanto que esteja se sentindo melhor," eu disse. Não era exatamente altruísmo da minha parte. Eu estava confusa como ela, mas era inegável o meu próprio alívio em vê-la bem. Eu tentei não pensar em como tinha sido um beijo meu que a deixara melhor.

O seu semblante repentinamente se mostrou atordoado.

"Eu vou me divorciar," falou.

Eu claramente me assustei com suas palavras.

"Como?" perguntei, não porque não havia ouvido direito, mas por conta de estar completamente perdida no que estava acontecendo.

"Desculpa, eu sei que estou agindo feito louca," ela disse passando uma das mãos em seus cabelos, os tirando do seu rosto. "Eu decidi que quero o divórcio, Andi. Quero minha liberdade. Quero minha vida de volta. Quero algo real," finalizou com um sorriso.

Era como se alguém tivesse virado um interruptor em Emília e ela de repente acendesse. Parece estanho, mas era como eu via essa sua nova disposição.

"Eu posso fazer isso," respondi hesitante.

"Sobre o beijo..." ela começou, mas fomos interrompidas pelo barulho de chave e em seguida a porta se abrindo.

"Amiga, eu vim o mais rápido possível," disse Maria José entrando no apartamento e vindo em nossa direção. Ela puxou Emília para ficar de pé e em seguida lhe abraçou apertado.

POV Emília

Assim que MJ chegou, eu soube que teria que adiar a minha conversa com Andi. Eu queria explicar o que tinha me levado a beijá-la daquele jeito. Meu Deus, eu havia beijado Andi!!!

Eu não estava exatamente preocupada com o fato de ter beijado uma mulher, isso não foi algo que passou em minha mente. Também não estava ligando pro meu status de casada, afinal era apenas o que aquilo era, um status. Sentia como se aquele título não me pertencesse há tanto tempo. O que estava me deixando incomodada, era o medo de como aquilo pudesse afetar minha relação com a advogada.

Andi é incrível. É uma boa ouvinte, uma boa amiga, tem um coração maior que o mundo. Quando você está com ela, ela te faz sentir ouvida, acolhida, especial. Ela lembra suas palavras, se preocupa com suas reações e você se sente descoberta.

Ali, deitada em seu colo, enquanto chorava dores de um amor falido. Dores de um futuro incerto e de uma reviravolta em minha vida. Eu senti tudo o que costumava sentir em sua presença, só que triplicado. A maneira gentil com que ela tomou Larissa no colo, o olhar carinhoso com que ela cuidou do meu choro. Era como se ela fosse um alicerce.

Eu sabia de seus olhares sobre mim, sempre soube. Então talvez por isso, naquele momento irracional, eu tenha reagido buscando conforto em sua boca, em seu beijo, seu gosto. E mais uma vez ela me surpreendeu com sua delicadeza.

Em nenhum momento foi minha intenção usar seus sentimentos, mas talvez tenha sido o que eu tinha feito. Esperava que ela conseguisse me perdoar. Porque ali, horas depois do acontecido, vendo Andi conversar animadamente com Larissa na sala, enquanto MJ falava distraída comigo na cozinha, eu vi que não queria perdê-la.

Eu não sabia o que sentia por ela. Talvez não fosse nada demais, apenas me sentisse cativada pela sua personalidade. Talvez fosse outra coisa, mas isso era algo que eu nem tinha capacidade para digerir no momento.

Quando ela me viu a encarando de longe, ela abriu um sorriso em minha direção e eu vi que tudo ia ficar bem. Nada precisava ser decidido naquele momento.

Notas da autora:

Nem tudo tem que ser tombo, não é mesmo?

Twitter: @izafanfiqueira

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