Enseñame

43. Dúo Dinámico

Com sorrisos tímidos se afastaram e decidiram que deveriam voltar, afinal ali não era o melhor lugar para explorarem aqueles sentimentos.

"Será que alguém viu a gente?" Emília olhou ao seu redor, preocupada.

"Não, estamos no estacionamento e está vazio nessa parte," Andi disse, se sentindo um pouco triste com a nova reação da mulher.

Como se percebesse o que havia causado, Emília prontamente levou suas mãos até o rosto de Andi, fazendo a mulher encará-la.

"Eu amei o beijo, Andi," falou, buscando os os olhos da outra para passar sua verdade. "E quero muitos outros sim," sorrisos bobos surgiram nos lábios das duas, "eu só me preocupei porque Sebas estava aqui e tudo já está tão complicado e..."

Andi não deixou que ela terminasse.

"Ei, você tá certa. Desculpa. Eu nem havia pensado nisso," falou.

"Não tem problema," Emília disse. Olhou rapidamente ao redor para garantir que ainda estavam a sós, e então roubou um selinho rápido da advogada.

Não é preciso nem dizer que Andi foi o restante da viagem até o apartamento, com o maior sorriso bobo estampado no rosto.

POV Emília

Fomos a viagem inteira até o prédio de MJ em um silêncio confortável. Assim que entramos na construção, eu me peguei me perguntando como agiríamos dali em diante. Não queria que Andi achasse que eu a estava escondendo, mas precisávamos conversar antes de qualquer coisa. Fiquei ansiosa.

Só estávamos eu e Andi na recepção esperando o elevador e eu me vi inquieta. Queria começar aquele assunto, mas não sabia qual a melhor maneira. Como se percebendo meu desconforto, assim que entramos no elevador e as portas se fecharem, Andi me empurrou delicadamente sobre a parede do mesmo. Fiquei estática. Suas mãos seguraram minha cintura e ela me sorria, leve. Linda.

A conversa que eu queria ter, de repente foi pro fundo da minha mente, e tudo o que eu pensava era naquele momento.

Levei minhas mãos até seu rosto, tirando alguns fios de cabelo que atrapalhavam a minha visão de seus olhos castanhos brilhantes. Era incrível a sensação de saber que aquele olhar era para mim.

"O que você está pensando?" ela perguntou, baixo, como se para não perturbar o momento.

"Que eu adoro o jeito que você me olha," respondi sem hesitar. De maneira instantânea, seu sorriso alargou. "E você?" perguntei enlaçando meus braços sobre seus ombros, ao redor de seu pescoço.

"Que eu não acredito que você está nos meus braços agora," ela riu, tímida e contente.

"Demorou?" perguntei, aproximando meu rosto do seu e acariciando seu nariz com a ponta do meu. Eu gostava de fazer isso. O cheiro dela era incrível e os gesto me fazia sentir perto dela.

"Muito," ela disse antes de tomar minha boca em um beijo.

Foi um beijo calmo e rápido, mas ainda assim intenso. Tudo seria assim com essa mulher?

Sem vontade, nos afastamos, afinal não podíamos continuar brincando com a nossa sorte. Mas sentindo falta do contato com Andi, eu busquei sua mão e segurei na minha o restante do curto percurso.

Estávamos completamente isoladas dentro daquela caixa de metal e, ainda assim, me senti livre como há muito não sentia.

Quando finalmente entramos no apartamento, encontramos MJ e Larissa rindo na sala como duas crianças. Meu coração aqueceu com a cena.

"Mamãe!" Larissa veio em minha direção assim que me viu e eu me abaixei para abraçá-la.

"Oi, bebê!"

Assim que ela se soltou de mim, virou instantâneamente para Andi e abriu seus braços. A advogada riu e se abaixou, assim como eu havia feito, para abraçar minha filha.

"E aí, mini Emília?" ela disse finalizando o abraço com um beijo no topo da cabeça.

"Eu e tia MJ estamos construindo um quebra-cabeça," Larissa disse animada.

Sem nem nos dar tempo de reagir, Larissa pegou minha mão e a de Andi e nos puxou até onde MJ estava na sala. A acompanhamos em meio a risada, porque sua animação era nada menos que contagiante.

"Calma, bebê," falei.

"Vocês tem que ajudar a gente!" Larissa disse, se escorando sobre a mesa de centro, onde um quebra-cabeça das princesas da Disney estava semi-montado.

"Que lindo," falou Andi se sentado no chão, ao lado de MJ e Larissa. "É seu?"

"Sim, tia MJ me deu. São as princesas!"

"Tem a minha princesa favorita e salvadora Mulan?" Andi continuou a conversa.

Eu me sentei ao lado de MJ, no chão também, e cumprimentei minha amiga com um abraço.

"Obrigada por cuidar dela e pelo presente também," agradeci.

"Você sabe que eu amo ficar com ela e essa manhã foi ótima. Não precisa agradecer," ela me disse.

Ficamos então caladas, apenas observando a interação das duas outras. Era incrível como Andi tinha jeito com crianças, ou ao menos, tinha muito jeito com Larissa.

"A minha favorita é a Ariel," ouvi Larissa dizer. Provavelmente respondendo a pergunta da Andi.

"Eu queria saber cantar como ela," a mulher respondeu, encaixando uma peça no lugar certo.

"Você canta lindo, Andi," minha filha falou, tentando encaixar uma peça que claramente estava no lugar errado.

"Por quê você não tenta com essa?" Andi disse, dando a peça que realmente encaixava onde Larissa estava tentando completar.

"Obrigada," ela respondeu.

"De nada. E sobre cantar, eu não canto tão bem, mas tudo bem, eu sou boa em outras coisas..."

"Que coisas?" Larissa perguntou.

"Eu como. Eu sei comer muito bem," Andi falou seriamente e aquilo fez minha filha encará-la e depois soltar uma risada alta.

"Eu sei comer muito bem também," foi sua resposta.

Eu estava olhando para aquela cena, encantada. Percebi um movimento ao meu lado e me virei em direção a MJ, que tinha um olhar curioso sobre mim. Tentei disfarçar minha timidez, mas acho que acabei me entregando mais ainda.

"É bom te ver sorrindo assim," foi só o que ela disse, antes de voltar sua atenção para a dupla dinâmica.

Naquele momento, apesar do turbilhão que estava a minha vida, no meu peito eu sentia gratidão. Pela filha que tinha, pela amiga que a vida havia me concedido e pela mulher que se encontrava ao meu lado. Não sabia exatamente o que tinha feito para atrair os olhares, o interesse e a cumplicidade de uma mulher como Andi, mas seja lá o que quer que fosse, a única certeza que tinha era que eu queria continuar fazendo. Os meus olhares não estavam apenas nas coisas que ela fazia, estavam nela. Toda. Inteira. Desde o coque despretensioso e bagunçado até o seu senso de justiça e cabeça avoada.

Eu não sei o que o futuro reservava para mim, mas naquele momento, me senti contente. Completa.